Enviado especial da NSC ao Rio de Janeiro
Um desconhecido ruma para o Palácio Guanabara, a sede do governo do Rio de Janeiro. Até três semanas atrás, era raro encontrar alguém que tinha ouvido falar no nome de Wilson Witzel (PSC) pelas ruas da capital fluminense e sabia da sua trajetória. Aos 50 anos, o ex-juiz federal natural de Jundiaí (SP) lançou-se à vida política em março ao se filiar no PSC e, na primeira empreitada, desbancou até mesmo o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que liderou o município de Rio de Janeiro no seu auge: ao sediar a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
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Com 4.675.289 (59,87%) votos contra 3.134.250 de Paes, Witzel venceu uma eleição com traços quase idênticos à de Santa Catarina: o candidato que apoia Jair Bolsonaro arrebata votos Estado adentro com discurso de renovação, do novato na política, sem os vícios e ranços do sistema, mesmo partindo de 1% das intenções de voto no início da campanha, em agosto.
Apesar de liderar a votação e obter 41,28% dos votos válidos no primeiro turno, a trajetória no segundo round não foi tão serena como parecia. Conforme as pesquisas avançavam, Witzel via sua performance encolher e a do adversário expandir nas pesquisas. A aparente derrocada tinha motivo: o eleitor passou a conhecer melhor o candidato e a desconfiar.
Na última semana, vieram à tona denúncias de supostas relações próximas de Witzel com Sérgio Cabral, ex-governador que está preso pela Lava-Jato, um advogado e um empresário. O advogado foi condenado a três anos por subornar policiais ao ser abordado enquanto levava no porta-malas o traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, auxiliando-o na fuga. O empresário teria ainda extenso histórico de contratos bilionários suspeitos com o Estado, alguns feitos sem licitação.
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Witzel atuou por 17 anos como juiz federal no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Entre os processos que conduziu, não há protagonismos. Em março, decidiu pedir exoneração do cargo para se filiar ao Partido Social Cristão, o mesmo ao qual pertencia Jair Bolsonaro de 2016 até o início deste ano.
Desde então, o ex-juiz e ex-fuzileiro naval passou a defender posições duras contra a criminalidade. Chegou a dizer em setembro ao jornal O Globo que bandidos com fuzil devem ser abatidos pela polícia. Vociferava não ter medo da criminalidade, embora tenha permanecido pouco tempo à frente da Vara Criminal. O discurso radical e a tentativa de colar sua imagem à de Bolsonaro o fizeram decolar nesta eleição.
No discurso da vitória, ontem à noite, no centro de eventos Ribalta, na Barra da Tijuca, o vencedor enalteceu o apoio recebido nas urnas, sobretudo no interior do Estado.
– Neste segundo turno, percebemos que a esperança renasce do povo do Rio de Janeiro. A votação expressiva no interior conclama um olhar atento à situação vivenciada pelos municípios da zona rural, que tem sido abandonados, inclusive com violência que outrora não era algo que preocupava – disse.
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Ele ainda afirmou que pretende nomear secretários até novembro e não descarta o pedido para abreviar o decreto de intervenção militar, que vence em 31 de dezembro.
O novo governante terá pela frente um desafio maior do que a epopeia eleitoral. Terá de devolver aos trilhos um Estado quebrado, com explosão da violência, cofres públicos colapsados, atraso de salários, fechamento de empresas e fuga de investidores. Além disso, foi diretamente castigado pelos escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras – cuja matéria-prima, o petróleo, engorda as receitas do Estado com os royalties – e pela herança de Sérgio Cabral, ex-governador, preso desde 2017.
A partir de hoje, o anonimato, além do sossego de Witzel chegam definitivamente ao fim.