Os nomes de novas espécies animais são criados a partir de características físicas e um segundo nome que, em muitos casos, são em homenagem a uma pessoa. No caso do último pterossauro descrito pela equipe de Mafra, Keresdrakon é a junção de “Keres” que, pela mitologia Grega, eram espíritos que personificavam a morte violenta, e “drakon”, que no grego antigo é a palavra para dragão ou “enorme serpente”. Já “vilsoni” tem uma explicação mais sentimental: foi uma homenagem ao comerciante aposentado Vilson Greinert, 73 anos.

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Vilson já tinha 51 anos quando descobriu a paleontologia. Ele era presidente da CDL de Mafra e Rio Negro quando as discussões sobre as paralisações da construção de uma nova empresa por causa da descoberta de fósseis dividiram a cidade e, por isso, começou a visitar o local para entender o que estava acontecendo. Uma escama de peixe mudou todos os anos a seguir.

– Eu não via nada, para mim aquilo não significa nada. Então bati em uma rocha e encontrei essa escama de peixe. O doutor Luiz Carlos me explicou o que era, me mostrou as características. Aí comecei a encontrar os peixes e fui para a literatura para entender mais – conta ele.

Aposentado já descobriu centenas de fósseis em seu trabalho voluntário
Aposentado já descobriu centenas de fósseis em seu trabalho voluntário (Foto: Salmo Duarte)

Vilson não se afastou mais da paleontologia. Agora, já aposentado, ele dedica todas as horas livres para colaborar nas pesquisas. Além de visitar os sítios paleontológicos para as coletas de campo, ele é o responsável pela preparação dos fósseis, separando os sedimentos incrustados para permitir que os pesquisadores façam os estudos.

– Para nós, é a pessoa que mais prepara fósseis. É a parte mais legal, mas ela demanda muito tempo e o pesquisador não consegue ficar escrevendo seus artigos porque tem que estar preparando a peça. Muito do trabalho que a gente desenvolveu foi porque tínhamos ele ajudando a preparar, e vêm pesquisadores de outros lugares com peças para ele preparar – conta Luiz Weinschütz.

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Foi essa dedicação que fez com que a equipe decidisse que era justo que a nova descoberta levasse o nome de Vilson, já que foi ele que, com suas pequenas ferramentas, “tirou” este pterossauro da rocha para que pudesse ser estudado. Mas ver seu nome na placa de identificação do mais recente destaque do Museu da Terra e da Vida não é o que enche o mafrense de orgulho: o que faz seus olhos brilharem é contar como os cientistas brasileiros estão produzindo conhecimento com sua ajuda.

O paleontólogo João Ricetti, por exemplo, está na Alemanha estudando uma espécie de barata de 299 milhões de anos encontrada em Mafra. Ela já foi encontrada em outros lugares e descrita há quase 20 anos, mas os fósseis encontrados no Norte de Santa Catarina têm até mesmo o tecido muscular preservado, o que surpreendeu até mesmo os paleontólogos alemães.

– Fui eu que a encontrei – suspira Vilson, com os olhos se enchendo de lágrimas – Se eu morresse hoje, morreria muito feliz, porque eu entendi como é a dinâmica do planeta onde eu vivo.

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