Prestes a começar a cerimônia do casamento coletivo em Santana do Livramento, um dos casais chegou ao fórum no típico estilo gaúcho: ela de charrete e ele, de cavalo. A dona de casa Kelly dos Santos, 30 anos, estava vestida e noiva, enquanto o apicultor Fabio Correa Charão, 30 anos, estava pilchado. Eles preservaram o estilo que haviam definido para o casamento no CTG da cidade, que foi transferido para o fórum.

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Autoridades viajaram a Santana do Livramento para acompanhar a cerimônia de casamento coletivo que resultou em polêmica nacional ao prever a união de um casal gay, entre outros heterossexuais, em um Centro de Tradições Gaúchas (CTG). O evento, previsto para as 16h, foi transferido para o fórum da cidade – com direito a decoração com cores da bandeira gaúcha e do movimento gay – depois de um incêndio consumir cerca de 40% da estrutura do CTG.

O presidente o Tribunal de Justiça, José Aquino Flôres de Camargo, fez questão de visitar o local do atentado – onde se organizou um mutirão popular para a reconstrução. O magistrado defendeu a postura da juíza Carine Labres, que havia determinado inicialmente a realização do casamento no centro de tradições. Ela foi criticada por insistir na medida apesar da contrariedade de tradicionalistas, e por circular empunhando a tradicional bandeira gay multicolorida.

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– Não vejo nada de censurável na conduta dela. O fato de segurar a bandeira tem o significado de uma expressão pessoal, a qual deve ser respeitada – afirmou Camargo.

Apesar disso, o desembargador considerou “adequada” a decisão de transferir o evento para o fórum.

– Jamais se pode ter a ideia de que o Judiciário está afrontando a sociedade – declarou.

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A secretária de Justiça e Direitos Humanos do governo estadual, Juçara Dutra Vieira, acompanhará o evento representando o governador Tarso Genro. Na manhã deste sábado, já em Livramento, ela lamentou o ataque cometido contra o CTG.

– É um episódio lamentável de violência física e simbólica, mas que, de alguma forma, serviu para mobilizar a sociedade – declarou Juçara.

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A ministra da da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ideli Salvatti, também deve assistir à cerimônia. No salão do júri do fórum, o cenário foi montado com uma decoração tipicamente gauchesca: cores da bandeira do Estado, bancos de madeira com pelegos, chaleiras, palas e cuias. Sobre uma bancada, também foi disposta a bandeira do movimento gay.

Além das autoridades, figuras como José Cattaneo, 54 anos, mais conhecido como Capitão Gay, também se deslocaram a Livramento para ajudar na reconstrução do CTG e assistir ao casamento coletivo. Cattaneo se tornou célebre após tentar participar do desfile farroupilha em Porto Alegre, em 2002, e ser expulso da avenida a golpes de relho dados por tradicionalistas.

– Isso é coisa dessa horda do MTG, que pratica uma doutrina homofóbica e preconceituosa – lamentou, enquanto trabalhava ajudando a carregar brita, areia e tijolos.

No CTG em reconstrução, o clima entre os voluntários que tentam recuperar os danos deixados pelo fogo era de frustração com a mudança da cerimônia para outro local.

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– Aguentamos vandalismo, críticas e ofensas, mas a juíza resolveu transferir o casamento – lamentou o funcionário público aposentado Renato Lopes, 67 anos.

Lopes e outros voluntários se prontificaram a restaurar o centro de tradições a tempo de permitir a realização do evento. Como não será mais possível, trabalham agora para recuperá-lo para os festejos farroupilhas de 20 de Setembro.

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