São muitas as sequências de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada que irão convencer o espectador de que valeu a pena gastar uns reais a mais para assistir ao filme na projeção 3D a 48 quadros por segundo – tecnologia, chamada High Frame Rate (HFR), que está sendo apresentada no cinema pelo diretor Peter Jackson.
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Um desses momentos, embora não seja o mais espetacular, é simbólico por combinar o arrebatamento visual com a simulação de imersão que o redivivo 3D vem perseguindo mas que, com exceção do pioneiro Avatar, de James Cameron, raramente tem alcançado. É quando a caravana do mago Gandalf, do hobbit Bilbo e dos anões que tentam recuperar seu antigo reino passa pela terra dos elfos e é recepcionada pela cavalaria do anfitrião Elrond. Na dinâmica da ação, é perceptível a sensação de se estar no palco em meio à encenação ao vivo de um espetáculo grandiosamente épico.
Você provavelmente não terá essa impressão nas exibições de O Hobbit no 3D convencional, no qual, afora a má qualidade da projeção (escura em demasia) de algumas salas, fará falta o efeito hiper-realista que é o grande trunfo dessa projeção a 48 quadros. Além da estupenda qualidade da imagem, que permite enxergar com detalhes um grão brilhante na vasta barba de um personagem, os veios de uma folha na floresta e a porosidade de uma rocha,o HFR torna as cenas com muito movimento bem mais nítidas e fluidas, superando uma limitação de registro que o suporte digital ainda apresentava em relação à captação em película. Não existe, aquie, aquele chamado efeito de arrasto, o “fantasma” decorrente de uma cema em que a câmera passa rapidamente por um objeto fixo ou elementos passam em velocidade pela câmera fixa.
E, bom destacar, o ingresso para projeção 3D HFR na única sala que exibe o filme neste formato em Porto Alegre (a sala 2 do BarraShopping) custa o mesmo que o 3D convencional no mesmo local.
Zero Hora assistiu a O Hobbit primeiro na versão 3D em 35mm, cópia que apresentou o filme à imprensa e, dois dias depois, na versão 3D HFR. Acompanhar por duas vezes a arrastada adaptação da aventura infantil que o escritor J.R.R. Tolkien lançou como prólogo a sua celebrada trilogia O Senhor do Anéis (levada com sucesso ao cinema pelo mesmo Jackson) resultou em quase seis horas de passeio pela Terra Média. O programa não chegou a ser exasperante porque este segundo encontro foi todo dedicado a conferir a inovação técnica.
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Comparar as duas projeções é mais ou menos como se posicionar quanto à experiência que se quer ter numa sala de cinema: assistir a um filme ou fazer parte dele? Em produções grandiosas como O Hobbit, uma ampla carta de opções de como desfrutá-la até faz sentido, visando em especial um público-alvo jovem e familiarizado com as imagens de videogames e o ambiente da realidade virtual. Para outra parte da plateia, a extrema perfeição na reprodução da textura da pele, das cores vívidas que brotam dos cenários naturais da Nova Zelândia, do contraste entre claro e escuro do interior de cavernas, da harmônica interação entre atores e criaturas digitais e da cristalina fluidez com que a água despenca de cachoeiras pode gerar, paradoxalmente, uma sensação de frieza e artificialismo. Em vez de imersão,a dispersão.
Esse primeiro contato com o HFR transcorreu entre o desbunde e, a horas tantas, um certo cansaço visual, diante de, veja só, uma imagem perfeita demais para quem foi criado diante da projeção em película e tem dúvidas se vale investir tanto para fazer um filme que não parece um filme.
O negócio é ver para crer. Será, ao fim, questão de gosto e de acostumar o olhar diante de mais uma revolução visual do cinema. Tão inovadora – e estranha em seu tempo -quanto foram a cor, o gigantismo do Cinemascope, os tons berrantes do Technicolor, a estupenda exuberância do 70mm, a era digital e o 3D de ontem e hoje, entre outros marcos tecnológicos surgidos sempre com o mesmo fim: tornar o encontro com um filme numa sala escura uma experiência única e inigualável.
Foi bacana sentar à mesa com Bilbo Bolseiro e os 13 anões, circular pela casa do hobbit como se esta fosse a nossa própria toca e ficar de queixo caído com a entrada em cena do Gollum, a mais perfeita criatura digital já apresentada pelo cinema. Mas fica evidente que o HFR não serve a qualquer tipo de filme. Diante dos custos elevados – da produção e do equipamento das salas para exibir o formato – serão poucos a invetistir nele. O próximo longa-metragem em HFR deve chegar só em 2014: Avatar 2, de Cameron, realizador, como Jackson, obcecado em fazer o cinema seguir rumo ao infinito e além da imaginação.
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Fique por dentro do HFR
A tecnologia High Frame Rate (HFR), ou “alta taxa de frame”, diz respeito à velocidade de captação e projeção da imagem utilizada em O Hobbit, de 48 quadros por segundo, o dobro da que é padrão no cinema desde os anos 1920.
Essa maior quantidade de elementos por segundo – e com a percepção de o filme correr na velocidade normal – proporciona maior conforto ao olho humano, com mais brilho, nitidez e qualidade da imagem, sobretudo quando combinada com a projeção em 3D. A sensação é chamada de hiper-realista por resultar numa imagem com definição que o olhar espectador não capta em condições normais.
O HFR praticamente elimina uma limitação do suporte digital em relação à película, que é o efeito de “arrasto”, aqueles borrões percebidos em cenas com movimentos intensos. Jackon abusa de cenas de perseguição e lutas em O Hobbit para demonstar isso.
A projeção HFR 3D de O Hobbit está disponível em cerca de mil salas de cinema no mundo, 40 delas no Brasil e apenas uma na Capital – a sala 2 do BarraShopping. Ingressos a R$ 21 (segunda, terça e quinta), R$ 20 (quarta), e R$ 23 (de sexta a domingo e feriados).
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