Florianópolis sedia a partir desta quinta-feira a terceira edição do evento nacional Workshop Nanotecnologias: da ciência ao mundo dos negócios. A proposta do encontro é aproximar, de forma prática e didática, os empresários das pesquisas em nanotecnologia e mostrar que ela é capaz de agregar valor aos produtos de praticamente todos os setores industriais catarinenses.
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Segundo o organizador do workshop Leandro Berti, são esperados 250 empresários de todo o país nos dois dias. O evento contará com a apresentação de cases de sucesso que usaram a ciência em seus produtos e conseguiram um retorno financeiro.
A FGM é uma empresa de Joinville que desenvolve, produz e comercializa produtos odontológicos. Em 2010, com o intuito de ser mais competitiva no mercado internacional, tornou-se a única empresa do segmento no Brasil a usar nanotecnologia. A FGM exporta para mais de 70 países hoje, mas espera aumentar ainda mais esse mercado.
Com o apoio da Agência Brasileira de Inovação (Finep), que aprovou financiamentos de R$ 1,5 milhão, a FGM desenvolveu uma pasta que combate a sensibilidade dos dentes, além de ser remineralizante, e um biomaterial para enxertos ósseos, que será lançado no ano que vem. Os dois produtos são mais eficientes que os concorrentes tradicionais porque aceleram a resposta do corpo ao tratamento, segundo a pesquisadora Vanessa Eid da Silva.
– No caso do biomaterial para enxertia óssea, isto significa que haverá a formação de osso em menos tempo se comparado aos outros produtos. Um paciente que precisa adequar a cavidade oral para receber um implante, por exemplo, terá uma recuperação mais rápida com o material nanotecnológico – diz.
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A nanotecnologia, além de ser um diferencial competitivo, agrega valor ao produto e eleva os preços. A pesquisadora afirma que enquanto uma pasta tradicional contra sensibilidade custa de R$ 15 a R$ 20, a da FGM sai por R$ 61. A empresa vende diretamente para os dentistas.
Apesar de a nanotecnologia ser capaz de melhorar todo o setor produtivo catarinense, com aplicações na saúde, agronegócios até na indústria automobilística, entre outros, ainda há poucas empresas atuantes neste mercado em Santa Catarina. De acordo com um levantamento da Fundação Certi, o Estado tem 40 grupos de pesquisa, sete empresas que desenvolvem tecnologia e 11 que utilizam estas soluções.
Mas, no que depender da participação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a aplicação da nanotecnologia na indústria catarinense tem tudo para dar um salto nos próximos anos.
De acordo com o pesquisador Paulo César Franco, diretor do Laboratório Interdisciplinar do Desenvolvimento de Nanoestruturas (Linden), o grupo de sete laboratórios de diferentes áreas, mas unidos pela nanotecnologia, vai ter uma sede própria em um prédio da UFSC, onde fará a ponte entre o desenvolvimento nanotecnológico e a indústria.
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No começo deste ano, também, o Linden firmou um acordo de cooperação com o laboratório de nanotecnologia de Xangai, que poderá colaborar com Santa Catarina no desenvolvimento de produtos têxteis, metalmecânico, polímeros e na área de meio-ambiente. Em cinco anos, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) deve investir R$ 25 milhões no grupo de laboratórios.
Inovação ganha espaço no mercado
As nanopartículas são invisíveis a olho nú, mas estão presentes em diversos produtos como perfumes, tecidos e cremes hidratantes. Entre as empresas que fornecem esse tipo de tecnologia está a Nanovetores, de Florianópolis, cuja carteira de clientes inclui multinacionais importantes.
Especializada na fabricação de ativo encapsulado – nano substâncias liberadas pela ação do calor ou água, por exemplo -, seus produtos são aplicados principalmente em tecidos e cosméticos.
De acordo com a pesquisadora Betina Ramos, proprietária da Nanovetores, quando liberados, esses ativos desencadeiam uma ação específica. É o caso dos tecidos hidratantes.
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– É como se a pessoa tivesse usando um creme hidrante. Também estamos lançando no mercado um sistema de fragrância para ser aplicado em roupas de cama. Trata-se de uma identidade olfativa das marcas.
Betina conta ainda que a empresa nasceu em 2008 com o desafio de conquistar o mercado com a nanotecnologia. Para isso, ela diz que foi preciso fazer muitas demonstrações, conversas e pesquisas para obter a confiança dos clientes.
– Todo o processo novo passa por um convencimento do consumidor. Foram meses de debate.
Betina revela também que o mercado da nanotecnologia cresce a cada dia e, com ele, aumentam os interessados em seus produtos diferenciados.
O que é a nanotecnologia?
É a capacidade de criar produtos de qualidade superior aos existentes a partir da organização dos átomos da forma desejada.
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Em um tecido hidratante, por exemplo, cápsulas quase que invisíveis guardam o cosmético, que é programado para ser liberado a partir de uma ação específica do corpo, como o calor ou a fricção.
Com a nanotecnologia é possível produzir materiais muito mais eficientes usando menos matéria-prima. Trabalhar com um material na escala nano das moléculas, em vez da macro, significa potencializá-lo.
Serviço
O quê: 3º Workshop Nanotecnologias: da ciência ao mundo dos negócios
Quando: Quinta (21) e sexta-feira (22)
Onde: Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Rodovia Admar Gonzaga, 2765, Itacorubi, Florianópolis
Inscrições (gratuitas) e informações: workshopnano.abdi.com.br