Até este domingo (2), a eleição de 2002 era sempre a citada pela direção do PT quando tentava demonstrar força do partido em Santa Catarina. Naquele ano, em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez, o ex-prefeito de Chapecó José Fritsch tirou proveito da onda favorável e ficou a menos de 2% de chegar ao segundo turno. Fora da disputa, o apoio petista é mencionado como importante para garantir a vitória de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), no que daria início à tríplice aliança que governou o Estado por 16 anos. Esse papel decisivo era lembrado como o melhor momento do partido em SC. Só até este domingo.

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Veja o resultado das Eleições 2022 em Santa Catarina

Vinte anos depois, outra eleição com Lula como candidato a presidente alavanca a votação do PT em Santa Catarina. Desta vez, no entanto, o partido conseguiu romper a barreira e chegar ao desejado segundo turno, inédito na história petista em SC. O ex-prefeito de Blumenau Décio Lima, na segunda tentativa de se tornar governador, fez 17,42% dos votos válidos. Em uma disputa apertada, decidida por 17,4 mil votos, conseguiu a vaga no segundo turno e deixou fora da disputa nada menos que o governador Carlos Moisés (Republicanos) — e o MDB que o acompanhava.

O resultado pode ter surpreendido eleitores, mas a estratégia estava clara desde o início das articulações dos partidos, no ano passado. Com Lula como candidato em um momento de alta popularidade e uma possível divisão de votos entre várias candidaturas fortes mais alinhadas à direita e ao bolsonarismo, um percentual mais baixo de votos poderia servir para garantir uma ida ao segundo turno.

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Nas últimas duas disputas com segundo turno em SC, os candidatos que passaram ao segundo turno ficaram próximos ou acima do patamar de 30%. Carlos Moisés, em 2018, fez 29,72% dos votos válidos, e Esperidião Amin, em 2006, chegou ao segundo turno com 32,7%. A Décio bastaram os 17,42% para assegurar a vaga.

A chegada de Décio também coincide no ano em que o PT teve a aliança mais ampla na disputa pelo governo. Nas últimas duas eleições, o partido concorreu em chapa pura. Neste ano, teve uma coligação com os partidos federados ao PT (PV e PCdoB), PSB e Solidariedade, e atraiu nomes que não eram exatamente do campo petista, como o senador Dário Berger e o ex-deputado estadual Gelson Merísio. A presença dos petistas em coligações com outros partidos, até mesmo situados mais ao Centro, era apontada por Décio como uma necessidade para o partido ter melhores desempenhos no Estado.

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A tática de “candidato do Lula”

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o resultado de Décio mostra um fenômeno de voto ideológico que parece ter se repetido nas eleições deste ano, como em 2018. Em uma eleição em que o que mobilizou os eleitores foi a polarização nacional entre Lula e Bolsonaro, muitos eleitores preferiram optar por um governador da mesma “linhagem”. E no campo de Lula, Décio corria sozinho na disputa pelo governo do Estado.

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Foi buscando atrair esse eleitorado que Décio vinculou toda a campanha estadual à polarização nacional, apresentando-se como o “candidato de Lula”. A tática deve continuar no segundo turno, que vai opor em Santa Catarina os escudeiros oficiais dos protagonistas da corrida presidencial. Na entrevista coletiva dada em meio a apoiadores no Centro de Florianópolis, Décio já fez referência a investimentos dos governos Lula e citou o segundo turno da eleição presidencial.

Vincular o voto de Lula foi apontado como o principal desafio de Décio no primeiro turno. No decorrer da campanha, subiu nas pesquisas de intenção de votos e diminuiu a distância para a preferência de Lula. Na metade de setembro, o ex-presidente veio a Florianópolis em um evento para tentar selar de vez a identificação de Décio com o presidenciável, o que pode ter contribuído para a arrancada final que colocou o petista na disputa com Jorginho.

Para o segundo turno, no entanto, Décio terá mais desafios do que apenas atrair o voto de Lula, já que o petista fez 29,54% dos votos em SC, enquanto Bolsonaro fez mais de 62%.

O professor de Administração Pública da Udesc e especialista em Cultura Política Daniel Pinheiro afirma que Décio continua com o desafio de captar os votos de Lula, mas também de outros grupos, como o de indecisos ou que se abstiveram.

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— A campanha precisará conquistar em SC também um eleitorado que teoricamente está mais favorável ao Bolsonaro — aponta.

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