Como previsto, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) fechou 2017 abaixo do piso da meta, em 2,95%, um feito histórico. Em linhas gerais, a avaliação é de que a queda dos preços dos alimentos, reflexo de uma super safra no campo, levou a esse resultado. Nas ruas, nas casas, nas conversas no trabalho, no entanto, a conversa foi outra: nas minhas contas, não parece que os preços diminuíram.
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Essa percepção não deixa de estar errada. As famílias sentem de maneira diferente a oscilação dos preços, de acordo com hábitos individuais de consumo e até da região do país em que se encontram. Para um consumidor ou uma empresa que depende fortemente de gasto com energia ou combustíveis – dois itens que tiveram uma grande variação no ano passado – certamente a percepção na variação dos preços será diferente.
O Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) realiza pesquisas para mensurar o impacto da inflação para cada grupo socioeconômico. Em dezembro do ano passado, por exemplo, o indicador do órgão de Inflação por Faixa de Renda registrou 0,33% de inflação nas famílias de renda mais baixa, enquanto para a parcela mais rica da população o resultado foi de 0,45%.
De acordo com o IPEA, a desaceleração da inflação em 2017 ocorreu em todas as faixas de renda, mas com mais intensidade nas camadas mais pobres. No último mês do ano, entre as famílias de renda mais baixa, o alívio veio principalmente do preço da energia elétrica, que teve deflação de 3,1%.
O preço dos alimentos, no entanto, que foi um mocinho durante todo o ano passado, se comportou de maneira diferente no último mês de 2017. O aumento do grupo contribuiu com 0,13 pontos percentuais para a inflação das famílias de renda muito baixa, taxa superior às das famílias de renda alta, de 0,09 pontos percentuais. Isso ocorre porque a alimentação acaba tendo um peso superior na composição de preços daqueles que ganham menos.
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Por outro lado, o grupo dos transportes foi o que mais pressionou o custo de vida tanto para as famílias de renda muito baixa (0,20 pontos percentuais), quanto para as de renda alta (0,26 pontos percentuais). Nas classes mais abastadas, a alta de preços de passagens aéreas (22,3%) e gasolina (2,3%) tiveram impacto significativo no resultado.
Em geral, a inflação mais baixa em 2017 para as famílias mais carentes ocorreu especialmente devido à variação negativa dos preços de alimentos como arroz (-10,9%), feijão (-46,1%), frango (-8,7%) e leite (-8,4%). Itens que também pesaram menos no bolso dos mais pobres foram alguns serviços. Entre 2016 e 2017, a inflação dos aluguéis recuou de 5,3% para 1,5%. No mesmo período, houve queda nos preços das tarifas de transporte, como ônibus urbano (de 9,3% para 4%), trem (de 8,5% para 2,5%) e metrô (de 9,1% para 1,3%).
Depois de uma alta de 7,01% em 2016, a inflação das famílias de renda muito baixa teve variação de 2,16% em 2017. Por sua vez, os consumidores de renda alta tiveram uma queda um pouco menos expressiva (de 2,5 pontos percentuais), passando de 6,2% para 3,7% entre 2016 e 2017.
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