O período do Natal e das festas de fim de ano são inspiradores para quem quer ajudar a tornar as vidas de outras pessoas mais felizes. É época de doações e de festas para os grupos mais vulneráveis da sociedade.

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Em Joinville, há voluntários que colaboram o ano inteiro dentro da comunidade, e que não fazem distinção em relação ao passado ou às escolhas de vida daqueles que são ajudados. “A Notícia” conta três histórias de grupos de voluntários que trabalham para melhorar o mundo de pessoas que, geralmente, são tratadas com preconceito e indiferença.

Confira as histórias:

24 de dezembro: Os voluntários que distribuem comida a moradores de rua em Joinville

25 de dezembro: Irmãs carmelitas abrigam mulheres grávidas em situação de vulnerabilidade em Joinville

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26 de dezembro: Grupo religioso ajuda a ressocializar detentos dentro e fora da prisão em Joinville

Dos 53 anos de idade, pelo menos 40 foram vivenciados em situação de rua. João Oliveira vive um dia de cada vez, sem saber o que lhe aguarda nos próximos minutos, sem saber quem vai encontrar em seus trajetos ou qual será a próxima refeição. Uma das únicas certezas que ele tem é de que o jantar e a oração da noite estão garantidos quase todos os dias em uma ação viabilizada pelo grupo de voluntários que o xará dele, João Xavier, coordena.

Xavier tem 71 anos, é aposentado e, coincidentemente, ajuda pessoas no período paralelo ao que Oliveira vive nas ruas: há 40 anos. São quase 30 grupos formados sob coordenação de Xavier. Há cinco anos, quase todos os dias, exceto às sextas-feiras, a comunidade “Eis-me Aqui” se reúne em uma praça próxima à Estação da Memória, no bairro Anita Garibaldi. Lá eles fazem rezas, conversam com diversos moradores e distribuem alimentos. Além deles, a comunidade Bethânia, que realiza trabalho com a recuperação de dependentes químicos, também participa.

Quando questionado sobre a importância do trabalho, Xavier não consegue conter as lágrimas. O tom de voz muda e ele responde:

– Eu me emociono com essa pergunta. Isso significa ganhar vidas para Deus, e ganhar vidas que sofrem. Eu não faço nada – considera.

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À esquerda, João Oliveira observa João Xavier palestrar momentos antes da entrega dos alimentos
À esquerda, João Oliveira observa João Xavier palestrar momentos antes da entrega dos alimentos (Foto: Patrícia Della Justina, AN)

– Um dia nós fizemos um retiro para eles e, como eles não queriam ficar longe, eles encheram de papelão aqui (na praça da Estação da Memória) para dormir. Pensa bem: você sai da sua cama de manhã para ir ajudar e, quando chega aqui, vê eles se levantando da cama deles que é um papelão no piso – lembra Xavier.

Xavier teve incentivo ainda quando era pequeno para o trabalho voluntário, sem se dar conta do impacto positivo que o traria mais para frente. Ainda menino, era a mãe dele quem costurava roupas para que ele levasse a quem não possuísse.

– Para mim isso tudo não tem preço. A comunidade Eis-me Aqui acolhe o morador como um filho. Eles são desvalorizados, mas o amor cura. Fora que tem aqueles que atiram pedras, mas tem também aqueles que atiram flores – ressalta.

Moradores se reúnem próximo à Estação da Memória
Moradores se reúnem próximo à Estação da Memória (Foto: Patrícia Della Justina, AN)

Moradores enfrentam preconceito

Para João Oliveira, uma das situações mais difíceis de lidar nas ruas é o preconceito sentido quase diariamente.

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– Às vezes a gente andando na rua e tem lugar que eu tenho vergonha até de passar. É constrangedor. Eu nem passo porque eles já sabem que eu moro na rua. E quando eu passo, é sempre assim (de cabeça baixa), fico quieto, nem olho, nem dou bom dia – conta.

Segundo ele, o constrangimento não é só com palavras ou olhares, mas também na dificuldade existente para conseguir emprego.

Moradores relatam que enfrentam preconceitos
Moradores relatam que enfrentam preconceitos (Foto: Patrícia Della Justina, AN)

– Eu sempre digo: tomara que você nunca passe pelo o que eu passo na tua vida. Que Deus te ilumine, te abençoe, e que você nunca venha a passar. Você sabe o agora, mas o após não. Todos nós somos humanos iguais. Ninguém é melhor do que o outro – considera.

Conforme o coordenador do Centro POP (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), Cleiton José Barbosa, não são todos os empregadores que optam por oferecer oportunidades.

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– Como eles (moradores de rua) não têm endereço fixo, por exemplo, eles não conseguem acessar o mercado de trabalho. Então eles ficam presos nesse ciclo e não é todo o empregador que dá esse voto de confiança. Os poucos que aparecem para fazer essa reaproximação, conseguem fazer um trabalho fantástico – ressalta Cleiton.

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