Utis possidetis é um antigo princípio do direito romano que determina que as pessoas que ocupam um território são as que realmente têm posse sobre ele. Não tão antigas como esse conceito, mas igualmente importantes para a história de Florianópolis, são as fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim, São José da Ponta Grossa, Santo Antônio de Ratones e Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba. Se a capital do Estado existe como a conhecemos hoje, é devido à ação militar, comercial e alfandegária dos fortes, e também da imigração açoriana que povoou a ilha.

Continua depois da publicidade

A primeira e maior corrente migratória para o que hoje é Florianópolis foi de famílias açorianas, que vieram a pedido do militar, engenheiro e administrador colonial português José da Silva Pais. Com o objetivo de povoar a região, produzir alimento para as tropas que aqui se instalavam e, eventualmente, contar com a força dos jovens filhos dos casais que vinham dos Açores para cá, Silva Pais — idealizador do projeto das fortalezas e primeiro governador de Santa Catarina —, iniciou a vinda das famílias açorianas e, até 1756, estima-se que mais de 6 mil emigrantes tenham vindo para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Fortalezas de Florianópolis se transformam em espaços de cultura e educação

Roberto Tonera, arquiteto da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do projeto “Restauração das Fortificações Catarinenses” junto ao BNDES, explica que o mapa do Brasil é desenhado por fortificações, tanto no litoral quanto nas fronteiras a oeste.

— Nosso país é pontilhado por essas construções, que ajudavam a garantir a posse efetiva do território. As fortalezas são exemplos de um princípio que os exércitos usam até hoje, demonstrar sua força não para fazer guerra, mas para evitá-la.

Continua depois da publicidade

O chamado “triângulo de fogo” é formado pelos fortes e Santa Cruz de Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Santo Antônio de Ratones. Localizados, respectivamente, na ilha de Anhatomirim (Governador Celso Ramos), Ratones Grande e na Praia do Forte (Florianópolis), as construções foram feitas pelos portugueses para conter os avanços militares do exército espanhol que, em 1777, invadiu e ocupou a região. 

— Se não fossem as fortalezas, talvez hoje nós falássemos espanhol em Florianópolis. Os espanhóis ficaram aqui por um ano e, por meio de tratados diplomáticos, a ilha foi devolvida aos portugueses.

No entanto, as fortalezas não possuíam apenas funções militares. O forte de Anhatomirim, o maior e primeiro a ser construído, ainda em 1739 — era, inclusive, conhecido como “fortaleza capitânia”, por coordenar todas as outras — servia também como posto de registro de todas as embarcações e pessoas que passavam pela região, vindas tanto do norte quanto do sul, como posto alfandegário e de controle de doenças. Em uma época em que males como cólera, tifo e febre amarela poderiam dizimar uma vila inteira, era necessário fazer períodos de quarentena e tratar os doentes antes que eles desembarcassem na então Desterro.

Conheça empresa paranaense que tem expandido em SC

Em Ratones Grande, a Fortaleza de Santo Antônio de Ratones teve sua construção iniciada em 1740. Esse era o local para onde iam as pessoas com casos mais agravados. 

Continua depois da publicidade

— Lá havia um ‘lazareto’ que servia de espaço para aqueles que precisavam de isolamento. As doenças da época não tinham cura, remédio ou vacina. Poucos se salvaram — conta Tonera.

Fortificações arruinadas

Além das fortalezas que estão sob a administração da universidade e dos fortes Santana e Santa Bárbara, a região de Florianópolis teve ainda outras edificações que hoje já não existem mais ou das quais sobraram apenas as ruínas. Exemplo disso é o Forte São João, no Estreito: tombado pela Fundação Catarinense de Cultura, já não estava em boas condições à época da construção da ponte Hercílio Luz, em 1926, e foi aterrado para a obra. Ele havia sido construído em 1776, um ano antes da invasão espanhola, e os mapas espanhóis do período mostram essa fortificação.

A magia que molda a história de Florianópolis ainda respira

Outro forte, já mais recente, é o Marechal Moura. Datado de 1909, é uma construção brasileira, diferentemente dos outros que foram erguidos ainda pelos portugueses. Localizado ao lado do Farol dos Naufragados, era um forte de artilharia, protegendo a região de navios e submarinos que passavam pela parte sul da ilha.

— Havia dezenas de fortificações na região que hoje é a Avenida Beira-mar Norte, e alguns foram encontrados acidentalmente em trabalhos de urbanização da cidade na década de 1990 — diz Tonera. 

Continua depois da publicidade

De acordo com o especialista, é preciso saber onde há potencial arqueológico

— No entanto, não podemos mais encontrar coisas acidentalmente… Em frente ao Beiramar Shopping, há uma praça onde ficava o antigo Forte São Luís, por exemplo. Nós sabemos onde ficavam essas edificações, podemos georreferenciar, e é necessário um acompanhamento.

Saiba mais acessando o canal Floripa Faz Bem no portal do Nsc Total.

Câmeras veiculares ajudam a tornar as viagens mais seguras

Cresol incentiva o protagonismo feminino

Joinville que queremos: A Notícia promove debate sobre futuro do município