Da laje de casa, no alto do Morro da Caixa, região continental de Florianópolis, Romário Silva, 23 anos, tem uma vista privilegiada da Ilha de SC e a serra do tabuleiro. Lá em cima, numa comunidade conflagrada pela violência e poucas oportunidades, o judoca guarda nove medalhas de ouro em campeonatos catarinenses além de duas pratas e dois bronzes em competições nacionais. Os principais adversários do atleta, que já nasceu com nome de craque, no entanto, não estão no tatame.
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Apesar de ter sido eleito o melhor atleta de Santa Catarina em 2017 na categoria sênior, Romário Silva não tem o apoio financeiro suficiente para disputar competições pelo Brasil. Viagens, materiais de treino e suplementação alimentar não são baratos para quem vive do esporte. Por isso, o atleta busca apoio para vestir o quimono da seleção brasileira e nutre o sonho de representar o país nas Olimpíadas de Tóquio.
Catarinense de Concórdia, Romário veio para Florianópolis ainda criança, onde passou por uma infância difícil, quando moraram em uma invasão. Como muitos adolescentes, poderia cair no destino do tráfico de drogas, mas aos 12 anos conheceu o projeto Fucas (Fundação Catarinense de Assistência Social). Lá ele foi apresentado à sensei Jaqueline Pereira, ex-atleta da seleção. Após bons resultados, em 2009, passou a representar Florianópolis.
Mas o judoca sonhava mais alto; queria representar o Brasil. Em 2010, Jaqueline levou o menino para São Paulo, onde ele garantiu uma vaga para treinar em um centro de referência chamado Projeto Futuro.
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— Eu era um atleta que queria competir em alto rendimento e viver do judô, então eu busquei treinamento fora da Fucas, eu queria integrar a equipe de Florianópolis. Me inscrevi numa seletiva em São Paulo, passei, e lá é que dei esse trampolim na minha trajetória. Depois que eu voltei, já estava um atleta de ponta. Foi quando ganhei inúmeros títulos estaduais.
Judoca do Morro da Caixa, em Florianópolis, vence dificuldades e sonha com as Olimpíadas de Tóquio 2020
Foi na Unisul que ele conheceu a namorada, a estudante de Engenharia Gabriela Novo, de 26 anos. A jovem acabou se tornando uma espécie de empresária do companheiro.
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— O Romário é uma motivação e orgulho para todos que convivem com ele. Eu estou sempre envolvida com os campeonatos e na busca por patrocínio. Acabei me dedicando à carreira dele.
Romário também representa a Fundação de Esportes de São José, de onde recebe uma bolsa atleta. Os demais patrocínios são tímidos, mas não menos importantes: dois restaurantes, uma academia e uma fisioterapeuta.
A rotina do judoca começa com a faculdade pela manhã e os treinos de judô todos os dias nas duas equipes que representa. Romário também luta jiu-jitsu pela equipe Ataque Duplo, da academia Team Tavares. Romário explica que a segunda arte marcial é uma importante complementação para aprimorar o desempenho dele no solo.
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Todo esse esforço tem como único norte integrar a seleção brasileira para, quem sabe, estar na terra natal do judô em 2020. Um novo ciclo olímpico iniciou, o caminho é longo, mas há tempo suficiente para isso.
— Primeiro eu tenho que conseguir integrar a seleção brasileira. Depois, ali, a gente tenta brigar para uma vaga nas Olimpíadas. Eu estou ranqueando, estou em 17º. Depois do campeonato brasileiro que eu vou disputar na Bahia, eu tenho que medalhar para chegar entre os 10 primeiros. Esses 10 fazem a seletiva para representar o Brasil. O sonho continua.
A referência no Morro da Caixa

Mesmo sem ainda ter chegado lá, Romário é exemplo no Morro da Caixa. Quando a reportagem foi até a casa do atleta para entrevistá-lo, moradores faziam questão de destacar o judoca da comunidade. Por isso, Romário valoriza muito o projeto Fucas, que o levou para um mundo que pensou ser impossível.
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— Aqui na comunidade tem muitos adolescentes que deixaram do participar do projeto para traficar. Então eu vejo que o esporte consegue moldar um cidadão de verdade. Por mais que ali na Fucas não saiam 100 atletas, aquelas 100 pessoas que praticaram o judô no projeto vão virar grandes cidadãos na vida. Por mais que não se tornem um atleta de rendimento, o título vai passar, mas o caráter e a disciplina que se ganha no judô vai continuar para o resto da vida.
Principais conquistas
– Vice-campeão brasileiro Universitário
– 3º colocado no brasileiro sênior
– 3º colocado no brasileiro sub-23
– vice-campeão sul-brasileiro
– pentacampeão estadual sênior
– tetracampeão estadual universitário



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