O vento que sopra nas águas calmas da Baía Norte, em Florianópolis, é o mesmo que embala o sonho de duas jovens velejadoras manezinhas. As irmãs Isabela, de 15 anos, e Sofia Rocha de Faria, de 11 anos, navegam de vento em popa nas raias das principais competições infanto-juvenis e sonham, um dia, atravessar oceanos para disputar uma edição dos Jogos Olímpicos.

Continua depois da publicidade

Tudo começou há quatro anos, quando uma colega da mãe delas, a professora de Educação Física da rede municipal Renata Rossi da Rocha, contou sobre o projeto do Iate Clube de Santa Catarina Veleiros da Ilha, que dá aulas gratuitas de vela para alunos de escola pública.

— Fomos conhecer o projeto em agosto de 2013, lá em Jurerê. A Sofia não tinha nem idade para participar na época, tinha só sete anos. Levamos a Isa para conhecer o esporte e a Sofia, muito curiosa, já ficava junto aprendendo as coisas — lembra Renata.

Por mais de três anos a cena se repetiu: Isabela puxando a fila nas competições e Sofia seguindo a irmã mais velha. Até que no ano passado a “aprendiz” superou a “mestre”. Na disputa do campeonato catarinense de vela em 2017, Sofia sagrou-se campeã geral, enquanto Isabela ficou com a terceira colocação.

Continua depois da publicidade

— A Sofia sempre se conteve, dizia que não queria passar a irmã. Acho que era uma coisa de respeito, mas esse ano ela não conseguiu segurar — brinca a mãe das garotas.

Competir já virou rotina, e as duas embarcaram para Salvador (Bahia) neste início de ano para a disputa do Campeonato Brasileiro, que começa dia 7 de janeiro. Com a esperança de ficar entre as primeiras colocadas na classe Optimist e cavar uma vaga nas competições internacionais ao longo do ano, Sofia pretendeu usar a experiência adquirida na disputa do campeonato Norte-Nordeste, também disputado em Salvador, em 2017.

— Tem bastante corrente (marítima) lá, gosto assim porque fica mais difícil. Não pode deixar ela te levar de lado, tem que ir reto contra ela. Se for de lado, tu vai caindo — indica a jovem promessa do esporte.

Continua depois da publicidade

Já Isabela compete no Campeonato Brasileiro na Classe Laser pela primeira vez, já que ao completar 15 anos ficou impossibilitada de seguir na classe Optimist. Ainda se adaptando ao tamanho das novas velas, Isa torce para que haja muito vento durante a disputa.

— No barco que estou agora, é mais difícil quando tem muito vento porque a vela é bem grande. Mas gosto de competir mesmo assim. Tenho o sonho de disputar uma Olimpíadas — comenta Isabela.

Da brincadeira às competições

Engana-se quem pensa que as duas “nasceram com o dom” da vela. Todo o talento das garotas vêm de muito treino, dedicação e apoio familiar. Mesmo que Júlio, o pai delas, tenha como hobbie o surfe e desde cedo já colocasse elas na água, não foi fácil começar a velejar.

Continua depois da publicidade

— A gente tinha muito medo de entrar no barco. Quando dava muito vento, ninguém ia pra água, a gente ficava só no bote olhando — lembra Isabela.

Nas primeiras aulas, elas aprenderam a montar e desmontar o barco, fazer os nós e como reagir dependendo da direção do vento. Só depois disso é que começaram a ir para a água. Em meio às belezas naturais da capital catarinense, foi fácil se encantar pelo esporte.

— Nos treinos chegamos a navegar com tartaruga, golfinho, leão marinho — comenta Isabela.

— Só o leão que deu um susto, porque ele é muito grande — completa Sofia.

Enquanto estavam na escolinha, o clima nos treinos era de total descontração. Até que no final de 2015, visando as competições em 2016, as duas começaram a focar no alto rendimento dentro do esporte.

Continua depois da publicidade

— Na escolinha a gente fazia bastante brincadeira, mas quando começamos a competir mudou tudo. Deu certo, logo na primeira competição ganhei a categoria estreantes — conta Isabela, que procura se inspirar nos velejadores Bruno Fontes e Robert Scheidt.

Família e estudos: união que faz a diferença

Nada disso teria sido possível se não fosse o apoio da mãe Renata e do pai Júlio. O amor dos dois pelo esporte contagiou as filhas e abriu perspectivas para o início de uma carreira que parece promissora.

— O Júlio surfa desde pequeno, foi ele que introduziu elas ao mar. O gosto pela água veio do pai, eu venho mais com os ensinamentos da Educação Física, que traz um pouco da disciplina para os treinamentos — afirma Renata.

Continua depois da publicidade

Sempre que podem, pai e mãe acompanham as filhas nas competições, como é o caso da disputa em Salvador, neste mês. É claro que Júlio e Renata também se preocupam com a educação escolar das garotas, mas se depender delas, isso não será problema.

Isabela, que irá cursar o 1° ano do Ensino Médio em 2018, e Sofia, que irá para a 7ª série, dividem a paixão pela matemática. É com o apoio desta ciência exata que elas buscam se diferenciar — e se distanciar — das adversárias nas competições de vela.

— Adoro a matemática por causa das contas e dos desafios. Além disso, me ajuda muito a calcular o tempo de movimentação do barco dependendo das correntes (marítimas) — comenta Sofia.

Continua depois da publicidade

Fã de Neymar e Marta, torcedora do Figueirense e do Paris Saint-Germain, a garota também bate uma bolinha nas horas vagas e garante que faz “bastante gol”. Isabela, por outro lado, ocupa o tempo livre com leitura e, sempre que pode, tenta aprender mais alguma coisa sobre a arte de velejar.

— Gosto muito de ler. O último livro foi “Lobos do Mar”, que fala sobre a Volvo Ocean Race (principal competição mundial da vela em alto-mar). Velejar no oceano é diferente, o barco e as ondas são bem maiores, então é legal conhecer um pouco mais — afirma Isabela.

A mãe escuta a entrevista das meninas com o sorriso no rosto. Orgulhosa dos primeiros feitos de Sofia e Isabela, Renata sabe que o mais importante é todo o processo que envolve a prática da vela e que o pódio é só uma consequência de um trabalho bem feito. Sabe, também, que só uma delas poderá colocar a medalha de ouro no peito quando competirem novamente entre si.

Continua depois da publicidade

— A gente torce para as duas se darem bem, já que não tem empate. O negócio é garantir a dobradinha no pódio — almeja Renata.

Campo do Palmeirinhas, no Porto da Lagoa, é reinaugurado após cinco anos

Judoca do Morro da Caixa vence dificuldades e sonha com as Olimpíadas de Tóquio

Futebol Escola: projeto cria oportunidades para jovens do maciço do Morro da Cruz

Leia mais notícias da Grande Florianópolis