O momento foi revestido de um caráter histórico. Pela primeira vez no último meio século, o relatório sobre liberdade de imprensa em Cuba não foi lido na conferência da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) por um representante da entidade, a mais antiga voz em defesa da livre expressão nas Américas. A descrição coube à dissidente cubana Yoani Sánchez, que, depois de concentrar atenções no Brasil, chegou a Puebla, no México, para a conferência de meio de ano da SIP, onde, como em todas as suas andanças pelo Exterior, arrastou uma multidão de jornalistas.
Continua depois da publicidade
Há meio século Cuba frequenta o relatório da SIP com um viés sombrio, de restrições totais do Estado sobre a comunicação. Yoani, porém, deu sua versão sobre este controle.
– O que há é um monopólio privado em Cuba. O Partido Comunista controla todos os meios.
Yoani arrancou sorrisos da plateia, onde também havia dissidentes exilados, ao afirmar que os cubanos se tornaram especialistas em internet “sem acesso à internet” e que muitas informações circulam em pen drives, carregados de um lado para outro.
Continua depois da publicidade
Questionada sobre as agressões sofridas no Brasil, Yoani as atribuiu ao longo braço do regime cubano e confidenciou que ouviu muitas vezes pedidos de desculpa pelos “fanáticos”. Ela disse que, em uma semana no Brasil, foi muito mais abraçada do que agredida e agradeceu os mais 35 mil seguidores no Twitter que se juntaram a ela durante sua passagem pelo país.
O Brasil é um personagem central na conferência da SIP, porque tem-se como certo aqui que o futuro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos dependerá da posição do governo brasileiro sobre os destinos da entidade, que será tomada pela Organização dos Estados Americanos em 22 de março. Em razão das denúncias da comissão sobre restrições à imprensa livre, Argentina, Equador, Venezuela e Bolívia capitaneiam uma tentativa de enfraquecer ou mesmo extinguir o organismo, que tem sido uma caixa de ressonância contra violações aos direitos humanos nas Américas.
Homenageado em Puebla com o Grande Prêmio Chapultepec, a declaração de defesa da liberdade de expressão nas Américas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi duro quanto às ameaças que pairam sobre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Continua depois da publicidade
– Seria um grande passo atrás, um ato fascista e autoritário – disse Fernando Henrique na homenagem.
No relatório semestral da SIP sobre liberdade de imprensa, o Brasil segue como “motivo de preocupação”, em razão dos assassinatos de jornalistas e a impunidade que paira sobre os mandantes. O relatório enumera 22 agressões à liberdade de expressão no Brasil nos últimos seis meses, incluindo casos de censura prévia determinada pela justiça e agressões a repórteres e fotógrafos.