Em menos de duas horas restavam pelo acostamento algumas centenas das 30 mil garrafas de refrigerante que tombaram em acidente na BR-470 segunda-feira. Houve quem buscasse refrigerantes de carrinho de mão, enchesse Fiorino e até um carro de prefeitura com litros de bebida.
Continua depois da publicidade
Das embalagens que custam pouco mais de R$ 3 nos supermercados, ficaram no chão somente as garrafas que arrebentaram na colisão frontal entre um caminhão e um Sandero. O motorista do carro, Laércio Bompani, 46 anos, morreu e ainda estava preso às ferragens quando moradores do entorno e pessoas que passavam pela rodovia começaram a tomar para si as embalagens do chão.
>>> Vídeo mostra ocupantes de carro da prefeitura de Camboriú com produtos saqueados na BR-470
A imagem chocante é uma amostra do que acontece ao menos uma vez por mês na rodovia, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Dezenas de pessoas cometem furtos coletivos sem se dar conta do crime ou do desrespeito às vítimas. A professora do Departamento de Psicologia da Furb e doutora em Psicologia Social Catarina Gewehr, explica que este comportamento é resultado da imitação de ações, ignorando a consequência:
– É o Maria vai com as outras. E como o texto da lei não consegue inibir, escorregamos para a situação não permitida pela lei, porque não punição.
Continua depois da publicidade
Foi essa reação quase impensada de imitar que motivou cerca de cem pessoas no saque à carga do caminhão segunda-feira em Gaspar. Uma senhora de 56 anos, moradora próxima do local do acidente chegou a dizer que sentia muito pela vítima, depois de já ter levado algumas garrafas de refrigerante que estavam no caminhão tombado para casa.
Outra dona de casa de 41 anos que vinha de São João Batista para Blumenau chegou ao ponto de pedir ajuda para recolher o material. Depois de acumular cerca de 30 garrafas ela ligou para o marido vir de Blumenau buscar de carro mais garrafas. Outros carregaram de carrinho de mão os refrigerantes.
Acionado para remover o veículo tombado, o proprietário do caminhão guincho Robson Tomazini, 49, chegou ao km 40 da rodovia cerca de meia hora depois do acidente. Encontrou a carreta com os rodados para o alto, atravessada nas duas pistas e dois agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) pedindo a quem recolhia refrigerante aos fardos sob a carroceria que saísse da pista para que o caminhão fosse retirado.
– As pessoas perderam o respeito. Ninguém mais pensa em ninguém – avalia Tomazini.
O agente da PRF Daniel Veloso calcula que mais de 100 pessoas pararam, pegaram as garrafas da pista e seguiam. O proprietário da mercadoria não liberou para que a população juntasse o material, segundo o inspetor da PRF Claudir Beninca. Ele explica que acidentes com tombamentos e saques (ou tentativas) ocorrem pelo menos uma vez ao mês na área do Posto de Blumenau da PRF na BR-470.
Continua depois da publicidade
Saque pode dar oito anos de cadeia
O chefe da Central de Polícia de Blumenau, Bruno Effori, explica que as pessoas só podem levar cargas do local com consentimento prévio e sem uso de violência.
– É furto se não houver autorização e a penalidade aplicada pode ser de até dois a oito anos de reclusão, pela característica de multidão do saque.
O inspetor da PRF Claudir Beninca explica que os agentes registram um boletim de ocorrência e encaminham vídeos e imagens do saques para a Polícia Civil. (Colaborou Victor Pereira)