Toda sexta-feira pela manhã, a agenda do pneumologista Albino José Souza Filho, 80 anos, tem um compromisso fixo. Ele toca piano no Hospital São José, em Criciúma, de forma voluntária. As notas que ecoam pelos corredores emocionam pacientes e familiares, desaceleram o ritmo dos funcionários e levam alegria para quem dedica alguns instantes para ouvir.
Continua depois da publicidade
Formado em 1963 pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, o médico chegou em Criciúma cinco anos depois, com residência em pneumologia. Morou por quase seis meses no hospital com a esposa e a filha, onde foi chefe do serviço de clínica médica até 2015. Nos últimos anos, conseguiu diminuir o ritmo profissional, e tem dedicado parte do seu tempo ao prazer do voluntariado.
— Sempre tinha vontade de tocar, mas não tinha tempo. Aqui no hospital as pessoas lidam com muitas alegrias, como o nascimento de um bebê, mas também com tristeza e dor. A música relaxa, acalma, ajuda a passar por esses momentos — defende o médico.
O piano vindo da Alemanha, que hoje reina absoluto no saguão do hospital, ficou por anos esquecido em um refeitório. Passou por uma reforma que durou oito meses, e depois de restaurado, ganhou lugar de destaque. "Fascinação", de Elis Regina, "She", do britânico Elvis Costello e até trechos do musical "O Fantasma da Ópera" atraem olhares e ouvidos curiosos.
— Você fica no quarto, sozinho, deprimido, e ouvir uma música assim acalma a alma. A gente fica tranquilo, dá um ânimo, parece que o dia passa mais rápido — elogia o motorista Leandro Moisés Neves, 35 anos, que faz tratamento contra o câncer desde janeiro.
Continua depois da publicidade
Entre um paciente e outro, médicos e enfermeiros também conseguem parar alguns minutos para apreciar o som. Na ala oncológica há cinco anos, Bruna Martins lida todos os dias com histórias difíceis. Toda vez que acompanha um paciente durante as apresentações do Dr. Albino, recebe um dose extra de energia.
— A gente está sempre correndo, cuidando dos outros, e quando ouve a música parece um freio. Faz a gente parar, respirar, sentir aquele momento, e perceber que é um cuidado também com a gente, que dedica a vida a cuidar do outro — resume.