Duas tragédias aéreas mudaram para sempre a segurança de aviões e aeroportos no mundo. A primeira, em 1973, com o voo da Varig RG-820, institui a presença de detectores de fumaça e materiais antichamas dentro das aeronaves. A segunda, que aconteceu em 11 de setembro de 2001, custou R$ 40 bilhões ao governo americano em segurança.
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É difícil que alguém se imagine fumando dentro de um avião, nos dias de hoje. Há 40 anos, era permitido fumar, e os restos acesos de um cigarro no toalete do avião da Varig que ia do Rio para Londres, com escala em Paris, provocaram um incêndio que matou 116 passageiros.
O livro Caixa-Preta, escrito pelo especialista em acidentes aéreos Ivan Sant’Anna, conta que o incêndio sequer foi combatido. O avião não tinha qualquer mecanismo de detecção de incêndios. A partir desta tragédia os aviões passaram a contar com detectores de fumaça e revestimento antichamas.
Em 2001, os atentados ao World Trade Center tornaram muito mais rígidos os procedimentos nos aeroportos. Nossas bagagens começaram a ser vistoriadas mais de uma vez e passamos a tirar os sapatos antes do detector de metais.
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Confira entrevista com Ivan Sant’Anna autor do livro Caixa-Preta
No livro Caixa-Preta, lançado em 2000, o escritor Ivan Sant’Anna narra com minúcias a história de três acidentes aéreos que comoveram o Brasil. O primeiro deles, envolvendo um avião da Varig, que completa, em 2013, 40 anos, pessoas morreram inalando a fumaça tóxica de um incêndio provocado por faíscas. E o Brasil reagiu, como com Santa Maria. Sant’Anna conta o que mudou depois do acidente com o avião que saiu do Rio e caiu em um campo francês.
Diário Catarinense – Na época do acidente havia alguma discussão sobre os riscos de fumar em avião?
Ivan Sant’Anna – Sim. Dois aviões tinham pego fogo no ar por causa do cigarro.
DC – O que mudou depois da tragédia de 1973?
Sant’Anna – Todo acidente grande e atípico provoca mudanças no mundo inteiro. Uma das mais importantes foi no revestimento da aeronave que, no caso do avião da Varig, era parecido com o da boate em Santa Maria, altamente tóxico. Foi uma fumaça tão rápida e tão violenta que, dos 117 passageiros do avião, só um levantou. O restante todo morreu nas cadeiras, com o cinto amarrado. Atualmente, o revestimento não é inflamável e há o sniffers (que detecta fumaça).
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DC – Se o mesmo acidente acontecesse hoje, 40 anos depois, o que mudaria?
Sant’Anna – Assim que o passageiro começasse a fumar, o comandante saberia. Não só que ele estava fumando, mas onde. Se o cara, hoje, começasse a fumar no banheiro, acenderia uma luz de alarme e os comissários abririam a porta. Se isso não funcionasse e o cigarro incendiasse alguma coisa, o revestimento de fumaça não é mais inflamável.
DC – Fala-se que os sobreviventes de Santa Maria, que inalaram a fumaça tóxica, correm o risco de sofrerem problemas respiratórios. Isso ocorreu no caso da Varig?
Sant’Anna – Eram 117 passageiros, 116 morreram. O único que sobreviveu, o Ricardo Trajano, que está vivo até hoje, teve problemas respiratórios graves. Ele ficou internado um tempão em Paris. Depois a Varig montou um avião CTI e o trouxe para o Brasil. Mas depois ele se curou. Os membros da tripulação que sobreviveram não tiveram problemas, porque estavam na cabine, e abriram as janelas de emergência.
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