O doleiro Alberto Youssef, peça central da Operação Lava-Jato, afirmou à Justiça Federal em audiência na última sexta-feira que, além do esquema de propinas na Petrobras, ele também operava o caixa dois das empreiteiras UTC e OAS para políticos em anos eleitorais. O doleiro revelou que pedia quantias para o ex-deputado Luiz Argôlo (ex-PP e afastado do SD-BA) e seus aliados sem relação com os repasses que recebia da cota do PP no esquema de desvios na estatal. Segundo Youssef, o ex-parlamentar e seus aliados recebiam as “ajudas” de Ricardo Pessoa, dono da UTC, para o caixa dois de suas campanhas.
Continua depois da publicidade
– Outra situação que eu, através dos empreiteiros, em época de campanha, sempre pedia para que ajudassem Luiz Argôlo – afirmou Youssef.
– Uma das ajudas veio da empreiteira UTC, mas não foi descontada do caixa que eu recebia da Petrobras. Foi uma ajuda espontânea do Ricardo Pessoa – acrescentou o doleiro.
Gigantismo da Operação Lava-Jato rende controvérsia
Operação Lava-Jato se espalha por alvos como saúde, bancos, crédito consignado e energia nuclear
Continua depois da publicidade
O juiz Sérgio Moro, então, questionou se o dinheiro foi repassado via doação oficial, mas Youssef confirmou que se tratava de caixa dois.
O doleiro ainda confirmou ter solicitado, e recebido da UTC, dinheiro de caixa dois da empreiteira para campanhas de prefeitos aliados de Argôlo na Bahia em 2012 a pedido do ex-parlamentar.
– Eu fiz o pedido ao Ricardo Pessoa nesse sentido. Ele combinou com o Luiz Argôlo e fez o repasses através de mim – contou Youssef.
O depoimento de Youssef foi dado na ação penal em que Argôlo é réu acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e peculato.
Continua depois da publicidade
A revelação do doleiro ocorre ao mesmo tempo em que a Procuradoria-Geral da República investiga, no Supremo Tribunal Federal, as suspeitas de caixa dois de campanha da UTC para o ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante e para o senador do PSDB Aloysio Nunes, sem relação com a corrupção na Petrobras.
Ministros e senador negam ter recebido doações irregulares
Também delator na Lava Jato, o empreiteiro Ricardo Pessoa é apontado pelos investigadores como o presidente do “clube vip” das empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários da Petrobras entre 2004 e 2014. Em sua delação, ele afirmou ter se encontrado sete vezes com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ter entregue R$ 2,4 milhões em dinheiro vivo para a campanha do petista em 2006, mas admitiu não saber se o ex-presidente tinha conhecimento de que o dinheiro era ilegal.
Ao todo, Pessoa apontou pelo menos 18 políticos com foro privilegiado perante o Supremo Tribunal Federal (STF) que teriam recebido propinas e implicou ao menos 15 partidos, os quais, segundo ele, recebiam doações legais e também repasses ilegais “para abrir portas” no Congresso.