Paulo Bauer busca um feito histórico nas eleições deste ano: a primeira reeleição de um senador catarinense. Político de longa data, Bauer, que atualmente é o líder da bancada do PSDB no Senado, chegou a ser pré-candidato ao governo do Estado, mas nas vésperas do início da campanha, oficializou a candidatura para senador deixando a disputa pelo comando de Santa Catarina nas mãos de Mauro Mariani (MDB). Agora, em plena campanha, encampa o discurso de que, se reeleito, não fará mais do mesmo.

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Confira abaixo o que o candidato tem a falar em mais uma entrevista da série com os candidatos catarinenses ao Senado produzidas pelo Diário Catarinense.

Perfil

Nascimento e idade: 20/03/1957 | 61 anos

Naturalidade: Blumenau

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Profissão: senador

Escolaridade: superior

Carreira política: eleito deputado federal por quatro mandatos e, desde 2010, é senador

Vídeo: confira as principais propostas de Paulo Bauer, candidato ao Senado pelo PSDB

Ser candidato ao Senado não era o primeiro plano do senhor, que pretendia disputar o governo. Foi uma desistência ou um acordo da coligação?

Foi a consciência, a conscientização de que nós precisamos unir forças para ajudar o Brasil a sair dessa situação de crise econômica, crise política, crise moral e também a necessidade de unirmos forças para dar um projeto viável de governabilidade para Santa Catarina. Eu, de fato, me preparei para ser candidato (ao governo), mas no momento em que a campanha estava por se iniciar eu constatei que eu não conseguiria trazer aliados para o projeto do PSDB. Nós não estávamos viabilizando as condições para desenvolver uma campanha com o número de candidaturas à deputado estadual suficientes, não havia condição de tempo de televisão e de rádio na programação eleitoral e haviam deficiências que nós iríamos ter muita dificuldade de superar na campanha. Então, a melhor providência era identificar quais os outros partidos que estavam presentes no pleito, quais as propostas que eles tinham e nós encontramos, justamente na candidatura e no projeto do PMDB, do Mauro Mariani, as condições para fazermos esse projeto e esse trabalho. Aí, obviamente, como eu ainda desejo contribuir com Santa Catarina e com o Brasil, muito em função da experiência que agora tenho como senador, como líder de bancada que fui, como o senador que mais apresentou projetos de lei entre os senadores de Santa Catarina e, inclusive, transformei dois projetos de lei, a lei das mulheres e a lei da lactose, como senador que viabilizou recursos para os 295 municípios de Santa Catarina, eu sou o primeiro da história a realizar essa tarefa, digamos assim, eu me senti na obrigação de oferecer novamente o meu nome à consideração dos eleitores e se eu merecer a aprovação e os votos necessários, vou contribuir para que a gente faça o Brasil avançar. É preciso que o Brasil se unifique, que o Brasil encontre um rumo, é preciso que a política se torne uma coisa de grande e elevada qualidade no país, ao contrário do que temos visto no passado recente.

Na história de SC, nenhum senador conseguiu a reeleição. Por qual motivo o senhor acredita que esse ano será diferente?

Por que eu trabalhei como senador, como poucas vezes fiz na vida, oferecendo minha contribuição para o país, para o Estado, municípios e sociedade com atos e com ações concretas. Não foi só discurso, foi efetivamente apresentando projetos, trabalhando na representação política, buscando investimentos e recursos para o Estado, fazendo parte da discussão política e fazendo parte da decisão política nacional, sempre sintonizado com o pensamento e com o sentimento dos catarinenses. Por isso tudo, considero que eu posso me apresentar como candidato e inclusive considero que não há porque querer conceituar que eu estou indo para uma reeleição para fazer o mesmo. Eu vou para uma reeleição para fazer mais porque cada mandato é um novo mandato. O momento político é outro e será ainda diferente o partido ano que vem, a participação e a fiscalização da sociedade, as exigências da sociedade são muito maiores e nós temos um momento democrático bem mais amplo e transparente hoje do que tínhamos no passado recente. Por isso, tenho certeza que mesmo reeleito, mesmo sendo o primeiro reeleito da história, será um novo mandato e terá ainda mais resultados em favor da democracia e em favor do país e do Estado.

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Na coligação que o senhor está concorrendo a “SC quer mais” concorre também Jorginho Mello, pelo PR. O senhor o vê como um adversário?

Não, absolutamente. É aliado, estamos juntos, fazemos campanha juntos. A nossa agenda é simultânea, estamos presentes em todos os eventos da nossa coligação, falando reciprocamente um do outro sobre o que cada um realizou. O deputado Jorginho Mello realizou muito como deputado federal, presidente da assembléia, tem uma biografia política de qualidade, por isso não considero ele um adversário ou concorrente, ele é apenas um grande parceiro que eu considero muito e ficaria muito feliz se ele pudesse estar ao meu lado no próximo mandato.

O senhor é investigado no STF por corrupção e lavagem de dinheiro. É possível fazer política e manter uma relação entre Executivo e Legislativo sem corrupção?

Eu tenho certeza que sim. Quanto ao meu assunto, quanto ao processo que existe com relação a mim, eu estou absolutamente tranqüilo e apoio todas as ações porque acho que a vida pública precisa ser transparente e tem que ser realizada por quem tem, acima de tudo, biografia e honradez, e felizmente, graças a Deus, eu tenho as duas nos 40 anos de vida pública. Qualquer coisa que se diga a respeito de qualquer político, qualquer suspeita que exista, tem que ser investigada e eu acho isso absolutamente normal e positivo. Por isso, considero que a política brasileira vai ficar muito melhor a partir de tudo que nós vimos de Lava-Jato, de mensalão do Lula, de corrupção denunciada e de, responsáveis pela punição, punindo. Isso ajuda para que a política se qualifique e a democracia de aperfeiçoe.

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Ano passado o senhor chegou de ambulância ao Senado para votar pela volta de Aécio aos trabalhos na Casa. Isso pode repercutir negativamente nas urnas?

Eu estava apenas cumprindo meu dever. No Senado quando se coloca uma matéria em votação a gente tem que votar. Só isso. E eu estava votando para defender a constituição federal. Eu não estava votando para defender o Aécio. Quero fazer esse reparo e peço que fique registrado com muita clareza. Tive um problema de saúde, fui levado a um pronto socorro e no momento da votação faltava um voto para se ter o quórum necessário, então eu voltei ao plenário para votar. Portanto eu não fui de ambulância votar, foi necessário eu ir de ambulância. E posso dizer que eu não fui lá votar para salvar ou para defender ninguém. Fui lá para cumprir a constituição que estava sendo ofendida por uma decisão do Supremo Tribunal. O Supremo Tribunal usurpou, ou melhor, não o Supremo, uma Câmara do Supremo usurpou da sua competência, tomando uma decisão que não estava prevista na constituição, por isso o Senado precisou se manifestar sobre aquele episódio. Com relação ao Aécio acho que ele tem que se defender na Justiça das acusações, se for inocentado receberá a declaração de inocência, se for culpado será penalizado e responsabilizado pelos seus atos. Essa é a minha postura, sempre foi e continuará sendo.

Que lição o senhor tira dos anos em que já atuou no Senado?

A sociedade está exigindo que a partir de agora se faça diferente, de uma outra forma, e eu estou justamente na campanha eleitoral buscando as informações, a manifestação a opinião pública, da sociedade e dos eleitores quanto ao que eles desejam. Um político não é eleito para fazer o que ele quer, um político é eleito para fazer o que a sociedade quer. Então, não adianta dizer ‘o senhor vai lá para fazer isso ou aquilo’, não. Eu vou para lá fazer o que a sociedade quer e o que ela pleiteia neste momento. Cada momento, cada eleição é um momento diferente. Eu fiquei como senador por oito anos trabalhando por seis anos na oposição. Não era recebido nem pela presidente da República, nem por ministros de Estados. Em caso de ministros as vezes aguardava dois, três meses para ter uma audiência, para tratar de assunto de interesse de Santa Catarina. Tanto que eu não fui amigo da presidente e nem fui aliado do governo, fui oposição. Na oposição o trabalho de oposição é fiscalizar, cobrar, apresentar propostas que o governo aceite ou não. No caso, poucas vezes aceitou as sugestões e propostas. Leis, naturalmente, tramitaram no Legislativo por que o legislativo tem sua autonomia. Nos últimos dois anos, aí sim, fui um senador que apoiou as ações positivas, as propostas positivas do governo e, essas propostas necessárias para que o país vencesse a crise econômica, gerasse empregos, diminuísse inflação… Sempre essas três coisas foram as que orientaram os meus votos desde o processo de impeachment, aliás, no qual eu votei favoravelmente. Portanto eu preciso sempre dividir o meu mandato de senador e em dois tempos, primeiro o tempo de oposição e o segundo tempo, o tempo em que em defesa da constituição e da solução dos problemas do Brasil, passei a apoiar determinadas propostas, não todas é verdade, mas propostas que salvassem a economia, gerassem emprego e controlassem a inflação, além de outras de menor importância na área da gestão pública, mas que também mereceram meu apoio. Considero que a partir de agora, no próximo ano, o Brasil vai eleger um novo presidente, eu espero que seja o presidente que eu apoio, que é do meu partido, que é o Geraldo Alckmin, mas eu também espero que o país inteiro contribua e colabore elegendo deputados e senadores que efetivamente tenham um compromisso com essa necessidade, com esse desejo que os brasileiros têm manifestado de mudanças. O governo tem que ser mais ágil, mais transparente, tem que ser mais próximo das pessoas.

O senhor comentou que não vai fazer diferente, mas sim que sente que o eleitor busca atitudes diferentes. O que seria isso?

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Nós temos três questões que precisam ser colocadas. A primeira é que é necessário que nós tenhamos um presidente e um governo que trabalhe com maior foco, definição. Ele tem que ter clareza de quais são as suas prioridades. Um governo que tem tudo como prioridade acaba não tendo nenhuma prioridade. Então nós queremos que na eleição presidencial e depois na gestão do eleito, as prioridades estejam bem definidas e então nós poderemos trabalhar para dar maior foco nelas, coisa que não tivemos nesses últimos oito anos. Segundo, é preciso que o Congresso Nacional faça as reformas necessárias para o país. A reforma política é inadiável, tem que acontecer para acabar com essa coisa de 35 partidos, com essa coisa de os interesses partidários e políticos estarem muito acima dos interesses da própria sociedade ou do próprio país. Temos pequenos partidos que hoje estão muito mais comprimindo e impedindo o andamento das coisas do que contribuindo para que as coisas se resolvam no país, então, dentro de um cenário novo que eu imagino político, eleitoral, haverá mais facilidade de você como parlamentar falar em nome da sociedade, defender melhor a ideologia política que o se partido, que é o conjunto dos eleitores daquele partido desejam para o país e suas próprias vidas. A terceira coisa e utilizando-se de todas as ferramentas que estão cada vez mais acessíveis para a população, tornar o mandato mais próximo das pessoas. Ele pode estar mais próximo. Eu por exemplo fiz uma lei, chamada lei da lactose, que foi viabilizada, proposta por mim, graças a uma sugestão que um eleitor fez por internet, um cidadão de Braço do Norte, chamado Pedro Michels, e esse projeto de lei virou lei por que uma catarinense de Rio do Sul, chamada Jéssica Duarte, fez um abaixo assinado virtual, na internet, com mais de 40 mil assinaturas de todo Brasil e esse projeto tramitou no Senado e tramitou na Câmara graças a manifestação e participação dessa cidadã catarinense que motivou todos os deputados e senadores a aprovarem meu projeto, por isso a partir de janeiro todos os alimentos do Brasil terão escrito em suas embalagens se aquele alimento contém lactose ou não. Isso é cuidar das pessoas. Isso é deixar que as pessoas participem da política e do mandato. E é assim que eu penso em fazer no próximo período.