A padaria que o empresário Anderson Francisco da Rosa administra há 22 anos no bairro Bela Vista, em São José, mal tinha superado as altas contas de energia elétrica de janeiro e já terá um custo a mais a partir deste mês. Em maio, a tarifa pelo serviço passa da bandeira verde para a amarela. Por isso, volta a ter a cobrança de um valor adicional de R$ 1 a cada 100 quilowatt-hora (leia mais abaixo).
Continua depois da publicidade
O que mais consome energia elétrica na padaria da família Rosa é o forno, que fica ligado 14 horas por dia. Em janeiro, a conta saltou do valor médio de R$ 3,7 mil para R$ 5,1 mil – valor 38% maior. Um peso e tanto para o orçamento do negócio. O valor vinha diminuindo nos últimos meses e voltando ao patamar normal.
– Agora que estávamos ficando mais contentes, que a conta estava voltando ao normal, vem uma dessa. A venda se mantém estável, não cresce nessa proporção, o que aumenta é a despesa. O que acontece é que assim precisamos repassar algo para o produto, principalmente o pão – projeta Rosa.
Em outra padaria no Centro de Florianópolis, a conta de luz alta chegou a motivar a compra de um novo forno elétrico mais moderno para diminuir a despesa. Em nota, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que o acionamento da bandeira amarela ocorre porque maio é o mês de início da estação seca nas principais bacias hidrográficas nas regiões de produção e transmissão de energia do país.
Desde dezembro do ano passado a conta de energia elétrica no país estava com a bandeira verde – quando não há acréscimo na tarifa. Novembro foi o último mês em que a tarifa teve sinalização amarela. O adicional de bandeira amarela, de R$ 1 por 100 quilowatt-hora, pode não representar o maior dos impactos nas contas. Segundo a Celesc, o custo extra significa uma alta média de 1,5% em uma conta média de uma casa ou apartamento de três quartos (consumo de 450 Kw/h ao mês).
Continua depois da publicidade
No entanto, no ano passado, de junho a outubro, a tarifa teve a bandeira vermelha patamar 2, R$ 5 a mais a cada 100 quilowatt-hora, o valor mais alto da escala. Se as bandeiras repetirem o histórico do último ano – o que é possível porque elas se baseiam na condição climática – a conta de luz pode ter uma elevação ainda mais significativa no próximo mês. O que inspira cuidados desde já.
– A bandeira tarifária busca capturar uma receia para esse custo extra com o uso das termelétricas e, ao mesmo tempo, também sinaliza ao consumidor que a energia está mais cara e que é preciso economizar – alerta o assistente da diretoria comercial da Celesc, Vanio Moritz.
Economia que vira palavra de ordem em domicílios como os do administrador Wilson Vieira, 46 anos. O morador de Florianópolis diz que a incidência das bandeiras deixa, sim, a conta mais salgada. Aí não tem jeito: a saída é optar por medidas como apagar todas as luzes da casa à noite, diminuir a duração dos banhos e pedir mais cautela às mulheres da casa no uso de aparelhos como chapinha e secador de cabelos.
Contratos no mercado livre garantem impacto menor na indústria
No setor da indústria, a maior parte das empresas de médio e grande porte compra energia no chamado mercado livre, diretamente com os geradores de energia, a preços pré-fixados. Por isso, fica livre das oscilações de preço de bandeiras amarela ou vermelha. No entanto, quem tem consumo menor e compra energia no chamado mercado cativo, o mesmo dos consumidores residenciais, acaba sentindo os reflexos dessas altas sazonais na conta.
Continua depois da publicidade
É o caso da Gabriella Revestimentos Cerâmicos, de Criciúma. O gerente de produção, Rodrigo Luiz Gonçalves, explica que a empresa utiliza gás natural na queima da cerâmica, mas que a energia elétrica é utilizada para o uso dos equipamentos usados na movimentação das peças e nas outras etapas de fabricação. A companhia não tem estimados os custos a mais que a bandeira amarela pode representar, mas admite que eles podem impactar nesse período, que é considerado de alta produção.
O presidente da Câmara de Energia da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Otmar Muller, analisa que mesmo com casos pontuais como os do setor cerâmico, o impacto é baixo sobre a indústria pela adesão ao mercado livre. Ele também acredita que a bandeira tarifária não é exatamente um vilão da questão energética. Na avaliação dele, esse posto é ocupado pela carga tributária.
– Hoje na tarifa média da Celesc 38% são impostos ou encargos que vão ao governo federal ou estadual. O vilão maior é esse peso dos nossos governos, que impõe esse ônus aos consumidores – defende.
No comércio, o aumento da energia com a mudança das bandeiras é encarado como mais um agravante para os empresários levarem em conta na hora das decisões.
Continua depois da publicidade
– Com a bandeira amarela é possível ter um aumento de 10% nos custos das empresas. Os empresários vão precisar fazer ajustes na alocação de recursos de modo a não ter que repassar esse aumento de custo ao consumidor – aponta o presidente da Fecomércio-SC, Bruno Breithaupt.
Geração própria de energia pode ser saída para escapar das oscilações

Para compensar os efeitos da alta na bandeira, um caminho costuma ser economizar energia, mas essa receita nem sempre é tão fácil de aplicar na indústria, que precisa continuar sendo produtiva. Assim, uma saída para escapar das oscilações do mercado de energia é a geração própria por parte de empresas e até consumidores domésticos.
Muller afirma que essa atitude pode ajudar na falta de investimento na geração e que o retorno tem sido cada vez mais rápido.
– Muitas empresas pequenas, de comércio e serviços também, têm adotado a energia fotovoltaica e às vezes, em regiões mais rurais, até as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Essa é uma alternativa importante. Claro que exige um aporte inicial, mas por outro lado em curto espaço de tempo você se livra totalmente da conta de energia – analisa.
Continua depois da publicidade
Quem aderiu recentemente a esse formato foi a Segala’s Alimentos, do Vale do Itajaí. A empresa pertence a um mercado, dos atacadistas e distribuidores, que precisam de muita energia para manter alimentos refrigerados 24h por dia, e que consequentemente sofre mais com as altas na energia.
O sócio-diretor Alexandro Segala, que também é presidente da Câmara Frigorificada da Associação de Distribuidores e Atacadistas Catarinenses (Adac), conta que há duas semanas a empresa concluiu a instalação de placas para energia solar no teto da empresa. A empresa passou a estudar essa possibilidade após perceber a alta no preço da energia. Apesar do pouco tempo, a empresa já chegou a produzir energia excedente, que é distribuída à rede e revertida em crédito junto à concessionária.
– Com a energia solar, as mudanças de bandeiras tarifárias não vão nos gerar a dor de barriga que iriam provocar caso não tivéssemos instalado as placas. O investimento não é barato, mas quando fizemos a conta de que a economia pagaria a parcela e sobraria um pouco, foi o momento de investir no negócio – conta.
Entenda as bandeiras tarifárias
As bandeiras indicam o custo da energia elétrica, de acordo com a quantidade de chuvas na região das usinas geradoras. Quando há menos chuva, as usinas hidrelétricas, que respondem pela maior produção da matriz energética no Brasil, geram menos energia. Então é preciso recorrer em maior volume às termelétricas, que utilizam combustíveis e têm custo de geração mais alto. A diferença é cobrada na forma de um valor adicional conforme a bandeira.
Continua depois da publicidade
Bandeira verde
Condições favoráveis de geração de energia. A tarifa não sofre nenhum acréscimo.
Bandeira amarela
Condições de geração menos favoráveis. A tarifa sofre acréscimo de R$ 1,00 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
Bandeira vermelha – Patamar 1
Condições mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 3,00 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumido.
Bandeira vermelha – Patamar 2
Condições ainda mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo de R$ 5,00 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumido.
Fonte: Aneel