Mística Pereira continuava saudável e lúcida. Lembrava-se de histórias da infância dos filhos com mais clareza do que eles próprios. Aos 114 anos, é motivo de muito orgulho. Mas há duas semanas os sentidos começaram a fraquejar. As falas sem sentido entre si e a impressão de que algo não ia bem com uma das mulheres mais velhas de Blumenau chegaram com mais força à mente dos seis dos 12 filhos de Mística que continuam vivos. Às 16h30min dessa quinta-feira, Mística foi vencida por um coração descompassado e partiu.
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Mística nasceu em Luís Alves e estampava no documento de identidade o ano de 1901 como nascimento. A filha Iolanda Felisbino, que morava com a mãe e cuidou dela nos últimos seis anos, conta que, apesar de não andar mais, a mãe levava uma vida normal. Gostava de assistir a televisão, receber visitas e conversar. Conversas no quarto de dormir ou na mesa de café. Conversas que faziam todos se encantarem. Conversas que Iolanda já começou a sentir falta nesta sexta-feira, ao retornar para casa depois do sepultamento no Cemitério da Rua João Pessoa.
– Quando a mãe da gente morre é um pedaço da gente que vai embora – sentencia.
Mística foi destaque nas páginas do Santa quando completou 113 anos. Se a precisão não era uma marca dos registros de nascimento no início do século 20, na identidade e no coração da família Mística faria 115 anos no final do ano, e isso sempre foi o que importou. O que faz alguém conseguir chegar tão longe? Para Iolanda, o elixir da vida longa de Mística era bem peculiar: polenta, linguiça, pirão e todo o cardápio da mãe. Um terror para qualquer nutricionista, mas uma viagem no tempo para Mística e para os filhos. Passagem direta para os tempos em que a família tirava da agricultura o sustento.
Mística ainda trabalhou como servente na escola Tiradentes. Morou no bairro Velho e estava em Blumenau há mais de oito décadas. A dedicação aos filhos é uma das marcas que os familiares pretendem eternizar na memória. Os ensinamentos, esses já estão presentes na vida de filhos e netos desde que buscavam guarida no colo de Mística.
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– Tudo que ela me ensinou eu passei pros meus filhos. Sempre ser honesto com todo mundo, nunca pegar nada sem pedir, saber que era melhor ouvir um não do que fazer algo errado. Sempre seguir o caminho do bem, foi o que ela sempre me ensinou – encerra Iolanda.