Toda quinta-feira de manhã Seu Werner está em frente à Biblioteca Municipal de Blumenau, pontualmente às 8h. Aguarda a chegada dos primeiros funcionários, entra no prédio, sobe o lance de escadas de madeira e toma seu posto em uma mesa no segundo andar, no Arquivo Histórico cidade. Durante uma hora, ali será o lugar que ele se reencontrá com o passado.
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Fotografias e memórias são momentos gravados no tempo. A primeira congelada em um fragmento, a outra viva e em constante mudança com a vida. Ambas, no entanto, se completam e reacendem décadas passadas ao ajudar a contar histórias e evitar o esquecimento. Semanalmente a memória de Werner Reimer encontra as fotos de Hans Raun e, juntas, contam parte da história de Blumenau.
Aos 76 anos, o contador aposentado assumiu o novo posto de trabalho em outubro de 2017. Após a morte da esposa, dois anos atrás, ele começou um mergulho no passado. Primeiro, reviveu as memórias sobre o pioneiro motoclube de Blumenau, fundado nos anos 1950 pelo pai, e escreveu um artigo publicado na revista Blumenau em Cadernos. Apaixonado por motos e carros, Werner começou a botar no papel as memórias sobre a história automobilística na cidade, até que recebeu a tarefa que hoje cumpre.
A diretora de Patrimônio Histórico da Fundação Cultural de Blumenau, Sueli Petry, já conhecia Werner e viu nele a pessoa certa para um trabalho. No ano 2000 a família do fotógrafo Hans Raun doou ao Arquivo Histórico todo o acervo de negativos dos anos 1960. Milhares de fotos tiradas de pessoas, lugares, imóveis, acontecimentos e tudo mais. Raun, que Werner lembra com clareza que “tinha um estúdio fotográfico em cima do Cine Blumenau, Rua XV, número 1477, primeiro andar”, fotografou passo a passo a mudança de Blumenau nos anos 1950 e 1960, época da verticalização da cidade.
Os milhares de negativos deixados por Raun tinham apenas poucas palavras que marcavam – em alemão – a ocasião em que cada foto foi tirada. Desde 2000 em um armário no acervo, os arquivos já estavam quase se perdendo enquanto ninguém identificava as imagens. Ali estava o trabalho de Werner. Uma estagiária da Fundação Cultural digitaliza as imagens e no computador o aposentado vai, uma a uma, identificando pessoas, locais e histórias congeladas na tela. Quando necessário, ele busca a lista telefônica e tira dúvidas com algum conhecido da época, mas quase tudo vem da memória.
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– O que me vem a mente sobre uma foto, escrevo. Detalhes sobre o que interpreto sobre a foto, as pessoas que estão nela, o que havia naquele local, o que lembro. Tenho uma memória muito boa, nasci e cresci em Blumenau e naquela época todo mundo se conhecia, a cidade ainda era pequena – conta o senhor de fala clara, olhar atento e uma memória de dar inveja.
Entre janeiro e fevereiro, Werner já identificou quase 7 mil fotos de diferentes momentos e lugares de Blumenau. Material que agora é catalogado no acervo e não corre mais o risco de cair no esquecimento.
“Os detalhes estão vivos”
Werner Reimer viveu a vida inteira em Blumenau. Cresceu na região que hoje é o bairro Victor Konder e trabalhou muito tempo na empresa do pai, que consertava canetas tinteiro. Trabalhou também por vários anos em uma concessionária da Ford, até estudar Contabilidade e abrir o próprio escritório – que hoje é comandado pelo filho. Teve duas esposas e nos últimos anos se dedicava a trabalhos sociais através da igreja com a falecida mulher
– Eu me sinto útil, porque posso beneficiar uma pessoa que quer encontrar alguma informação do passado. É difícil achar alguém que vai reconhecer tudo, até porque o Hans anotou tudo em alemão. Morei a vida toda em Blumenau e os anos 1950 e 1960 estão bem vivos na minha cabeça. Eu me lembro de detalhes.
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