Há um conjunto de indicadores que mostram desconfiança do empresariado e de consumidores para os negócios nos próximos meses. O PIB brasileiro vai crescer só 1,5% neste ano. A inflação anual fecha em 6,2%. O mercado já antecipa tendências e não descarta a possibilidade de Dilma Rousseff perder as eleições. Se ganhar, fará um segundo mandato melhor.

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A avaliação é do analista-chefe da XP Corretora, Rossano Oltramari. O profissional recomenda aplicação de recursos em opções que gerem renda, deem proteção contra a inflação e sejam isentos de Imposto de Renda. Oltramari fez duas palestras em Joinville na última terça-feira, dia 8. Ele é formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, começou a carreira na corretora Icatu e exerceu o cargo de gerente de novos negócios no Investshop.

RACIONAMENTO

– É grande a probabilidade de haver racionamento de energia. A probabilidade está crescendo. Em minhas palestras, questiono os auditórios se os dados apresentados sobre o volume de reservatórios são corretos. É preciso saber quem, do governo, vai coordenar o trabalho, se e quando for oficializado o racionamento. Já há, na prática, racionamento branco. Explico: em algumas regiões de alta demanda, já acontecem “apagões” localizados na iluminação pública.

DETERIORAÇÃO

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– As expectativas estão se deteriorando muito. O mercado vive de expectativas. E o que vale, na análise, é a intenção de aprovação do governo Dilma. De agora em diante, ela tende a diminuir exatamente num momento em que a inflação vai subir e níveis de emprego não vão ser mais tão bons. Quero dizer com isso que desta vez não vai haver o voto a partir da consideração do fator econômico. Para a economia real, olhando adiante, 2015 será tão difícil como está sendo 2014.

ESGOTADO

– O modelo de desenvolvimento baseado no consumo se esgotou. E Dilma não vai dobrar a aposta. Se ganhar as eleições, certamente vai buscar outra forma de gerir a economia. Não podemos mais exportar quase só commodities, e as relações de troca terão de ser revistas. Falta humildade ao atual governo. Tem de ouvir a sociedade. Esse grupo está há 16 anos no poder. A alternância de poder sempre é desejável para o desenvolvimento do País.

ANO DE CAUTELA

– Entendemos que o ano de 2014 é de cautela, mas não de pessimismo. O produto interno bruto (PIB) do Brasil vai crescer 1,5% neste ano. O mercado, em geral, acredita em 1,6%. A inflação fecha dezembro a 6,2% se não houver racionamento. Se for decretado o racionamento, isso vai mudar – e subir. Temos muitos desafios internos a resolver.

ONDE APLICAR

– É importante o investidor olhar para três fatores: em investimentos que gerem renda; investimentos que deem proteção contra a inflação; e investimentos que sejam isentos de Imposto de Renda. A combinação destes itens é possível em debêntures lastreadas em investimentos em infraestrutura. Recentemente, Odebrecht e Vale fizeram movimentos desse gênero. Com R$ 1 mil, já é possível para qualquer pessoa aplicar nesta modalidade.

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OUTRAS OPÇÕES

– Outra alternativa é aplicar em títulos públicos. A terceira recomendação é a de colocar parte dos recursos em empresas boas, que pagam bons dividendos. No caso, Tractebel, Cielo e Alupar são sugestões. É importante lembrar que a Bolsa de Valores perdeu, nos últimos cinco anos, um terço de seu valor de mercado. Está, agora, ao redor de 50 mil pontos.

APERTO

– O cenário também indica aperto monetário, com menos oferta de crédito na praça para quem precisa de dinheiro emprestado. Numa economia que cresce muito pouco e ainda com aumento de juros, essa combinação de fatores é ruim para o conjunto da sociedade.

ANTECIPAÇÃO

– O mercado financeiro antecipa fatos. Precifica, como dizemos. Em Brasília, se diz que a derrota de Dilma é, também, uma possibilidade. Então, isso pode explicar alta do Ibovespa e de ações da Vale e da Petrobras nos últimos dias.

MERCADO INTERNACIONAL

– Os países emergentes (Índia, Rússia, China, Brasil e África do Sul) sofrem mais na atual conjuntura mundial. Em compensação, países desenvolvidos se recuperam. Estados Unidos e países europeus estão dando respostas positivas e vão retomar expansão. De todo modo, o crescimento do PIB mundial, que era de 3% a 4% ao ano até 2008, agora não vai passar de 2% a 3% ao ano.

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COMPETITIVIDADE

– Na gestão das empresas, não há mais espaço para amadorismo. A competição é com americanos, chineses, alemães, indianos… A palavra-chave na administração dos negócios é reinventar-se sempre. Essa é uma competência essencial dos administradores na era das relações comerciais no contexto global. E, claro, o sucesso depende do time de recursos humanos disponível. A empresa tem de ter um ótimo goleiro e eficazes zagueiros, laterais, meias e atacantes. Enfim, tem de ter um profissional habilitado para cada função.

CONFIANÇA CAI

– Uma série de indicadores macroeconômicos mostra diminuição de confiança, tanto da indústria, quanto dos consumidores. Esse aspecto ajuda a conter a expansão do PIB.

ELEIÇÕES

– Nosso cenário-base para as eleições presidenciais projeta vitória difícil da Dilma no segundo turno. A prevalecer esta percepção, o segundo mandato dela deverá ser melhor do que o atual. Acreditamos que a perda de popularidade deve ter chegado ao limite mínimo e, adiante, a partir de 2015, ela corrija os rumos do governo.

ABAIXO DA MÉDIA

– O comércio está se concentrando entre países desenvolvidos – o que se chama de relação Norte-Norte. Pior para o Brasil. Estamos crescendo abaixo da média mundial. A política externa brasileira precisa rever acordos comerciais. Se até o governo FHC havia um pensamento pró-abertura comercial, nos últimos seis anos nós nos apequenamos.

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OPORTUNIDADE PERDIDA

– O Brasil perdeu a chance de melhorar, de fato, a infraestrutura com a realização da Copa do Mundo. Não fizemos as obras necessárias. Que legado nos dará a Copa? Um estádio de custo bilionário, em Brasília, para o Gama jogar de vez em quando?