O Diário Catarinense entrevistou os três candidatos à prefeitura de Lages. Confira abaixo a entrevista com o candidato Roberto Amaral (PSDB):
Continua depois da publicidade
DC – O senhor tem 69 anos de idade. Por que só agora a candidatura?
Amaral – Somente agora me acho em condições de deixar a minha empresa totalmente. Há oito anos eu venho trabalhando na sucessão. Isso me dá a possibilidade de me dedicar totalmente à vida pública. Antes não podia fazer isso, sou presidente da empresa. Todo o grupo é somente meu e da minha família. Não tinha possibilidade de ir para a vida pública antes sem comprometer a empresa como um todo.
DC – Em um primeiro momento, não havia consenso do PSDB para a sua candidatura…
Continua depois da publicidade
Amaral – Não. Isso foi uma invenção da imprensa. Fui convidado pelo senador Dalírio e pelos então dirigentes do partido para entrar no partido. Entrei a convite deles para ser o candidato do partido. No decorrer do processo alguns postularam candidatura em chapa pura. Não concordei porque eu precisava de coligações, mais tempo de TV, mais estrutura. Com chapa pura teríamos dificuldades. Por conta dessa insistência o diretório estadual interviu no partido e formou uma nova Executiva. Mas em nenhum momento houve manifestação para que eu não fosse candidato do partido. Não teve nenhum outro candidato.
DC – Não fica uma ferida no partido?
Amaral – Não fica porque as pessoas que saíram da Executiva não fizeram nenhuma manifestação até agora de repúdio, de alguma coisa nesse sentido. O PSDB ainda é um partido pequeno em Lages, precisa engrossar as fileiras, e essa coligação foi absolutamente necessária.
DC – O senhor tem o apoio do PT, que historicamente nunca foi um apoiador do PSBD…
Amaral – O PT está nesse grupo de partidos que hoje administra a cidade. Então, o PT se engajou, teve as autorizações necessárias para me apoiar.
Continua depois da publicidade
DC – Não há risco de a aliança futuramente enfrentar resistência do PT?
Amaral – Não existe isso. Em Lages há um caleidoscópio de partidos. O meu adversário tem o PCdoB na coligação dele. Há todos os matizes. Nossa coligação tem o DEM, está junto com o PT na mesma chapa de vereadores. Quando você tem uma coligação você tem uma possibilidade muito maior de atender a todos os segmentos da sociedade.
DC – O senhor tem o apoio do atual prefeito…
Amaral – Não, tenho o apoio do PMDB, que é o partido do atual prefeito.
DC – Se incomoda se disserem que o seu governo é de continuidade?
Amaral – Não, eu me importo se me chamarem de continuísta, mas não de continuidade. A Festa do Pinhão é uma continuidade de 25, 30 anos. Talvez seja um dos maiores eventos de Santa Catarina, se não for o maior, porque houve continuidade. Os governos têm de se preocupar em políticas de Estado, não políticas de governo. Os mandatos são muito curtos, a cidade é sempre a mesma. Não é possível que as prioridades mudem ao sabor de uma eleição. Entrei no PSDB em abril, nunca fui candidato a nada. E vou ser candidato só a prefeito de Lages.
DC – O senhor é candidato a um mandato só?
Amaral – Não, isso eu nunca disse. Sou candidato a prefeito e posso eventualmente ser candidato a uma reeleição. Posso, mas não pretendo. Mas nunca disse a ninguém que sou candidato de um mandato só. Dificilmente vou à reeleição, já estou com quase 70 anos, mas não vou dizer coisas que, depois, possa me arrepender.
Continua depois da publicidade
DC – O senhor tem extenso currículo acadêmico e profissional. Lhe falta o mesmo patamar enquanto gestor?
Amaral – Tenho experiência. Fui presidente da Companhia de Tecnologia do Estado. Fui diretor da Codesc. Fui eu que fundei a Acaert, fui duas vezes presidente. Sou presidente licenciado do Parque Orion, sou presidente do Consel. Tenho uma bagagem de administração pública e de classes, de ONGs, que é muito maior do que um adversário meu, efetivamente foi presidente do Conselho do Diretório Acadêmico. Eu também fui presidente de diretório acadêmico na engenharia. Fiz administração na Esag em Florianópolis, é uma escola de administração voltada à administração pública. Fiz mestrado em administração, fiz doutorado em engenharia e gestão do conhecimento. Estou fazendo pós-doutorado na UFSC. Tenho 28 artigos científicos, nove ou dez capítulos de livros publicados, dois livros publicados. O último artigo que estou publicando é sobre dados abertos, dados voltados à administração pública. Os dados da prefeitura são dos cidadão. Vamos fazer em Lages uma administração pública diferenciada porque estará aberta.
DC – Sua proposta é instituir mais transparência. Os servidores serão mais fiscalizados?
Amaral – Primeiro, vamos instituir um órgão de compliance. A palavra é em inglês, não tem tradução em conformidade. O que não estiver em compliance não vamos fazer. Não estamos falando de secretaria, teremos uma área na prefeitura. Compliance do prefeito, do secretário, do servidor, de todos os níveis da administração. Isto vai ser perseguido dia após dia. Tenho como referência Goiás, mas as empresas americanas todas já têm. Acho que é muito moderno para o país, senão não estaríamos passando por tudo o que passamos no governo federal, no governo municipal, se tivéssemos essa questão bem limitada, bem clara. Não vamos transigir em nada que possa ser entendido como falta de compliance.
Continua depois da publicidade
DC – O senhor fala muito em tecnologia, inovação. Diria que a administração municipal parou no tempo?
Amaral – A administração pública parou no tempo, especialmente a do Estado e dos municípios. A administração federal está melhor do que a estadual e municipal com relação à utilização efetiva da tecnologia da informação para que se faça uma gestão eficaz e transparente. Os municípios precisam usar as ferramentas de BI, entender que o Big Data precisa ser utilizado. Vamos achar como desenvolver um aplicativo que possa facilitar essa transparência para o cidadão. Você vê alguma coisa errada, fotografa e já manda. Nós no Ciasc desenvolvemos essa ferramenta e disponibilizamos para a prefeitura de Lages gratuitamente para a Ouvidoria. Isto já está implantado. Ainda está em teste. Você já manda aquilo para o setor de triagem e, automaticamente, recebe no seu celular o que aconteceu. Se o secretário recebeu a informação…
DC – Sua proposta em relação às empresas é estimular o desenvolvimento de dentro para fora. Isto pode vir a barrar grandes empresas na cidade?
Continua depois da publicidade
Amaral – De jeito nenhum. Quase 70% da nossa arrecadação está nas mãos de quatro empresas. A Ambev tem 40% da arrecadação de Lages, é uma dádiva. Essas empresas são importantes para o equilíbrio fiscal, mas são menos importantes para a geração de empregos. Se elas têm 60 a 70% da arrecadação, tem 5% dos empregados. Precisamos preparar melhor a nossa gente para que, quando essas empresas vierem, absorvam a mão de obra mais qualificada nossa. E vamos dar ênfase às pequenas empresas com perspectiva de crescimento.
DC – O governador apóia outro candidato da cidade. Caso o senhor seja eleito, isto não implica em ter mais dificuldade nos pleitos?
Amaral – Quem me ensinou isto foi o Raimundo. Ele diz que picuinhas políticas não constroem hospital, não fazem pontes nem estradas. Sou contraparente dele, padrinho dos filhos dele. Tenho uma ligação afetiva, de amizade, intimidade, que não vai se abalar por conta de uma eleição. Estamos juntos há 35 anos, 40. Tenho certeza absoluta de que o governador não vai discriminar Lages, a cidade dele. Ele vai ter facilidades comigo. Ele apóia o candidato do partido dele, não podia ser diferente. Acabando a eleição, vou procurar o governador e vou querer fazer todas as parcerias possíveis. O que não vai haver é picuinha.
Continua depois da publicidade
DC – O quadro atual da prefeitura está inchado? Pretende enxugar?
Amaral – Não vi ainda como está. Não vou ser leviano de dizer “vou demitir não sei quantos, vou diminuir secretarias”. As secretarias são necessárias por conta de políticas públicas oriundas de Brasília. Para ter os recurso da Saúde, precisa ter secretaria de Saúde… É preciso ter secretarias que espelhem nos municípios o que há no federal. Vamos ter os funcionários da prefeitura adequados para prestar um bom serviço à população. Temos hoje 47% do orçamento em folha de pagamento, é um número confortável para a administração. Se pudermos ter 30% nós teremos, mas não vamos privar a população de serviços essenciais.
DC – Sua coligação é ampla. Há quem se preocupe com a acomodação de cargos depois…
Amaral – Quando você governa com 11 partidos, tem que escutar os 11. Não tenho dúvidas de que os partidos vão indicar em áreas afins às suas ideologias. Mas todos os secretários, todos os cargos serão de confiança do prefeito da cidade. Não vou repassar nenhum tipo de decisão que não seja minha. Vou fazer 70 anos, não vou manchar minha biografia. Entrei para deixar legado e mais nada.
DC – Por ser um empresário bem-sucedido, não teme ser tachado como um homem distante do povo?
Amaral – Não, porque agora estou perto. Com a fundação Carlos Jofre, que instituí com o nome do meu pai. Com a Rádio Clube, que é extremamente prestativa, ligada ao povo. Agora estou indo aos bairros, estou em todos os lugares. Aí vejo o quanto nós somos ligados ao povo de Lages, aos que mais necessitam. Meu pai era o “pai da pobreza”. E eu quero ser visto como alguém que cuidou dos bairros. Quem sustenta o Centro da cidade são os bairros. Nossas lojas, as compras, pode ter certeza que 70 a 90% são pessoas dos bairros. Quem irriga o Centro são os bairros.
Continua depois da publicidade
DC – O modelo atual do transporte coletivo o incomoda?
Amaral – Sim. Esse modelo dos terminais, em que você pega uma pessoa de um bairro e a enclausura em um terminal, naquele campo de concentração, junta as pessoas todas que não podem sair para comprar um picolé… Esse modelo de grandes terminais está ultrapassado. Como se acerta? Ônibus geo-referenciados, onde você tem pequenos abrigos de ônibus e pode ver em quantos minutos aquele ônibus vai sair. Se vai demorar, você pode comprar, ver uma vitrine, terá menos estresse. Temos que diminuir a incerteza das pessoas. Estudei as smart cities, cidades inteligentes. O conceito de smart cities é esse. Não tenho a percepção de que precisa trocar de operadora. É o momento, agora, de não dar insegurança. Eles têm de fazer de acordo. Quero ver quantos ônibus têm plataforma para portadores de necessidades especiais.
Nuvem de palavras do candidato