Quem pode questionar os nomes abaixo? A Copa pôde. Os deixou um pouco menores, mas nem tanto.
Continua depois da publicidade
O prêmio de Cruyff foi mudar o futebol
Depois que a Copa do Mundo de 1974 terminou, com a vitória da seleção anfitriã sobre a Holanda na partida final, o craque germânico Beckenbauer fez um misto de reconhecimento e desafio: “Johan (Cruyff) foi o melhor jogador, mas eu sou campeão do mundo”.
Será que Cruyff se importou com o comentário? De toda a forma, quem lembra a Copa de 1974 recorda imediatamente do Carrossel Holandês, a Laranja Mecânica, talvez ao última revolução tática no futebol, em que os jogadores não guardavam posição, lutavam incansavelmente pela posse de bola, valorizavam a velocidade e os passes absolutamente indispensáveis, empurravam a linha de impedimento quase até o meio do campo. Era o futebol preconizado por Cruyff e pelo treinador Rinus Michels, era o melhor futebol, mas não foi campeão.
Cruyff, sempre cotado como um dos melhores jogadores da História, nunca venceria uma Copa, tendo disputado as edições de 1966, 1970 e 1974. Negou-se a disputar a de 1978, na Argentina, por motivos que variam entre medo de ser sequestrado e a necessidade de resolver problemas conjugais. O meia (ou zagueiro, ou atacante) holandês era assim: notícia no campo e fora das quatro linhas. Na Copa da Alemanha, liderou seus colegas em discussões sobre premiação e patrocínios. Enquanto seus companheiros usavam camisetas com três listras, por exigência de uma marca esportiva, ele era o único a usar apenas com duas, porque era patrocinado por outra. Na premiação, pediu à Rainha da Holanda que reduzisse os impostos… C
Continua depois da publicidade
omplicado na vida pessoal, mas bem simples quando fala de futebol. Cruyff sintetizava assim seu talento: “A velocidade é frequentemente confundida com o discernimento. Quando eu começo a correr antes dos restantes, pareço ser mais rápido.”
Ele disse:
– Posso ser um novo Di Stéfano, mas não posso ser um novo Pelé. Ele é o único que ultrapassa os limites da lógica.
A taça que evitou Zico
Arthur Antunes Coimbra, o Zico, tem tudo para se considerar um jogador futebol realizado _ na década de 80, reinou à frente do Flamengo, conquistando quatro títulos nacionais, uma Taça Intercontinental e uma Libertadores da América, além de ser um dos principais goleadores da seleção brasileira, atrás apenas de Pelé, Ronaldo e Romário. Poderia se considerar realizado ainda por superar com disciplina e empenho seu físico franzino e tornar-se um jogador que não evitava o choque físico. Mas, o que fazer sem uma medalha de campeão da Copa no armário?
Os principais problemas do Galinho de Quintino foram as Copas. Na de 1978, barrado por lesões e por Jorge Mendonça. Mas isso foi pouco. Como um dos expoentes da seleção de 1982, ao lado de Sócrates, Júnior, Éder, Falcão e Cerezzo, Zico estrelou uma das maiores decepções da canarinho, ao sermos desclassificados por 3 a 2 para Paolo Rossi (e a Itália junto). Em 1986, superou uma lesão séria para estar em campo no México. E, novamente, fracassou. Na partida decisiva contra a França, entrou nos minutos finais e errou o pênalti que evitaria a prorrogação e certamente eliminaria a França. Estava frio, não devia ter cobrado, era uma temeridade, mas quem deveria chutar senão aquele que era considerado o melhor batedor de pênaltis do Brasil? Deve ter sido uma tragédia e tanto, para aquele que sabia e dizia que “Uma jogada pode mudar o mundo.” Ele ainda disse que sua geração não era para ser campeã do mundo. Mas que era bonito de ver, era.
Continua depois da publicidade
Ele disse:
– Treinar chutes a gol é tão obrigatório quanto escovar os dentes.
Platini: o equilíbrio entre justiça e arrogância
Poucos jogadores receberam uma homenagem tão singular como Michel François Platini. Após sua aposentadoria dos campos de futebol, no final dos anos 80, o gramado do Estádio Parc de Princes, em Paris, teve sua largura reduzida em dois metros porque, ao que se disse na época, não haveria mais ninguém na França para aproveitar aquele espaço para lançamentos. Lenda ou verdade, tanto faz _ seria uma justa homenagem. Platini foi um gênio na Juventus de Turim, ao lado de Zoff, Tardelli, Rossi, Boniek, mas sempre carregou a frustração de nunca levantar uma taça da Copa do Mundo.
E não que faltasse qualidade àquela geração de blues. Platini, equilibrando justiça e arrogância, afirmou que “Se a Copa do Mundo tivesse sido disputada anualmente entre 1982 e 1986, a França ganharia duas ou três vezes.” Mas não. Em 1982, nas semifinais, os franceses chegaram a estar vencendo os alemães por 3 a 1, mas os teutos empataram e venceram nos pênaltis. Contra o Brasil, em 1986, Platini marcou o gol que levou o jogo à prorrogação e aos pênaltis. Platini errou sua cobrança, mas a França passou pela equipe de seu amigo Zico.
Platini trocou o fardamento de campo pelo terno, e virou craque nos corredores da UEFA e da FIFA. Atribuem-se a ela parte da responsabilidade por mudanças de regra como punição com cartão vermelho para falta cometida por trás e proibição ao goleiro de tocar com as mãos uma bola recuada pelos pés de um colega de equipe. Nada mais natural: jogando em qualquer posição, Platini vai sempre lutar por um futebol mais bonito.
Ele disse:
– O futebol é feito de erros, porque a partida perfeita terminaria em 0 a 0.
Puskas, o homem que dá nome a prêmio
Uma prova da importância que Ferenc Puskas tem para o futebol mundial: desde 2009, a Fifa instituiu um prêmio com seu nome para o gol mais bonito do ano. Nada mal para um jogador atarracado, fora de peso, que jogava quase que exclusivamente com a perna esquerda e não cabeceava. Mas que marcou os incríveis 84 gols em 85 partidas pela Seleção Húngara.
Continua depois da publicidade
A carreira de Puskas foi drasticamente influenciada pela situação política de seu país, a Hungria, que fazia parte do bloco soviético. Foi sob o regime comunista que Puskas ganhou o apelido de Major Galopante, já que oficialmente era militar. Foi a Guerra Fria que acabou melando a participação de Puskás na Copa de 50, no Brasil – em um movimento próximo de boicote, apenas um país socialista participou – a mais autônoma Iugoslávia.
Em 1954, era a chance da favorita Hungria, que há quatro anos não perdia. Aplicou 9 a 0 na Coreia do Sul, 8 a 3 sobre o time reserva da Alemanha Ocidental, 4 a 2 sobre o Brasil nas quartas – Puskás não jogou mas entrou em campo para brigar com os brasileiros no que ficou conhecido como a Batalha de Berna. Depois, 4 a 2 sobre os uruguaios e a decisão contra os titulares da Alemanha ocidental. Os magiares começaram fazendo 2 a zero, as os alemães viraram. Nos anos subsequentes à Copa, vários alemães abandonaram o esporte, o que levantou a suspeita de doping. Para Puskas, entretanto, o problema era outro.
Em 1956, o levante de da Hungria foi duramente reprimido pelos tanques soviéticos, e ele não decidiu não voltar para seu país. Depois de contratempos legais, firmou-se no Real Madrid, Puskás se naturalizou e ainda jogou a Copa de 1962 pela Espanha, sendo desclassificado pelos adversários de Berna… os brasileiros. Nunca mais vestiu a camiseta da seleção. Em 1981, com a abertura política do bloco socialista, Puskás finalmente voltou a sua terra. Sofrendo do Mal de Alzheimer, morreu em 2006, mas deixou duas convicções: a de que deve haver liberdade para jogar e para viver.
Ele disse, sobre a derrota para a Alemanha, em 1954:
– Nós jogamos alegremente, eles disputaram o título.