Wander Wildner para presidente
O gaúcho Wander Wildner já foi boy do subterrâneo, já teve uma camiseta escrita “eu te amo”, já acreditou em milagres. Hoje, pergunta no título de seu oitavo disco: Existe Alguém Aí?. Diz ele que é um álbum conceitual, com sua visão crítica da sociedade. Mas não espere panfletagem. O ex-replicante, ex-punk-brega e ex-trovador folk está calejado demais para dividir o mundo entre destros e canhotos ou achar que tem a solução para os problemas urbanos. Aos 55 anos, encara a política em seu sentido mais amplo, priorizando pessoas a ideologias.
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A inclinação estadista de Wander vem em boa hora. Em tempos de posições extremadas, de indignação seletiva e de apostas no quanto pior, melhor, o bardo comporta-se como um Pepe Mujica do rock. Com a simplicidade e a clareza do ex-presidente uruguaio, fala de solidão (Sua Própria Companhia), da metrópole caótica (Réquiem para uma Cidade), de levar uma vida saudável (Plantar, Colher e Depois Dançar). Ainda que aborde questões pontuais, como em Naquela Noite Ela Chorou, importa-se mais com a frustração do que com o resultado das urnas.
Antes que o trecho “todos viram a democracia acontecer, mas com um resultado devastador” preste-se a interpretações oportunistas, ele explica que refere-se à eleição de Lasier Martins (PDT-RS) ao senado, em 2014. Ao perceber que “a maioria queria o que ela não queria”, a moça da canção lamenta e vai em frente. Um futuro cheio de esperança a recebe em Numa Ilha Qualquer e em Saudade, porque Wander pode até mudar o som para mais pesado ou a temática para menos romântica, nunca o tom. No fundo, é o mesmo querido de sempre.
Dias de ovelha negra
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Outra cantora que junta-se à lista das dez brasileiras para ficar ligado publicada aqui na semana passada é Andreia Dias. Em seu quarto disco, Prisioneira do Amor, ela desencava dez músicas gravadas por Rita Lee de 1968 a 1978 – das quais apenas uma, Ovelha Negra, foi hit. Entre as versões dirigidas por Tim Bernardes, do trio O Terno, estão curiosidades como os versos censurados em 1972 (“Beije-me a boca / Com tua boca vermelha / Para que eu sinta a saliva / E o gosto de cuspe / Escorrendo entre os dentes meus”) de Beija-me Amor.
TEM QUE CONHECER | SHUGGIE OTIS
Em 1974, quando lançou Inspiration Information, no qual cantou e tocou guitarra, piano, órgão, baixo e bateria, Shuggie Otis tinha apenas 22 anos. Apesar da pouca idade, a fluidez com que ele costurava soul, R&B e funk despertou comparações com Marvin Gaye, Curtis Mayfield e Sly Stone. Os Rolling Stones também piraram e o convidaram para substituir Mick Taylor. Como bom torto, o californiano recusou. Pouco depois, devido ao fraco desempenho do disco, foi dispensado da gravadora e se retirou da cena (rumores apontam para complicações com drogas). Reapareceu com a edição do álbum em CD, em 2001, mostrando o gigante que poderia ter se tornado.