No verão do ano passado, o termômetro na área de teares da fábrica Cajadan marcou 45°C. Durante quase 20 anos, os trabalhadores produziram meias de algodão sob a cobertura de telhas de amianto.

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Diante das reclamações, em janeiro deste ano a empresa investiu R$ 12 mil e colocou manta térmica em toda a cobertura fabril, de 600 m². A decisão foi tomada antes da chegada do forte calor, mas acabou se tornando determinante para o negócio nos dias mais quentes.

– Sem a manta, seríamos obrigados a interromper a produção – diz a vice-presidente da empresa, Dinorá Nass Allage, que fez nova medição em 2014. Agora, o termômetro convencional indicou 41° C no interior da fábrica.

Há dois anos na empresa têxtil, a líder de embalagem Francine Linhares, de 25 anos, aprovou a decisão.

– Com a manta, está melhor para trabalhar – afirma.

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A exemplo de outras companhias, a têxtil permite que os funcionários saiam da produção por alguns minutos para se hidratar com gelatina diluída em água e também distribui picolés.

A Cajadan foi uma das empresas consultadas pela Associação Empresarial de Joinville (Acij), a pedido de Negócios & Cia., sobre as condições de trabalho nos dias de calor excessivo.

As principais medidas relatadas foram a intensificação da hidratação e a instalação de exaustores e ventiladores extras. Nas construções mais novas, como o Perini Business Park, o prédio possui isolamento térmico.

Entre as empresas que responderam a pesquisa, a Lepper, uma das grandes têxteis da cidade, foi a única que deixou de cobrar metas de produção das 14 às 17 horas nos dias de calor excessivo. A empresa também transferiu 20 operadores de máquinas e auxiliares de produção para o turno das 22 às 5 horas, e aumentou em 15 minutos o intervalo de lanche.

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Produção climatizada

Especializada em moldes e matrizes para injeção de alumínio e usinagem de peças técnicas, a JN Ferramentaria vive uma situação diferenciada. Em 2002, investiu na climatização de 2,7 mil metros quadrados de área fabril e, desde então, colhe os frutos.

De acordo com o diretor-geral, Jair Bonatti, a mudança teve impacto positivo na produtividade, na qualidade do produto e na satisfação dos funcionários. Em 2012, o turnover na empresa foi de 1,3%.

No setor produtivo, restam 600 m² sem ar condicionado, devido à presença de fornos e injetoras de alumínio. Ali, a empresa disponibiliza refresqueira com soro para reidratação e possui sistema de ventilação e exaustão.

Calor fora da lei

Existe uma legislação específica que trata dos limites de tolerância à exposição ao calor. Embora especialistas a considerem defasada por estar em vigor desde os anos de 1970 e não considerar a temperatura ambiente, apenas a do local do trabalho, a NR 15 Anexo 3 é a referência para guiar a conduta das empresas na situação atual.

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O técnico em segurança do trabalho Luiz Fernando Villain explica que, pela lei, o trabalhador só pode realizar uma atividade pesada, de modo contínuo, sob temperatura de até 25°C naquele local.

Mas esses 25°C são um índice alcançado por meio de uma medição técnica que leva em conta vários fatores. No final, o resultado não é igual ao de um termômetro comum. É mais baixo.

Grosseiramente, o termômetro comum marcaria algo em torno de 32°C nesse caso. Se houver paradas para descanso, a tolerância é um pouco maior. No entanto, nenhuma atividade pode ser realizada sem a adoção de medidas de controle de calor quando a temperatura técnica ultrapassar os 32,2°C no ambiente de trabalho (perto de 40°C na medição comum).

– Toda empresa que deixa de adotar medidas adequadas de controle do calor não poderia realizar suas atividades quando a temperatura estiver acima dos limites de tolerância previstos. Assim, teríamos a proibição de trabalho na grande maioria da indústria e comércio, além de todas as atividades realizadas ao ar livre – diz Roberto Lodetti, chefe do setor de segurança e saúde do trabalhador da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Santa Catarina (SRTE-SC).

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Lodetti diz, ainda, que a maioria das empresas no Estado tem pavilhão industrial, sem ar-condicionado, e não realiza o controle adequado de temperatura nos picos de verão – fica só na análise térmica do ambiente. E também não há fiscalização específica para este fim por parte do Ministério do Trabalho.

– Hoje não temos pessoal suficiente para fazer uma fiscalizaçao só em relação a isso. Quando o fiscal constata o calor intenso durante a fiscalização rotineira, as empresas são notificadas. No início de fevereiro, dez empresas foram notificadas no Estado para fazer adequações. Se o ventilador não for suficiente, é preciso investir em manta térmica e outras alternativas – afirma Lodetti.

Calor intenso gera casos de mal-estar dentro das fábricas