Yamandu Costa tem uma íntima relação com o violão, instrumento no qual começou a tocar ainda criança, influenciado pelo pai. Com referências estéticas amplas que vão desde a música popular brasileira às milongas argentinas, o gaúcho retorna a Florianópolis com o concerto ‘Esperançar’, fruto de reflexões e composições do artista ao longo das restrições impostas pela pandemia de Covid-19.
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O show acontecerá em 25 de março, no Teatro Ademir Rosa (TAR), no Centro Integrado de Cultura (CIC), às 21h. Os ingressos podem ser adquiridos através do Clube NSC.
Em entrevista ao NSC Total, Costa falou sobre sua trajetória artística e teceu críticas à educação brasileira que, segundo o violonista, não prepara crianças e adolescentes para apreciarem artes.
O que te fez se apaixonar pelo violão? Desde quando tocas?
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O que me fez apaixonar pelo violão foi a relação que o meu pai tinha por ele. Desde a minha pequena infância, a minha casa era uma casa cheia de música e o meu pai era um cara que tinha muito ciúmes do violão, ao ponto de esconder o violão para não deixar ninguém pegar. Desde pequenininho sempre tive essa adoração pelo instrumento por causa do meu pai.
Comecei a tocar com seis anos de idade, mas a partir dos nove é que foi a imersão dentro do instrumento mesmo.
Quando começou, você imaginou que se tornaria um dos principais, senão o principal, violonista do mundo?
Não, nunca imaginei isso de ser uma referência, até porque é uma paixão cegante. Você só quer descobrir o instrumento e melhorar no instrumento. A gente não tem essa proporção das coisas no início e também acho que esse não é o ponto. É um caminho sem chegada, você está sempre procurando melhorar. É um instrumento muito difícil de se tocar bem. Cada concerto, cada aproximação com instrumento, é sempre um novo desafio.
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A música instrumental já possui o lugar que merece na cultura ou ainda precisa avançar mais?
A música instrumental é um termo que é usado no Brasil e na América Latina. Acho que muito por falta de uma cultura geral da plateia, dos ouvintes, das pessoas de um modo geral. Por isso que se criou essa maneira de falar sobre essa música culta, essa música feita dessa forma. Eu acho que isso tudo tá muito na base da educação que não tivemos como povo, por isso que a gente ainda separa música instrumental. Ninguém fala que você vai num concerto de música cantada, por exemplo. Então eu acho que quando a gente tiver acesso à educação, a gente vai conseguir mudar esses paradigmas.
Você já fez parceria com diversos músicos. Ainda sonha em tocar com alguém?
Tem muitos artistas que eu tenho vontade de fazer participações e gravar discos, mas são encontros que acontecem de uma forma natural.
O que significa o ‘Esperançar’ que titula o concerto atual?
‘Esperançar’ é sobre o tempo pandêmico, sobre as composições que comecei a fazer no início da pandemia. Tem uma música chamada ‘Herança Russa’, por exemplo, que fiz em homenagem à linguagem do violão sete cordas russo, que é uma escola muito bonita e muito importante. Vários temas que vou tocar nesses shows, que estou trazendo ao Brasil, vou explicando as situações. Esperançar é você procurar o lado bom mesmo estando isolado, mesmo toda aquela desesperança, toda aquela aquela inquietação que todos nós sentimos, mas principalmente quem mexe com arte, que ficou completamente sem trabalho. É a esperança de que o mundo volte a rodar para a gente conseguir colocar música em contato com as pessoas. E esse concerto vai tratar de falar um pouco disso e de trazer um pouco desse sentimento que, para mim, na verdade, compor durante esse tempo pandêmico foi até uma terapia para passar um tempo da melhor forma possível dentro de tanta instabilidade.
O que a pandemia te ensinou?
Acho que a pandemia ensinou para todos nós que as artes são muito mais do que entretenimento, são fundamentais na manutenção do nosso dia a dia, da nossa saúde mental e da nossa convivência humana.
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No que você pensa enquanto toca violão?
Quando toco violão, a concentração é tão grande que penso em muitas coisas ao mesmo tempo. Você fica tão concentrado em coordenar os movimentos entre as duas mãos e tentar se aproximar o máximo possível da emoção sem ficar muito emocionado também, para conseguir não perder o fio da interpretação. É um estado muito interessante, é uma mistura de concentração com relaxamento numa dose muito justa para que a música consiga ser feita da melhor forma possível.
Você toca também nas horas vagas?
As horas vagas existem exatamente para tocar e para compor. É um convívio diário.
O que as pessoas da tua família mais gostam de escutar?
As pessoas da minha família são músicos por todos os lados e gostam muito de ouvir música da nossa região, do Sul do Brasil, música fronteiriça, música que vem da Argentina e música do litoral argentino. E quando a gente se encontra, a gente é rodeado dessa música do chamamé das milongas. É uma música que nos fala muito profundamente.
O que o público pode esperar do show em Santa Catarina?
A plateia pode esperar, como sempre, muita dedicação, muito amor, muita entrega e um repertório novo de músicas que foram feitas durante esse tempo instável. Enfim, vai ser um ambiente bastante leve e a protagonista principal é a música.
O que vem pela frente na tua carreira?
O que vem pela frente a gente não tem como saber. Agora, é cada vez mais amor pelo que faço, gratidão pelas coisas boas que já foram feitas e esperança de continuar tendo saúde para continuar me dedicando a essa arte tão bonita que é fazer música.
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