O filho informou em casa:

– Minha namorada vai dormir aqui.

A mãe começou com o interrogatório:

– Aqui onde? Na sala? No sofá? Na cama? No teu quarto, enquanto tu ficas em outro lugar?

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– Não, no meu quarto, comigo. Por quê? Tá com medo do que a gente vai fazer? – intimou.

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– Não – respondeu prontamente – Só para saber da organização da casa – desviou.

Se para eles é a primeira vez no sexo, talvez para você, pai de adolescente, também seja sua estreia no enfrentamento desse tipo de situação. Para ajudar a entender a sexualidade desta geração, a reportagem do Grupo RBS conversou com cinco estudantes do Ensino Médio de uma escola particular de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, com idades entre 15 e 17 anos, e três mães dos mesmos.

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Algumas características do perfil desta gurizada – já comprovadas em pesquisas sobre a sexualidade na adolescência – têm chamado atenção: primeiro, eles estão transando mais cedo. A maioria perde a virgindade aos 14, 15 anos. Outra constatação é que eles estão “ficando” mais do que namorando – a minoria aposta num relacionamento sério. E, quando assumem um compromisso, as meninas traem na mesma proporção que os meninos. Para elas, nem sempre a primeira vez precisa ter sentimento. Já para eles, conta a pressão do grupo. Ter a primeira relação sexual com uma prostituta, segundo os garotos, está fora de cogitação.

Agora, o alívio: eles estão falando mais. Então, independentemente do quão diferente tenha sido na sua época, hoje os adolescentes têm menos vergonha de conversar sobre relacionamento, segundo a maior parte do grupo. Clara*, 16 anos, pediu à mãe que marcasse horário no ginecologista e ainda quis que ela permanecesse junto na consulta. Porém, esse tipo de comportamento ocorre apenas se já é comum a conversa aberta na família:

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– O filho não vai puxar o assunto se não tem algum tipo de diálogo com os pais. Porque embora os adolescentes tenham uma tendência a se afastar da família em busca de independência, é necessário que os pais busquem uma aproximação para não perder o laço afetivo – ensina a doutoranda em psicologia do desenvolvimento Greicy Boness de Araujo.

– Geralmente, os meninos se abrem mais com os pais e as meninas, com as mães – diz a psicóloga Juliana Garcia.

Douglas*, 17 anos, encomendou as alianças de namoro, avisou o pai e disse “conta pra mãe”. Já Dora*, 17 anos, comenta que relata os detalhes dos novos “ficantes” para a mãe:

– Ela é minha amiga e confia em mim.

Confiança, aliás, é a chave para quem quer compartilhar dos “segredos” dos filhos.

– A gente tenta passar o maior conhecimento possível. Mas quando chega nessa fase, temos medo de que nossa educação não tenha sido suficiente. Daí, eles vão nos provando aos poucos que todo aquele esforço adiantou, tomando atitudes responsáveis – diz Marisa*, mãe de dois garotos.

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Porém, cuidado: os pais podem ser amigos, mas têm de continuar a serem pais – com toda autoridade que a posição demanda.

– Às vezes, na ânsia de mostrar que compreendem os filhos, os pais acabam se perdendo nos limites e liberando tudo – salienta a doutora em psicologia Lina Wainberg.

É o caso da bebida alcoólica: a turma revela que em quase todas as reuniões nas casas de amigos há álcool. Quem compra? Os amigos mais velhos e – pasme – os pais. O contato com a bebida entra na mesma época em que os adolescentes começam a sair, a viajar – e transar. Os profissionais entrevistados observam que a primeira relação sexual passou da idade média dos 16 anos para 14, 15. Janaína*, 15 anos, confirma:

– Nessa idade, o pessoal começa a ir para a noite, tem as viagens de escola…

– Muita gente têm a sensação: “vou aproveitar a vida e que se exploda o resto” – diz Carla*, 16 anos.

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E é neste contexto que entra o sexo sem proteção.

– Tenho notado que as meninas, principalmente, tiveram um salto na precocidade. De forma geral, há uma banalização sobre o sexo, onde tudo é fácil e rápido – explica a coordenadora pedagógica de uma escola de Porto Alegre, Rafaella Perrone Tubino.

*Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos adolescentes

Os garotos estão mais assustados

O velho drama das mocinhas acabou. Basta de ficarem em casa chorando pelas traições masculinas, pelo canalha que nunca liga e “pega” várias na noite. Parte delas está fazendo a mesma coisa. E, eles, como ficam? Assustados. Essa é a opinião da doutora em psicologia Lina Wainberg.

Segundo Lina, a próxima crise dessa geração pode ser a da intimidade. As pessoas se comunicam, falam sobre qualquer assunto, se beijam, transam, mas não conseguem ter intimidade – até porque isto exige abrir mão de uma série de atitudes que, numa regra geral, os adolescentes não estão nem um pouco interessados.

Os motivos são vários. Para começar, a digitalização. Com a internet, a capacidade de se comunicar pessoalmente poderia estar se perdendo. A falta de segurança também faz com que as pessoas saiam menos às ruas. E ainda há uma questão de gerações.

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As avós das adolescentes atuais eram feministas e passaram a mensagem para as mães de que “não se pode depender de homem”. As mães, por sua vez, carregaram parte da ideologia e viraram as “mulheres-polvo”, com mil funções a serem desempenhadas ao mesmo tempo: ser bem sucedida na carreira, cuidar da casa, da família e, ainda, não descuidar da beleza.

O resultado são adolescentes sem consciência sobre o tempo que uma relação requer para se tornar íntima. E os sintomas dessa crise podem ser uma sensação de esvaziamento, ansiedade, depressão e relações frágeis.

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