Voluntários buscam apoio para criar uma rede masculina para prevenir o câncer em Jaraguá do Sul

Ao acompanhar a esposa num tratamento de câncer de mama, no ano passado, o economista aposentado Antônio Marcos de Souza constatou que Jaraguá do Sul não contava com uma entidade voltada à saúde do homem. Aos poucos, o inconformismo com a falta do serviço se transformou em ação. Nascia assim o projeto “Saúde do Homem”, com o objetivo de criar na região uma rede masculina de combate ao câncer.

O pontapé para a iniciativa será dado neste sábado, às 9 horas, com uma assembleia aberta à comunidade no Sindicato do Vestuário. Além da eleição da diretoria e do conselho consultivo da entidade, será ministrada uma palestra sobre saúde do homem pelo patologista jaraguaense Antônio Carlos Scaramello.

De acordo com o idealizador, a intenção é conseguir mais apoiadores para o projeto, que deve atender pacientes de forma semelhante à rede feminina, com acesso mais facilitado a remédios e garantindo o apoio necessário para enfrentar a doença.

O “Saúde do Homem” conta com seis integrantes e três já tiveram câncer. A ideia é que a entidade comece a funcionar dia 19 de novembro, quando é lembrado o Dia Internacional do Homem. Pelo menos 13 funcionários, entre contratados e voluntários, devem prestar serviço na entidade, e a despesa mensal será de cerca de R$ 70 mil. Os recursos serão buscados com o Ministério da Saúde, doações da comunidade e eventos sociais.

Os voluntários pretendem implantar uma sede na região central. A previsão é que o prédio tenha área de, no mínimo, 300 m², e terreno com 1 mil m² para o estacionamento e a expansão do espaço, de acordo com a demanda. O investimento previsto é de R$ 1,2 milhão. O grupo também pretende criar um site para divulgar as ações de prevenção, principalmente em relação ao câncer de próstata, um dos mais comuns no país.

No Estado, a cidade de Navegantes, no Vale do Itajaí, também está se mobilizando para implantar uma rede masculina de combate ao câncer.

– O governo investe pouco na saúde do homem. A sociedade precisa se mobilizar para começar a mudar essa realidade – opina Antônio.

Gildo enfrentou a doença duas vezes

O presidente do Sindicato do Vestuário de Jaraguá do Sul, Gildo Alves, 60 anos, é um dos integrantes do movimento. Ele ficou sensibilizado com a iniciativa principalmente por ter enfrentado dois tipos de câncer, de rim e bexiga.

A retirada de um dos rins aconteceu em 2008, depois que uma ultrassonografia constatou um tumor em estágio avançado, que causava muitas dores.

– Eu estava com infecção urinária e fui ao médico. Assim que o câncer foi descoberto, fui internado para a cirurgia. Fiquei 23 dias no hospital – relembra.

Quatro anos depois, ao fazer os exames periódicos exigidos devido a retirada do rim, Alves descobriu um tumor na bexiga em fase inicial. A cirurgia transcorreu bem e hoje ele leva uma vida normal.

Mama e próstata são os mais comuns na região

Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) de 2012, válidos também para 2013, apontam a ocorrência de 518.510 mil novos casos de câncer no Brasil – 257.870 para o sexo masculino e 260.640 para o feminino. Os tipos mais comuns nos homens são o de pele não melanoma, próstata, pulmão, cólon e reto e estômago. Já as mulheres sofrem mais com o câncer de pele não melanoma, mama, colo do útero, cólon e reto e tireoide.

Na Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital São José, referência no tratamento do câncer na região, 4.950 pacientes do SUS passaram pelo processo de quimioterapia em 2012. Levantamento do órgão aponta que o câncer mais comum é o de mama (47%) e em seguida o de próstata (12%). Além de pacientes do Vale do Itapocu, são atendidos moradores de São Bento do Sul, Rio Negrinho e Campo Alegre.

Dados do Ministério da Saúde mostram que, a cada três adultos que morrem no Brasil, dois são homens. A gerente de auditoria, controle e avaliação da Secretaria de Saúde de Jaraguá do Sul, Fabiana Conrado, afirma que essa realidade poderia ser diferente se eles se cuidassem mais.

– As mulheres prestam mais atenção em si mesmas, já os homens resistem e costumam procurar o médico só em último caso. Além da questão cultural, também faltam políticas públicas voltadas ao homem, dificultando o acesso ao atendimento – afirma.

Serviço:

O quê: Assembleia geral para a criação da Rede Nacional Masculina de Combate ao Câncer

Quando: sábado, às 9 horas

Quanto: entrada gratuita

Onde: Sindicato do Vestuário (rua Francisco Fischer, 60, Centro)

Informações: 9103-9359