Um dos novos nomes da Segurança Pública, o futuro delegado geral da Polícia Civil, Marcos Ghizoni, diz que ainda não tratou dos detalhes sobre o trabalho que o aguarda nos próximos meses. Ghizoni já atuou como delegado geral adjunto e também foi, por três anos, diretor da academia de polícia. Ele garante já ter ideias para apresentar a Alceu de Oliveira Pinto Júnior, que assumirá a pasta na segunda quinzena do mês. Investigação de homicídios, especialmente em Joinville e Florianópolis, e de facções criminosas estarão no foco dele. Confira a seguir trechos de entrevista que Ghizoni concedeu à NSC TV.

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O senhor já conversou com o futuro secretário?

Já tive uma conversa inicial pessoalmente. Mas não nos conhecíamos antes, tinha sabido do nome dele, por alguma coisa acadêmica. Mas não tinha contato pessoal com ele. Ainda não tive oportunidade de sentar com o novo secretário para definição de algumas ações. Tive as primeiras conversas com ele e a gente traçou algumas estratégias para curto, médio e longo prazo, muito focado no que se sabe hoje. O que se vem comentando são as questões envolvendo os homicídios em Florianópolis e Joinville, e as facções criminosas.

Qual é o maior desafio no comando da Polícia Civil?

O maior desafio é apresentar soluções novas para problemas já conhecidos. Nós temos, basicamente, três problemas, que são os homicídios em Florianópolis e Joinville e as facções criminosas.

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De que forma o senhor pretende achar soluções novas para problemas antigos?

A Polícia Civil vem se estruturando, vamos dar maior ênfase, cada vez mais, no que se refere ao combate as facções criminosas, buscando alternativas para essas investigações, utilizando-se de tecnologia para tanto.

Tem algo mais prático para se antecipar como ação?

Sempre é muito difícil comentar das tecnologias de informação porque tu acaba ensinando indiretamente as pessoas que futuramente serão investigadas. Com relação a tecnologia de informação eu posso dar um exemplo. Recentemente estive em Israel e lá as câmeras de vídeo das ruas são gerenciadas por um software em que um sujeito que está verificando pode analisar de mais 50 mil pontos porque esse software detecta tiros, sons altos. Ele consegue fazer com que a atenção do ser humano se dissipe em muitos pontos e não um único ponto.

Mas o investimento, a verba e recursos para a secretaria, este ano estão 60% menores. Então nem chego a falar nesse tipo de ação ligada só à tecnologia, a gente estava falando sobre essa questão de olhar mais para os menores que estão direta ou indiretamente envolvidos nos homicídios…

Esse seria um outro foco, nós temos já aqui na Capital uma experiência que se inicia em um projeto piloto, que é criar e investir em uma equipe de investigação própria na Delegacia da Criança e do Adolescente. Não há tantas investigações em andamento contra a criança e adolescente, mas se começar a analisar os últimos homicídios acontecidos na Capital, basicamente 90% (o delegado afirma que este dado é empírico) tem participação de adolescentes e eles acabam sendo atingidos através da investigação do adulto. Nós queremos luz frente a esse trabalho tanto contra ao adolescente como ao adulto. É uma nova visão, é uma proposta que, basicamente, não tem custo de dinheiro novo e é parte do trabalho que nós executamos no dia a dia. Pensar diferentemente do que vinhamos pensando até então.

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Em relação as estruturas das delegacias, existe previsão de melhora?

Nós estamos em constante adequação das delegacias. Viemos de um período de um recessão muito forte no Estado, houve uma diminuição da arrecadação, temos muitas delegacias locadas e há um constante controle que se o proprietário desses locais em que temos delegacias instaladas não fizerem adequações que estamos pedindo, como acessibilidade, vamos procurar outros pontos para locação. Isso não implica em gasto de dinheiro, implica em cobrar um direito que às vezes nos passa despercebido. São inúmeras locações, inúmeros contratos, o tempo vai passando e as obrigações do locador, por vezes, ficam um pouco de lado e a gente retoma nessa situação em 2018.

70% das pessoas não fazem BO porque acreditam que não dá em nada. Existe algum plano ou ação para fazer com que as pessoas tenham mais confiança? Os números e as políticas públicas são baseadas nesses números de ocorrências, mas as vezes eles podem ser muito maior porque as pessoas deixam de confiar e fazer o boletim de ocorrência.

Essa é uma visão. Eu brinco que todos os dias eu rezo, mas nem todos os dias em que eu rezo, tenho resposta do que eu estou rezando. Há uma necessidade do resgate de uma fé, no bom sentido da palavra, de mostrar para essas pessoas que se não houver uma resposta em concreto ela será beneficiada para ajudar outras pessoas através de um índice. Não vou resgatar isso apenas por ações ou resultados positivos, até porque um dado positivo na segurança pública é muito sutil. O que é positivo? Se teve um furto da tua casa com várias coisas, mas eu recupero um celular. Será que foi positivo? A sensação tua foi positiva? Então a relação de positividade da segurança pública e da Polícia Civil é muito relativa. Como vou resgatar isso? Facilitando cada vez mais o registro desse boletim de ocorrência. Conversei muito com o Eduardo Pinho Moreira em que, por exemplo, não dá mais para a Polícia Civil, no ano de 2018, não ter o registro de boletim de ocorrência via smartphone. Eu tenho certeza de que se eu disponibilizar cada vez mais o ingresso desses dados para a Polícia Civil não haverá só essa preocupação. A pessoa vai registrar, precisa procurar a delegacia, enfrentar fila, registrar… é óbvio que as pessoas vão acabar desistindo de registrar. Precisa incentivar as pessoas em todos os aspectos, mostrar para ela que isso gera uma consequência. É fundamental, mas também acessá-las e dar a forma mais fácil entrar para o registro, não menos importante.

Sobre o dado sobre os menores infratores envolvidos…

Esse dado é aproximado, é empírico.

Dentro desse dado, como que hoje isso é feito e como que vocês pretendem mudar?

Já estamos na mudança. O barco já está com as velas postas para o vento favorável. Os últimos homicídios, a elucidação partiu de uma investigação da equipe especializada na criança e no adolescente da Capital. Pretendemos executar isso também em Joinville. Atualmente a investigação de um homicídio inicia pela Delegacia de Homicídios que abarca o adulto. Descobrindo o adulto pode vir em efeito cascata o adolescente. Mas a gente também quer que a delegacia especializada através dessa equipe investigue o adolescente. Há ferramentas que podem ser lançadas para investigar o adolescente e não só o adulto.

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O corte de 20% no combustível das viaturas…

Onde tu chama corte eu chamo racionalização. Eu não posso ter pessoas gastando gasolina a mais que o devido que não para o efeito pratico da nossa atividade fim. Eu detectei algumas incoerências, o nosso novo gestor está constantemente avaliando as contas. O mundo moderno exige isso, nossos recursos são findáveis. Detectamos algumas coisas e essas coisas estão sendo aquilatadas através de um bloqueio para que a gente saiba o que está saindo da rotina, porque aquilo passa do normal planejado por a gente aqui.

É mais uma medida de controle?

Além do controle é uma medida de prestação de contas para o contribuinte que tem a plena consciência de que nós recebemos um dinheiro deles e estamos explicando onde ele espera que seja aplicado. Isso não significa que estamos partindo para tudo que é lado gastando gasolina. Significa que nós começamos a analisar que há situações em que a gasolina pode ser contida com, digamos assim, um roteiro de viagens.

É uma otimização?

Isso.

Havia desperdício?

Eu não digo desperdício. Desperdício é uma palavra muito forte e seria muito leviano da minha parte dizer isso de policiais que estão dando a vida dia e noite. Havia uma não comunicação sobre alguns usos de viaturas, alguns lugares com mais gasolina do que o devido, outros com projeção de gasto de diesel em que o carro diesel já tinha sido baixado. Nossas viaturas são controladas através de um sistema eficiente, temos também uma situação que houve ingresso de viaturas novas na Polícia Civil e não houve a baixa de viaturas velhas.

O concurso da Polícia Civil está em andamento. Eles devem incorporar…

São 194 vagas para escrivão e 200 vagas para agentes de polícia. O concurso está acontecendo agora a segunda fase, se iniciou no domingo e termina na sexta. A previsão é que o resultado final sai por outubro e novembro. Dali para frente a gente começa a sentar com o governador e pensar na incorporação dessas pessoas. Então isso é uma medida para longo prazo.

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Mudando o comando da Polícia Civil, o que será ou poderá ser diferente? O que vai mudar?

O principal enfoque é trazer para dentro a Polícia Civil uma mais quantidade de tecnologia para investigação, não esquecendo nosso servidor. Temos aí uma batalha com relação a um assunto que afeta as promoções. Já estive conversando com Eduardo (Pinho Moreira) e com o nosso novo secretário e buscamos uma equiparação com os demais órgãos da segurança pública que é ter uma data definida para as promoções, que também vai trazer um ganho potencial para a Polícia Civil e um conforto maior para o policial que será reconhecido em uma data fixa.

Mesmo sabendo que a verba em investimento reduziu 60% esse ano?

É um pouco difícil eu resumir isso porque o nosso orçamento é sempre um patamar, mas a liberação financeira é sempre menor que isso. Então, essa redução atingiu o orçamento e não a liberação financeira, a gente não sente tanta falta nesse aspecto. Temos alguns pontos, algumas questões financeiras que a gente precisa acertar, precisa de um aporte, tanto nosso novo secretário com o doutor Eduardo (Pinho Moreira) acenou positivamente. É óbvio que tudo depende do cenário econômico brasileiro, mas a gente vive em Florianópolis, que é considerada uma Califórnia na parte de informática. Nós podemos buscar apoio aqui, temos universidade reconhecidas mundialmente e porque não um grupo de estudantes, e daí a gente vem com outro projeto forte, junto a UFSC, para uma universidade em rede para a nossa academia de polícia para desenvolver tecnologias, temos alguns pontos de tecnologia que temos que buscar fora.

Para resumir, dentro dos problemas de segurança pública, o que destacamos foi a questão dos homicídios em Florianópolis e Joinville e a questão das facções criminosas. E como principal e primeira ação que se destaca é justamente trabalhar na investigação já que muitos menores estão direta ou indiretamente ligados a esses crimes. Aprimorar as investigações quando envolve adolescentes…

Isso. Nós vamos atingir o mesmo objetivo por dua vias, uma única via, as vezes acaba tirando, demorando um pouco mais, em duas vias a gente vê um resultado mais positivo.

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Atualmente essa via que vocês estão acrescentando está ou não sendo feita de que forma?

Não tem como não estar sendo feita, se o crime é resolvido, o adolescente aparece, agora ela não é feita em cima do adolescente, ela é feita em cima do adulto. Agora temos uma delegacia especializada que vai fazer em cima do adolescente. Se ele detectou o adolescente através da nossa via normal ela vai ser acionada. Detectou através da nossa via especializada, nossa via vai ser acionada. Mas os dois vão estar sempre convergindo para chegar no mesmo ponto.

Isso seria mais para aumentar o índice de solução dos casos?

Não só para aumentar o índice de solução, mas para também ter uma legitimidade mais fidedigna com o que aconteceu no local. As vezes a gente consegue desvendar um homicídio, dois ou três autores ficam faltando, um fica faltando e esses outros acabam continuando na empreitada criminosa. Então a gente quer cada vez mais trazer todos os envolvidos possíveis do que aconteceu. Temos os adolescentes participando e os atos dos adolescentes, que acabam sendo utilizados pelos adultos que não estão na cena do crime.

COLABOROU LARISSA NEUMANN

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