Dois ingleses saindo do Canadá, num ônibus escolar, vindo ao Brasil ver a Copa do Mundo. Teria tudo para dar errado, mas a sorte parece acompanhar os viajantes. Tom Heriksen e Simon Hall, ambos com 26 anos, deixaram Vancouver no dia 14 de abril para a jornada com um destino e poucos planos. No World Cup Bus, um tradicional ônibus escolar americano, cabem até 15 passageiros, que eles vão recolhendo no caminho. Alguns descem antes, dão lugar para outros que já haviam ficado. Muitos se conhecem na estrada mesmo.

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A ideia surgiu numa conversa de bar, no pub onde Tom é gerente, há nove meses. Solteiros e sem filhos, não havia nada que os prendesse. Achavam que seria mais um dos sonhos que começava no papo e terminava quando fechavam a conta. Mas o ônibus amarelo sairia, sim, do Canadá. Eles se organizaram e criaram um projeto em um site de financiamento coletivo. O patrocínio para bancar os mais de 15 mil quilômetros até o Brasil não veio. Mas para eles, sem problemas. Viajar de verdade é estar preparado para imprevistos.

– Nós dividimos todos os custos entre quem está no ônibus e fizemos dar certo. Todos pagam com suas próprias economias. Estamos tentando viver de forma barata. De qualquer maneira, é melhor do que desistir – disse Tom, já a caminho do Brasil.

Os 14 viajantes iniciais (com representantes de Canadá, Estados Unidos, México, Peru, Polônia, Alemanha e Inglaterra) foram selecionados entre mais de 90 pessoas que se candidataram pela página do projeto no Facebook. Bastava ter vontade de viajar, disposição para ajudar na reforma dos assentos e não se importar com as bandeirinhas da Inglaterra penduradas nas janelas. Quem tivesse algum talento que ajudasse na divulgação ou produção de conteúdo sairia na frente. Após a viagem, eles planejam produzir um filme com as imagens feitas durante os dois meses de altos e baixos na estrada.

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Em São Francisco, nos Estados Unidos, ficaram hospedados em uma mansão, com vista privilegiada da cidade. Sem custos. Já no México, sem ter onde ficar, esticaram os sacos de dormir no chão e passaram a noite na beira da estrada. Na Guatemala, no momento mais tenso, tiveram que pegar uma via alternativa após manifestantes fecharem a rodovia. O caminho era mais difícil do que os freios do ônibus poderiam aguentar, e eles só pararam quando bateram na traseira de um carro da polícia.

Enquanto a aventura não acabar, o destino do ônibus não será decidido. O que eles sabem é que o veículo não vai voltar ao Canadá. Depois da Copa, planejam doá-lo para caridade, mas já falaram em levar o bus à Argentina para transformá-lo em um bar. A preocupação de agora é conseguir vencer a distância que falta e chegar a tempo para o Mundial. Quando conversamos com eles pela última vez, ainda estavam na Colômbia, a menos de três semanas do início da competição.

– Tenho ingressos para o jogo da Inglaterra contra o Uruguai [19 de junho]. Estou muito empolgado. Meu único medo é que não consigamos chegar ao Brasil. Depois de todo o esforço que fizemos para isso acontecer, eu quero que dê certo! – afirma Tom. A gente também.

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