O choro e a tristeza por ter sido vítima de um assalto durante a Rio 2016 deram lugar à alegria e ao verdadeiro sentimento de gratidão olímpica para o voluntário joinvilense Vitor Galvani, de 23 anos, que trabalha como técnico das categorias de base do basquete de Joinville.
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Ele ajudou os atletas e a comissão técnica da seleção francesa de basquete durante os jogos a se preparar para as partidas, indo da Vila Olímpica para os ginásios de treinamento.
– Eu não consigo ficar parado em uma quadra de basquete. Sempre estava ajudando, perguntando se queriam que eu pegasse os rebotes. Estava sempre ajudando. E a maioria das pessoas, em vez de oferecer, chegava pedindo autógrafos ou outras coisas – diz o joinvilense.
O momento que transformou a relação deles foi no dia seguinte ao assalto sofrido por Victor. Quando ele estava numa das estações de BRT (veículos de transporte rápido) do Rio, um adolescente se aproximou e tomou o telefone celular da mão dele. Outros dois levaram a mochila.
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– Um deles disse que estava com uma faca, mas eu não acreditei. Ainda corri atrás. Mas desisti quando ele me apontou a faca. Não sei nem de onde ele tirou a faca. Estava descalço e só de bermuda – disse.
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Galvani chorou muito e passou a noite muito triste. O celular era usado para se comunicar com a família e a namorada, em Joinville, e para fazer buscas rápidas na internet e ajudar os jogadores e a comissão técnica da França com as perguntas que eles sempre faziam sobre o Brasil, os jogos e o Rio.
Na manhã seguinte, os integrantes da comissão técnica da seleção francesa perceberam que o rapaz não estava bem e o questionaram. Galvani contou o que havia ocorrido a um dos integrantes da equipe técnica, mas não esperava que sua história chegaria aos jogadores e toda delegação.
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Agradecido pelo trabalho do joinvilense e tocado pela situação, o principal jogador da equipe, o armador Tony Parker, que joga no San Antonio Spurs, dos Estados Unidos, disse que daria um telefone celular a Galvani.
– Eu disse que não precisava. Mas ele respondeu que era um presente e presente não se nega.
Parquer é tetracampeão da NBA, mais importante liga de basquete do planeta e ídolo de Galvani.
– Eu ficava olhando ele e os outros jogadores na TV e tentava imitá-los na quadra. E, agora, estava diante dele e recebendo a promessa de um presente. Pensa?! – diz.
No dia seguinte, Parker deu uma mochila cheia de presentes a Galvani: fone de ouvidos, uniformes, uma garrafa…
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Mas o maior presente que Galvani ganhou foi a atenção e o carinho do ídolo.
– Eu chorava muito logo depois de receber a mochila. Mas nunca vou esquecer os dez minutos em que ficamos conversando no caminho para o local do treino. Ele me perguntou tudo sobre meu trabalho. Ele não acreditava que eu tinha viajado de Joinville para o Rio para trabalhar sem ganhar nada e ajudá-los – explica.
Dois dias depois, ele foi chamado pelo grupo no meio da quadra e ficou preocupado.
– Achei que tinha feito algo errado. Eles começaram a dizer que tinham uma punição para quem chega atrasado, veste o uniforme errado ou faz alguma coisa errada. É a caixinha, e todos têm de depositar algum dinheiro. No fim, eles saem pra jantar ou fazem alguma coisa juntos.
Mais uma vez, a atitude dos jogadores emocionou o voluntário. Eles decidiram doar todo o dinheiro da caixinha para o joinvilense, em agradecimento ao trabalho, à maneira como ele se comportou durante os jogos, sempre se dispondo a trabalhar, ajudar, colaborar com a equipe. A comissão técnica também presenteou o voluntário de Joinville com uma quantia em dinheiro.
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De acordo com Galvani, o dinheiro era suficiente para viajar de volta a Joinville de avião.
Fã e seus ídolos se despediram com a desclassificação da equipe nas quartas de final dos jogos. Mas o joinvilense recebeu um convite da equipe técnica para conhecer a base dos treinamentos na Franca.
– Quero muito ir. Os caras são sensacionais. Seres humanos incríveis, que demonstraram muito espírito olímpico – diz.