Aos 53 anos e completando 30 de carreira, Zeca Pagodinho mostra que o tempo o deixou melhor, assim como o vinho, bebida que o célebre apreciador de cerveja afirma ter passado a degustar na gravação do CD/DVD 30 Anos – Vida que Segue. O trabalho celebra as três décadas da carreira do sambista que começou cantando nos bairros de Irajá e Del Castilho, subúrbio do Rio.
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No show da série Multishow ao Vivo, Zeca relembra sambas consagrados de Carnaval ao lado de parceiros como Paulinho da Viola e Monarco, inovando ao convidar nomes como Marisa Monte, Yamandu Costa e Leandro Sapucahy. Por telefone, ele falou sobre os parceiros, mas não segurou a língua ao criticar os rumos que o samba vem tomando no Brasil.
Um resgate do samba de Carnaval
A proposta de Zeca no novo trabalho é resgatar os sambas de Carnaval, de compositores que fizeram sucesso nas décadas passadas, como Ataulfo Alves e Mário Lago, com a canção Atire a Primeira Pedra. Zeca, conhecido por estar sempre de bom humor, disposto a um bom papo, não poupa críticas quando o assunto são os rumos do samba nacional:
– Tá completamente perdido, não se ouve mais nada (de samba de Carnaval). Não tem mais nada, não tem mais marchinha, nada. Quando eu era pequeno, o povo tocava corneta nas ruas, as ruas ficaram enfeitadas. Festa de Carnaval, agora, é com funk – critica, sério.
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A parceria com Yamandu Costa
Em um dos trechos do show que se destacam pela qualidade instrumental, Zeca divide o palco com dois gênios da música: o gaúcho Yamandu Costa, no violão de sete cordas, e Hamilton de Holanda, no bandolim.Em relação ao gaúcho, Zeca é só elogios:
– Já o conhecia de muito tempo, já tomamos “uns negócios” juntos (risos).Yamandu é meu ídolo, rapaz! – exalta Zeca.
Ele lembra que assistiu a uma performance do gaúcho pela primeira vez na TV Cultura, mas não recorda a data exata. Comenta ter ficado impressionado com o que viu.
– Quando ele surgiu, era bem “gauchão”. Agora, está bem carioca – diz Zeca, aos risos.
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Participações especiais de diversas gerações
No disco, um dos pontos mais altos da carreira de Zeca e um dos melhores dos últimos anos do samba, o sambista reuniu o que há de melhor – e não só no gênero. Marisa Monte, Yamandu Costa, Paulinho da Viola – que divide os vocais com o anfitrião da noite na primorosa Foi um Rio que Passou em Minha Vida -, a Velha Guarda da Portela e o bamba Monarco:
– A Velha Guarda todo ano tem que estar nos meus discos. Isso porque, na realidade, comecei a frequentar roda de samba no Pagode da Tia Doca, em Madureira.E aprendi muito com a Velha Guarda da antiga com Casquinha. O Monarco vi pela primeira vez no ônibus 261 em Del Castilho e já era fã. E entrei no coletivo só para conhecê-lo. Conversamos, mas não pude ir longe, porque não tinha dinheiro para voltar. Fui até Pilares e voltei a pé – conta Zeca.
Generosidade é com ele mesmo
Zeca distribui elogios para os demais convidados, especialmente quando divide os vocais com Marisa Monte, em Preciso me Encontrar, e com Leandro Sapucahy, em Batuque na Cozinha:
– Convidei o Sapucahy pessoalmente, acho ele um grande nome. E estar ao lado do Paulinho, com 70 anos, inteiraço, foi muito bom – comenta.
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Sobre a cantora Marisa Monte, a quem Zeca chama de “minha gata” na gravação, ele dedica elogios especiais:
– Ela é uma grande cantora, foi uma participação especialíssima. E eu sou sambista, deu um belo resultado – salienta.
O bamba do samba nervoso?
Mesmo com 30 anos de carreira, Zeca confessa que ainda fica nervoso com certos trabalhos. Na coletiva que concedeu por ocasião do lançamento, no Rio de Janeiro, contou que teve de recorrer à medicação para se acalmar porque não conseguia gravar a letra de uma música que está em seu DVD:
– Para Mascarada, eu tive que tomar Lexotan para cantar. Minha mulher dizia: “Se isso está te fazendo sofrer, então tira”. Mas a música é boa, eu não podia deixar fora uma música que já foi cantada por Emílio Santiago e Zé Keti. Ouvi mais de 500 mil vezes. No DVD, gravei de primeira (risos).
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