*Por Gretchen Reynolds
Existe algum problema em retomar o treinamento atlético, mesmo que você tenha recebido resultado positivo para a Covid-19 ou suspeite que tenha sido infectado? Duas novas declarações de especialistas em pneumologia e cardiologia, publicadas separadamente nas revistas "The Lancet" e "JAMA Cardiology", sugerem cautela.
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As novas declarações apontam que a questão, sempre espinhosa, de quando atletas lesionados ou doentes podem retornar aos treinos está mais complicada agora, já que os efeitos no corpo causados pelo novo coronavírus em curto e longo prazo permanecem desconhecidos. Assim, os autores das novas declarações estabelecem avaliações e protocolos experimentais ideais que atletas doentes ou que ficaram isolados em casa por um tempo devem completar antes de retomar os treinos extenuantes. Eles também destacam alguns sintomas preocupantes que podem suscitar novas preocupações no futuro.
Até agora, é claro, quase todos reconhecemos que o condicionamento físico não é garantia contra a Covid-19. Maratonistas, ciclistas de competição, jogadores profissionais de basquete e outros atletas estão entre os muitos que contraíram o vírus, e alguns supostamente desenvolveram doenças graves. Outros inúmeros atletas podem ter sido infectados, mas, por não apresentarem sintomas, não perceberam que carregavam o vírus.
Muitos desses atletas agora podem se sentir prontos para retomar a rotina de treinos pesados. Mas os critérios habituais de retorno às atividades atléticas depois de uma doença provavelmente não se aplicam a alguém que foi infectado com o coronavírus, disse o dr. James Hull, pneumologista esportivo do Royal Brompton Hospital, em Londres, e coautor da nova declaração publicada na "The Lancet" sobre atletas e coronavírus.
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Segundo ele, desde a década de 1990 os médicos de medicina esportiva geralmente confiam na "verificação do pescoço" para decidir se um atleta com problemas respiratórios deve treinar. Se os sintomas estiverem confinados, em geral, à cabeça – ou seja, acima ou no pescoço, como coriza, dor sinusal e dor de garganta –, normalmente o atleta deve receber autorização para treinar e jogar.
Mas o novo coronavírus preocupa os pneumologistas esportivos, em parte porque, em algumas pessoas, a doença pode parecer benigna a princípio e depois migrar rapidamente para baixo, comentou Hull. "Devido a essa trajetória potencial, é importante que, ao contrário do que as pessoas fariam com uma infecção viral normal, como um resfriado, elas não se exercitem enquanto apresentarem sintomas, principalmente nos sete primeiros dias", explicou o médico.
Em vez disso, ele e outros pneumologistas aconselham que os atletas que receberam resultado positivo para o coronavírus ou suspeitam estar infectados descansem, não se exercitem, por pelo menos dez dias a partir do momento em que sentirem os sintomas. Depois, supondo que a infecção permaneça moderada, eles devem continuar descansando por mais uma semana, mesmo após os sintomas desaparecerem.
Esse protocolo é conservador, mas está alinhado com uma nova opinião consensual sobre atletas, o coronavírus, o exercício e o coração publicada na revista "JAMA Cardiology", com o apoio do Conselho de Cardiologia de Esportes e Exercícios da Faculdade Americana de Cardiologia.
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Os cardiologistas se sentiram compelidos a publicar essa declaração em parte porque o novo coronavírus às vezes parece ter efeitos inesperados e perigosos no coração, mesmo entre atletas robustos, disse o dr. Jonathan Kim, cardiologista esportivo da Universidade Emory, em Atlanta, que escreveu as novas recomendações juntamente com o dr. Dermot Phelan, do Sanger Heart & Vascular Institute, em Charlotte, na Carolina do Norte, e o dr. Eugene Chung, da Universidade do Michigan.
Segundo Kim, na maioria das infecções respiratórias virais, talvez um por cento dos infectados desenvolvam problemas cardíacos relacionados. Mas há indícios de que os infectados com o coronavírus podem ter uma incidência muito maior de problemas cardíacos, embora os riscos reais sejam difíceis de avaliar, uma vez que ainda há muitas dúvidas a respeito do vírus.
Mesmo assim, ele e seus colegas cardiologistas sugerem, assim como os autores do artigo da "The Lancet", que atletas e pessoas que praticam exercício de forma comprometida e que receberam resultado positivo para o vírus, mas com sintomas leves ou inexistentes – ou que podem ter sido infectados e não fizeram testes –, fiquem em casa e descansem por pelo menos duas semanas a partir da data dos primeiros sintomas ou do resultado positivo do teste. Esse também é o período de autoisolamento exigido pelas diretrizes de saúde atuais após qualquer possível exposição ao vírus.
Depois de pelo menos duas semanas descansando em casa e assumindo que os sintomas melhoraram, os especialistas aconselham o retorno lento às atividades físicas, observando atentamente os sintomas. "Você pode ter uma tosse leve e uma falta de ar mínima ao retornar ao esporte agora", explicou Hull. Esses sintomas, no entanto, devem diminuir dia após dia. Se eles não desaparecerem ou se você apresentar um chiado no peito ou falta de ar, "procure seu médico para que ele examine seu peito", aconselhou o pneumologista, ou agende uma teleconsulta.
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Kim concorda. Para a maioria dos atletas que passaram semanas em casa se recuperando do vírus, os primeiros treinos podem parecer ruins, já que qualquer efeito remanescente do vírus pode combinar com a perda de condicionamento físico geral. É normal, portanto, que haja algum desconforto. Mas, se você sentir um aperto no peito considerável ou crescente ou novas palpitações cardíacas, pare de se exercitar, entre em contato com seu médico e discuta se você deve fazer testes cardíacos, recomendou o médico.
Qualquer atleta que tenha sido hospitalizado ou tenha ficado de cama por conta do vírus provavelmente precisará de exames pulmonares e cardíacos detalhados e autorização médica antes de se exercitar novamente, prosseguiu.
Para nós, no entanto, que somos praticantes casuais, que não contraímos o vírus e tampouco ficamos doentes durante essa pandemia, caminhadas, corridas, pedaladas e outras atividades continuam sendo seguras e desejáveis, desde que mantenhamos o distanciamento social adequado e usemos máscara facial, é claro, explicou Kim. "É uma boa ideia ter cautela agora, mas se exercitar ainda é uma das melhores coisas que você pode fazer por sua saúde."
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