Em março de 2020, após o surgimento dos primeiros casos de Covid-19 em Santa Catarina, o Estado suspendeu as aulas nas redes pública e particular de ensino. Inicialmente com duração de 30 dias, a suspensão foi prorrogada constantemente até perto do fim do ano letivo, em novembro. Em meio ao clima de medo e de poucas informações sobre as consequências do novo coronavírus, escolas tiveram que aderir a novos sistemas, pais assumiram um papel inédito na educação dos filhos e os alunos trocaram a carteira escolar pelo computador de casa.
Continua depois da publicidade
> Saiba como receber notícias do NSC Total no WhatsApp
Os professores começaram o ano com incertezas e acabaram protagonistas de um período que ficou para a história. Mesmo aqueles que já estavam acostumados com novas tecnologias tiveram que se adaptar e se reinventar. Um desafio ainda maior no país onde esses profissionais têm o menor prestígio na sociedade, segundo o índice global da organização Varkey Foundation, que traz dados de como 42 mil pessoas de 35 países avaliam a carreira docente.
> Volta às aulas: retorno cauteloso e preocupação com o contágio
O Brasil é o país que pior avalia os professores – em uma escala de 0 a 14, o status da carreira de professor tem nota 5. O prestígio tende a aumentar em países nos quais os estudantes possuem um melhor desempenho em sala de aula.
Continua depois da publicidade
Ainda assim, a pandemia reforçou a importância do docente não só no processo de aprendizagem mas também na formação de pessoas, já que exigiu dos professores a habilidade de trabalhar questões socioemocionais dos alunos. Segundo Fabiana Paez, coordenadora pedagógica e de qualidade educacional da Escola S, integrada por SESI e SENAI, percebe-se um movimento de valorização do papel do professor:
— Ao longo do ano passado, começamos a perceber pais valorizando ainda mais o papel do professor, em manifestações publicadas em mídias sociais, enviadas por e-mail para a escola, em cartas e declarações de agradecimento. Senti o crescimento de um olhar de maior valorização, e com certeza nós temos hoje uma sociedade mais consciente do papel do professor — defende a coordenadora.
A rápida transformação tecnológica exigida pela pandemia também impulsionou o surgimento de um novo profissional de ensino. Sem as interações da sala de aula que permitem compreender e interpretar o aluno, o docente teve que criar um novo jeito de educar por meio de telas e câmeras.
— Nunca imaginamos que nós poderíamos fazer uma educação básica sem ser presencialmente, por conta da origem da essência desse serviço que é a educação, cuja premissa são as relações sociais. Então no ano passado teve um movimento muito forte de formação de professores, tanto pelas instituições de ensino quanto pelo próprio professor, que entendeu que teria que investir em seu autodesenvolvimento. Em 2021, ele já está mais preparado para os novos desafios — explica Fabiana.
Continua depois da publicidade
> Volta às aulas em SC: como as escolas atuam para a retomada das atividades presenciais
— Todas as mudanças que vieram com a pandemia já eram esperadas pelo meio educacional. Mas nós fomos forçados a acelerar o processo. Foi um momento de união entre os professores, de tirar uma roupa antiga e colocar uma nova, não só em termos de tecnologia mas também na parte pedagógica — relembra Saionara de Fátima Almeida Ramos.
Ela é professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa do Ensino Médio da Escola de Educação Básica Mater Dolorum, em Capinzal, uma escola-piloto do Novo Ensino Médio em Santa Catarina. O modelo tem uma carga horária ampliada, currículo dividido em áreas do conhecimento e focado em ajudar o aluno a desenvolver competências e habilidades. Segundo a professora, as formações pelas quais os docentes vinham passando para se preparar para o novo modelo auxiliaram na hora de enfrentar os desafios da pandemia e do ensino remoto.
> Confira o calendário completo da volta às aulas na rede estadual de SC

Para Saionara, que chegou a se fantasiar de Carlos Drummond de Andrade e de cangaceiro para abordar obras da literatura brasileira nas aulas remotas e atrair a atenção dos estudantes, a expectativa em 2021 é trabalhar não apenas os conteúdos previstos na grade curricular, mas também o lado emocional do aluno.
— Meu planejamento vai focar bastante no acolhimento ao aluno, vamos trabalhar o que ele passou no ano passado e os desafios que ele vai ter esse ano, para que ele se sinta seguro e apoiado. 2020 foi desafiador, mas muitos alunos nos surpreenderam. Alguns que não conseguiam se expor em sala de aula se soltaram pelo meio virtual, por exemplo. Muitos estreitaram os laços. Alunos e professores foram parceiros na construção da educação — comenta.
Continua depois da publicidade
A professora acredita que, apesar de os docentes já estarem habituados às tecnologias e mais bem preparados para encarar o ensino híbrido, nenhuma tecnologia supre a saudade de estar perto dos alunos:
— O desejo maior é voltar e ter contato com eles. Eles nem imaginam o quanto. Sentimos muita saudade de olhá-los, de ouvir as brincadeiras, as piadinhas. No último ano, percebemos a falta que isso faz — finaliza.
Leia mais:
> Volta às aulas em SC terá escolas em formato presencial, on-line e misto; entenda os modelos