Estava escrito e era da vontade de Salim Miguel retornar ao Estado que o acolheu e que ele tanto amou. As cinzas do escritor, morto aos 92 anos no último dia 22 de abril, serão trazidas de Brasília para Florianópolis amanhã, quando amigos e familiares farão uma homenagem no Museu da Escola Catarinense, Centro da Capital. A cerimônia está marcada para às 16h30.
Continua depois da publicidade
Assista – Homenagem do DC a Salim Miguel:
Homenagem ao jornalista e escritor Salim Miguel
– Laudelino José Sardá, 67 anos, amigo desde os anos 1970
Continua depois da publicidade
¿O Salim retornou do Rio de Janeiro em meados dos anos 1970. Eu era redator-chefe do jornal O Estado. E tudo o que eu precisava de literatura eu chamava o Salim. Ele foi fantástico para a difusão e promoção da literatura e cultura catarinense. Tem um aspecto singular, que ele contou em Nur na Escuridão e sempre repetia: era a história de um empregado do pai dele que havia roubado dinheiro e por essa razão a família não pode ir para os Estados Unidos, que era a ideia inicial, e veio para o Brasil. Ele costumava dizer: ¿graças ao ladrão do empregado viemos para o Brasil.¿
Carlos Schroeder: os livros recém-lançados da América Latina, Europa e EUA
Lembro de uma vez em que estava trabalhando no fechamento do jornal e, às 21h, chega pelo telex a informação de que um poeta grego tinha acabado de receber o Prêmio Nobel de literatura. Ninguém tinha ouvido falar do escritor. Liguei então para o Salim e ele citou três obras do autor. No final, pedi a ele que escrevesse uma lauda e no dia seguinte tivemos a melhor cobertura do Prêmio Nobel em todo o Brasil.¿
O poeta era Odysséas Elýtis (1911-1996)
– Deonísio da Silva, 67 anos, escritor, amigos desde o final dos anos 1970
“Tenho algumas revelações a fazer sobre o Salim:
Numa certa feira do livro em Porto Alegre, nos anos 1980, ficamos conversando eu e Salim depois dos autógrafos. Restamos nós dois apenas no restaurante Treviso. Voltamos para o hotel, já depois de alguns tragos, e no dia seguinte nos avisaram que o restaurante Treviso não existia mais há anos.
Continua depois da publicidade
Como foi a iniciação de Salim Miguel no jornalismo e na literatura
Fiquei deslumbrado com Nur na Escuridão. É a melhor obra de expressão da cultura árabe no Brasil. Ele estava concorrendo ao Prêmio Passo Fundo de Literatura e briguei muito pela indicação dele, como jurado. O júri achava que a obra Meu Querido Canibal, de Antônio Torres, também merecia. E eu concordava, no final os dois empataram.¿
– Tercio da Gama, 82 anos, artista plástico. Amigo há décadas, ilustrou muitos contos de Salim Miguel
¿Fui o maior ilustrador de livros dele. Convivemos muito. Tínhamos aqui um grupo de intelectuais e de 15 em 15 dias nos reuníamos para discutir literatura, artes, cinema, história em quadrinho. Éramos um grupo muito eclético. Ele foi um sujeito de muita simplicidade. Nunca quis fazer parte da ACL (Academia Catarinense de Letras).
Continua depois da publicidade
No dia-a-dia com a gente ele era bem humorado, gostava de contar piada. Teve o dia que ilustrei o primeiro conto dele. E depois ele só pedia a mim. Era fácil ilustrar o que ele queria. Em 2012 lançou um livro de contos surrealistas – foi a primeira incursão dele por esse gênero. E aí foi difícil. Eram coisas muito loucas, foi difícil captar toda aquela imaginação fértil dele. Eram contos complicados.¿
O livro chama-se Fantasia e (é) realidade (Editora Unisul, 2012).
– Dennis Radünz, 45 anos, escritor e editor
¿O meu diálogo com Salim começou nos anos 90, mais precisamente no almoço de homenagem a José Saramago, em Santo Antônio de Lisboa, em 1999. Depois, editei dois trabalhos que ele coordenou – a edição especial da revista Sul e o livro de contos 13 Cascaes – e a nossa conversa ficou pessoal, espontânea e divertida. Mas o que fica de Salim são os seus olhos de ¿guri¿, quando, por exemplo, andávamos pela Rua Padre Miguelinho e ele me contava que seu pai, o quitandeiro Yose, se espantava muito com os ¿arranha-céus¿ que surgiam na Ilha, nos anos 50, na verdade prédios de 8 andares! Salim ria.
Viviane Bevilacqua: quem era Salim Miguel
Esse mesmo espanto diante do mundo revi na Academia Brasileira de Letras, em 23 de julho de 2009, quando Eglê leu o discurso dele de agradecimento pelo Prêmio Machado de Assis e que falava do pai, da infância e da adolescência. Para mim, Salim nunca deixou de ser o menino de Kfarsourum e de Biguaçu, mas os prédios cresceram em excesso e, enquanto isso, Salim Miguel ficou muito maior, descomunal, até. Como ele disse lá no Petit Trianon: maktub (já estava escrito)¿.
Continua depois da publicidade
– Fábio Bruggemann, 54 anos, escritor
¿Apesar da diferença grande de idade, e de pertencermos a gerações distintas, sempre tivemos uma relação muito profícua. Salim era muito jovem neste aspecto, estava sempre em contato com escritores e artistas emergentes. Tivemos, além da amizade, vários projetos comuns. Publiquei três livros dele, pela Letras Contemporâneas, um deles dedicado a mim, a novela As confissões prematuras. Por fim, escrevi e dirigi um documentário, produzido pela Vinil Filmes, chamado Viagens a Biguaçu, exibido na RBS TV, no extinto programa Santa Catarina em Cena. Salim é um dos intelectuais mais importantes do país. Digo é, porque sua obra está aí pra quem quiser conhecer.¿
– Zeca Nunes Pires, 54 anos, cineasta, autor de documentário sobre Salim
“Salim me apresentou o que era simples e importante para a vida: amor, amigos, livros, arte, intuição, dedicação e estudo. Ele me mostrou que o cinema era possível mesmo em Santa Catarina e me revelou o humanismo como uma das melhores formas de encarar a vida. Sem nenhum sentimento de retribuição ou comparação, Salim Miguel fez o que meu pai, seu grande amigo, tentou praticar em outrora.
Sobre o cinema também me disse: ¿Chega um dia em que as salas escuras não bastam. Há necessidade da pessoa que se interessa por cinema se experimentar, fazer também suas tentativas¿. E ainda arrematou: ¿uma coisa curiosa é que eu percebo nitidamente que há uma influência do cinema na minha literatura, mas os meus livros não são facilmente, nem sei se serão adaptáveis para o cinema, embora a influência do cinema seja visível na questão visual, eu procuro muito além do psicólogo e social que tem na minha obra, ou que pelo menos eu imagino que tenha, há também o visual, há também cenas onde a pessoa estivesse mais vendo do que simplesmente percebendo aquilo que eu estou dizendo¿. Eu, meu pai e toda legião de amigos agradecem: obrigado Salim Miguel! Maktub!
Continua depois da publicidade
Agende-se
O quê: homenagem a Salim Miguel (1924 – 2016)
Quando: amanhã, das 16h30 às 19h
Onde: Museu da Escola Catarinense (Rua Saldanha Marinho , 196, Centro, Florianópolis)
Quanto: gratuito
Informações: (48) 3225-8658