A rodoviária Rita Maria em Florianópolis, local de chegadas, partidas, encontros, reencontros e despedidas, recebeu um abraço multicultural nesta quarta-feira. De mãos dadas, senegaleses, haitianos, brasileiros, guineenses e pessoas de outras nacionalidades abraçaram o local, que em breve será sede do Centro de Referência e Acolhimento de Imigrantes e Refugiados de Santa Catarina (Crai).
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Nesta quinta-feira, a Ação Social Arquidiocesana, por meio Pastoral do Migrante, assina o contrato com o Governo do Estado para implantar o Crai. A entidade foi selecionada por meio de licitação.
Imigrantes são diplomados em curso de língua portuguesa em Florianópolis
Atualmente, a Pastoral atende de forma voluntária os imigrantes em um pequena sala nos fundos da igreja na subida do Morro do Mocotó, porém sem espaço adequado e poucos funcionários. A nova estrutura vai oferecer um pouco mais de conforto para aqueles que chegam a Santa Catarina em busca de uma vida mais digna, pessoas que por diferente motivos – guerra civil, catástrofes naturais – deixaram seus países e famílias para trás.
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Com verba de R$ 700 mil para dois anos, o Crai vai estruturar o trabalho em quatro áreas principais: demandas jurídicas, como regularização de documentos e solicitação de refúgio; área de integração, que vai ajudar na capacitação profissional, curso de português; assistência social, buscando as soluções mais emergenciais; e assistência psicológica, buscando auxiliar na recuperação de imigrantes e refugiados que, em muitos casos, têm grandes traumas pelas situações que passaram até chegar aqui.
Palhoça é a cidade mais procurada por imigrantes haitianos na Grande Florianópolis
Para o padre Joaquim Roque Filippin, coordenador da Pastoral do Migrante, a implantação do Crai é uma grande conquista conjunta de pessoas e grupos que trabalham em prol dos imigrantes. Ele recorda que em 2015, Santa Catarina foi estado do Brasil que mais empregou haitianos.
— A lei migratória é muito dura e antiga. O imigrante é um cidadão irmão, que passou por muitos processos dolorosos. A integração tem que acontecer entre o povo que vem de muitas partes do mundo e quem está aqui. Se olharmos para os nosso sobrenomes, vamos ver que tem gerações vindas de todos os lugares do mundo para o Brasil — resume o padre, que vai coordenar a implantação do Crai.
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Histórias de recomeço

O senegalês Moussa Tayne, 44 anos, chegou no Brasil há dois anos em busca de uma vida melhor. Passou pelo Acre, São Paulo e Paraná até chegar em SC há quatro meses, e ainda batalha para conseguir validar seus diplomas e poder dar aulas de francês e inglês:
— Consegui aprender português aqui no Brasil e hoje ajudo outras pessoas que chegam. Acho muito importante esse projeto, sabemos que o país não estava preparado para receber tanta gente, mas felizmente em todos os lugares do país tem pessoas com bom coração que querem ajudar.
Atuando como tradutor voluntário há dois anos e meio no Brasil, o seminarista Jean Wester, do Haiti, escuta diariamente histórias dos haitianos que vieram para o país em busca de uma vida melhor depois do terremoto que assolou o país:
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— Faço a tradução para as psicólogas e são histórias muito tristes, de pessoas que perderam a família, que vem buscar uma vida melhor e às vezes não conseguem. Muitos têm vergonha porque no Haiti tinham um nível social melhor, mas também não conseguem voltar.
A antropóloga da Pastoral, Tamajara Silva, explica que o ¿boom¿ de imigrantes em SC foi em 2014 com os haitianos, quando a entidade chegou a atender cerca de 100 pessoas por dia. Atualmente tem aumentado o número de refugiados da Síria e africanos:
— O perfil de atendimento vai se renovando, mas trabalhamos com pessoas de 35 nacionalidades. Nosso trabalho é ajudar estas pessoas a alcançar a cidadania. O maior desafio hoje é a questão do emprego.
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Tamajara destaca que o preconceito ainda é grande, porém a teoria de que os imigrantes estariam tirando emprego dos brasileiros não procede:
— Vemos muitas pessoas com formação superior que não conseguem emprego, ou ganham tão pouco que não conseguem enviar o dinheiro para suas famílias.