Navegador e conhecedor do mundo, Klink ficou nove meses preso na neve da Antarctica com o próprio barco. Ao chegar em Florianópolis, lamenta poder estacionar em milhares ilhas do mundo, exceto a nossa. Em entrevista, fala sobre como o potencial náutico da nossa cidade pode ser explorado:

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Diário Catarinense-Quais são as principais dificuldades que você vê na hora de investir no potencial náutico de Florianópolis?

Amyr Klink-O principal é a dificuldade cultural, porque a gente perdeu essa conexão natural com o mar, pelo fato das pessoas da cidade não fazerem uso dele e não terem contato nas condições técnicas adequadas. As pessoas simplesmente ignoram e começam a se preocupar com o asfalto na pista e o lugar para parar o carro, sem se dar conta que estamos demorando mais de uma hora dentro de um carro e num barco levaríamos 10 ou 15 minutos. É uma dificuldade cultural. Aí aparece o papel da imprensa em mostrar soluções equivalentes em outras áreas e mostrar o que outras cidades fizeram. Divulgar o privilégio de quem tem o mar como recurso.

DC-Parati é um exemplo que você traz muito, onde você tem a sua marina. O que poderia ser trazido de exemplo pra Florianópolis?

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Klink- Parati não desenvolveu um sistema de transporte marítimo por uma razão muito simples: a cidade está esparramada em volta de uma baía e isso aconteceu naturalmente. E lá a natureza foi tão generosa que a maior parte das baías são atracadores naturais, não é o caso de Florianópolis. Então hoje o transporte entre pontos da baía acontece com uma facilidade natural, mas ainda sim não é tecnicamente o correto. Pra montar um negócio de turismo e transporte eu teria que ter terminais tecnicamente desenhados para permitirem que não haja poluição e acidentes, que o cadeirante possa embarcar e o pescador possa ter acesso a água e gelo. Isso poderia ser feito tranquilamente por aqui.

DC- A legislação brasileira precisa ser modificada para que o potencial seja mais facilmente liberado?

Klink- Nós temos excesso de legislação. A gente tem uma visão também pasteurizada e que acha que uma regra vale para todo o litoral, mas não dá pra aplicar o mesmo para todos os lugares. A lei não distingue as particularidades regionais: tem lugar que dá pra fazer um trapiche de 200 metros, em outros é muito pouco, em outros é exageradamente demais. Eu acho que precisava de um trabalho conjunto entre o usuário e os órgãos primeiro de informação técnica mostrando o benefício primeiro ambiental, depois social, e depois econômico. E como eu disse, infelizmente, em Parati todas as intervenções marítimas ou náuticas estavam sempre a reboque de um empreendimento imobiliário. Por isso, o cuidado com a eficiência é muito baixo.

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DC- Por onde Florianópolis deveria começar?

Klink-Acho que devemos começar olhando pra baía, não estamos fazendo isso. Fomentar todas as atividades que sejam autenticamente náuticas. Um empreendimento imobiliário com uma garagenzinha náutica? Não. Agora um conjunto de empreendimentos náuticos, trapiche com guarda de embarcações, é mais interessante. É uma vergonha um grupo parar aqui e não tem onde encostar o barco.