Se no Brasil realeza é artigo de museu, na Holanda, príncipes e princesas, xeiques, duques e duquesas de carne e osso festejaram nos últimos dois dias diante da plebe entusiasmada a coroação de Willem-Alexander, 46 anos.
Continua depois da publicidade
Filho de Beatrix, que abdicou ao trono após 35 anos, Willem-Alexander forma com a mulher, a argentina Maxima Zorreguieta, o casal mais jovem das monarquias ocidentais, cuja faixa etária média é atualmente de 71 anos. Eles serão chamados rei Willem-Alexander e rainha Máxima.
Ao jurar com o manto de bordas de arminho que Beatrix, agora princesa, vestiu nas últimas três décadas, Willem pediu união:
– Meu reinado chega em tempos em que muitos se sentem vulneráveis e inseguros. Como uma família, como amigo, como moradores e vizinhos, como cidadãos de um reino, como habitantes da terra, enfrentamos numerosos desafios que somente podem ser resolvidos em nível internacional.
O jovem rei – que passa a ser soberano dos Países Baixos (reino que inclui os territórios caribenhos de Aruba, Curaçao e Saint Maarten) – deve adotar um estilo mais descontraído do que o de sua mãe: em uma entrevista transmitida pela televisão estatal, duas semanas antes de sua entronização, ele afirmou que quer ser um “rei do século 21”, conciliando tradição e modernidade, e, sobretudo, não um “fetichista do protocolo”.
Continua depois da publicidade
Apesar de ter poderes políticos limitados, Willem vê sua popularidade crescer entre os holandeses – hoje é de 69% e há um ano era de 59%. O fenômeno se explica em boa medida pelo carisma da mulher, agora rainha consorte. Plebeia e argentina, Maxima exerce sobre os holandeses algo comparável ao fascínio crescente dos britânicos por Kate Middleton, a mulher do príncipe William, da Grã-Bretanha. Mas nem sempre foi assim. A classe política holandesa e a maioria dos cidadãos viam com grande preocupação a escolha de seu herdeiro em razão passado do pai de Maxima, Jorge Zorreguieta, secretário de Agricultura durante a ditadura militar argentina (1976-1983). O pai foi impedido de assistir ao casamento, 11 anos atrás e, agora, Maxima se adiantou para anunciar que seus pais tampouco compareceriam à entronização.
O evento foi celebrado por milhares de holandeses. Na Praça Dam, cerca de 25 mil pessoas se aglomeraram para ver o o casal e as três princesas na varanda do Palácio Real.
Já como reis, Willem-Alexander e Máxima se dirigiram à Nova Igreja para celebrar a cerimônia de entronização, em uma sessão conjunta nas duas câmaras legislativas do país, Senado e Congresso. Essa celebração, quando o rei é formalmente confirmado e jura a Constituição, teve a participação de mais de 2 mil convidados, incluindo 30 representantes de 19 casas reais.
O rei agradeceu a sua mãe pela educação recebida e por seu reinado.
Beatrix, sentada na primeira fila com a princesa herdeira Catharina-Amalia, nove anos, e suas duas irmãs, estava visivelmente emocionada.
Continua depois da publicidade
– Cada soberano tem o seu papel a cumprir, e há uma pessoa diferente para cada tempo diferente – disse o rei, pouco antes dos membros do Parlamento proferirem sermões.
A cerimônia foi marcada também pela ausência do irmão mais novo de Willem-Alexander, o príncipe Friso, em coma desde um acidente de esqui em fevereiro de 2012.
O dia histórico teve ainda direito a mais um protocolo de conto de fadas. Após o discurso, veio a saudação:
– Viva o rei!
E em seguida, a plateia bradou:
– Hurra! Hurra! Hurra!
A polícia chegou a deter dois republicanos que agitavam um cartaz escrito “Eu não sou um súdito”, antes de levá-los a um local autorizado para manifestar. Willem-Alexander é o primeiro homem a assumir o trono da Holanda nos últimos 123 anos.
Continua depois da publicidade