Um dos maiores instrumentistas do Brasil, Yamandu Costa é também um dos mais produtivos: o violonista e compositor está sempre tocando, gravando, dividindo o palco com outro músico ou com uma orquestra, dando uma canja no disco do amigo ou em uma tertúlia no bar. Em seu mais recente álbum, o virtuoso recupera uma formação tradicional latino-americana: o trio de violões.

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Yamandu não sabe ao certo que número Continente ocupa em sua discografia, tantos são os lançamentos próprios, projetos com parceiros como Hamilton de Holanda e Dominguinhos (1941 – 2013), participações especiais em CDs e DVDs de camaradas, discos já gravados mas ainda inéditos. O quase vigésimo trabalho do solista de 33 anos traz 11 faixas instrumentais, em que seu violão de sete cordas dialoga com outros dois bambas gaúchos: Arthur Bonilla, também no violão de sete cordas, e Guto Wirtti, tocando baixolão.

– Quando estávamos na Áustria há uns quatro anos, o Guto encontrou em uma loja um baixolão com cordas de náilon. Aquilo foi uma inspiração. Ele soa como uma continuação do violão na região grave. Eu chamo de violão gordo. É um instrumento raro, que não faz parte de nenhuma música regional específica. A casualidade dele é que dá a cor – explica Yamandu, falando ao telefone com Zero Hora.

Em Continente, o músico passo-fundense retoma as raízes pampianas de seu jeito de tocar, fazendo seu violão ecoar outras sonoridades regionais latino-americanas. Se Sarará, composição de Yamandu que abre o disco, tem sabor pantaneiro e paraguaio, lembrando Almir Sater, Don Ata, de Guto Wirtti, homenageia o mestre do folclore argentino Atahualpa Yupanqui (1908 – 1992).

– A ideia era mesmo celebrar o formato do trio de violões, tão comum na América Latina. Aqui no Brasil, esse formato está mais ligado ao choro – explica Yamandu.

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As constantes viagens também serviram de inspiração para o artista: Chamamer foi composta entre Nice e a ilha de Córsega – o título brinca com as palavras “chamamé” e mer, que quer dizer “mar” em francês -, enquanto Sufoco foi escrita em Abu Dabi, quando Yamandu e Guto assistiam a uma corrida de camelo na TV no quarto do hotel:

– Aquilo foi muito engraçado, aqueles bichos têm um suingue…

Na agenda do inquieto Yamandu, estão programadas ainda para este ano apresentações em lugares como a Passo Fundo natal (24 de agosto), Leipzig (nos dias 13 e 14 de setembro, tocando com a MDR Symphony Orchestra sua Suíte Passeios), Roma (16 de setembro), Helsinque, na Finlândia (9 de outubro), Uppsala, na Suécia (10 de outubro), e na capital francesa (4 e 5 de dezembro, onde vai se apresentar com Orquestra de Paris na prestigiada Salle Pleyel). Em Porto Alegre, o show de lançamento de Continente está marcado para os dias 8 e 9 de novembro, no Theatro São Pedro. Entre os próximos projetos de Yamandu, está um disco de canções composto em parceria com o carioca Paulo César Pinheiro.

– Já temos temos 11 músicas feitas, três delas falando sobre o Sul, chamadas Vento Sul, Fogo de Chão e Prenda Minha. O Paulo César é apaixonado pelo Sul, pelo Erico Verissimo. Não estamos preocupados em agradar regionalismos, é o Rio Grande do Sul visto pelo Brasil – adianta Yamandu, revelando que até poderá cantar nesse álbum.

Radicado no Rio de Janeiro, Yamandu Costa não esconde que gosta mesmo é de rodar o mundo – como o mar aberto na capa de Continente sugere:

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– É um privilégio poder fazer o que eu gosto, que é tocar música boa. Sou muito produtivo, me sinto feliz assim. O Dominguinhos é que dizia: “Isso é que nem bicicleta: se parar, cai”.

Continente, de Yamandu Costa

Instrumental, Biscoito Fino, 11 músicas,

R$ 34,90 (em média)

Cotação: 5 de 5 estrelas