Tudo começou num show da Banda Eva, na época em que a Ivete Sangalo ainda cantava com eles. Eu nem curtia o som da banda, mas a namorada da época tinha os ingressos e lá fomos nós. Pelo fim do show vi, numa mesa perto de mim, o Pedro Sirotsky, que na época era diretor da RBS em Santa Catarina. Fiz uma caricatura dele e entreguei. “Você sempre faz esses desenhos?”, perguntou o Pedro. “Claro, vivo disso”, respondi.
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Ele pediu um portfólio e então encaminhei alguns cartuns. Meses depois, fui chamado pelo Cláudio Thomas, então diretor-chefe do DC, para fazer charges na página do colunista esportivo J.B. Telles, que estava cobrindo a Copa do Mundo da França. Após esse período de testes, o Thomas me chamou na redação e disse que iria me efetivar como chargista do DC. Era agosto de 1998 – e aqui estamos nós, 20 anos depois!
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A primeira charge foi sobre a prisão do maníaco do parque. Mas a maioria dos quase 8 mil cartuns que fiz neste período abordaram o noticiário político, como não poderia ser diferente. Quando comecei no DC, o presidente era Fernando Henrique e depois vieram Lula, Dilma e Temer. Cada um recebeu sua “cota” de charges. Olhando de hoje, um ponto curioso sobre tantos governos: muitas vezes, ao olhar um antigo desenho, eu mesmo tenho dificuldade em lembrar qual era a notícia que aquela charge abordava. É que foram tantos escândalos de corrupção que um assunto se sobrepõe ao outro.
A charge não é igual a uma notícia factual: ela pode gerar humor, mas não obrigatoriamente. Há temas que não permitem piada – como, por exemplo, acidentes com vítimas fatais. Mas, mesmo assim, podem ser contemplados no espaço do cartum, desde que se procure manter respeito pela tragédia. Foi assim, por exemplo, com o caso do voo que vitimou o time da Chapecoense, em 26 de novembro de 2016. Em situações assim, a charge deve trazer uma emoção que esteja sintonizada com o sentimento do leitor.
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Dos temas que mais costumam gerar repercussão, o futebol sempre liderou. O torcedor de um time enviar a charge para um torcedor do outro, para zoar por causa de um jogo, é algo clássico. Mas, das manifestações da Copa das Confederações de 2013 para cá, o brasileiro passou a se interessar bem mais por política. Qual será a posição do chargista? A quem ele defende?
No meu caso, isso é fácil de saber: sou torcedor doente do Criciúma, única agremiação pela qual declaro minha paixão. Mas nem por isso a equipe escapa das charges. Em 2005, quando caiu para a Série C pela primeira vez, fiz uma charge do mascote do Tigre dentro do caixão, tendo eu e meu pai chorando no velório. Se consigo debochar do meu time do coração, então posso fazer cartuns rindo de todos os outros times, partidos políticos e quem mais aparecer fazendo besteira no noticiário… E assim tenho feito, todo dia, nas últimas duas décadas!
Saiba o que passa pela cabeça de Zé Dassilva na hora de elaborar as charges: