Sartori conta que visitou o aluno na delegacia na quarta-feira e fez reuniões com os professores para estruturar um plano para receber os alunos e lidar com o choque da situação a partir de segunda-feira, quando a instituição retoma as aulas.

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DC – Qual será a programação para retomar as aulas?

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Anderson Sartori – Desde segunda-feira os alunos do Ensino Médio estão sem aula. Estamos estruturando um momento de recepção para receber os alunos na próxima segunda. Nós vamos fazer várias reuniões para definir os últimos detalhes, pra ver como o psicólogo vai trabalhar e outras atividades mais que os professores farão em sala de aula. Não só na segunda-feira, mas um acompanhamento semanal pelo resto do ano letivo. A gente está pensando em, além do acompanhamento padrão que a gente já faz com eles, estruturar alguns momentos da semana para fazer atendimentos individualizados aos alunos. A gente está analisando também a possibilidade de reestruturar o calendário letivo de final de ano.

DC – Você foi visitar o aluno quando ele estava na delegacia?

Sartori – Fui na quarta-feira de manhã. Fui levar uma documentação que o delegado havia solicitado e aproveitei para conversar com ele. Nesta quinta-feira ele foi removido para o Casep de Criciúma. As reações dele foram muito próximas do que ele é. Eu fiquei com ele uns 20 minutos. No tempo em que eu fiquei sozinho com ele, sem a presença do policial, ele conversou mais. Ele estava bastante abatido. Eu não perguntei como aconteceu, como processou o fato, mas os porquês. Tentei conversar sobre isso com ele. Ele estava bastante abatido, preocupado, até perguntou pela família, pela mãe do menino que acabou falecendo. Então a gente vê que ele está bastante transtornado. Uma frase que ele já falou para uma servidora que foi vê-lo outro dia é que fisicamente ele está bem, mas está psicologicamente bastante abalado. É bastante trágico ver um jovem nessa situação que ele está, apreendido. Conversei com ele, que está meio sem saber o que vai fazer daqui pra frente. É bem chocante a situação toda.

DC – Além do abatimento físico, você notou alguma diferença nele?

Sartori – Não. Até para o pessoal que perguntou como ele estava, eu disse “é o mesmo menino que a gente via no dia a dia”. Quieto, tranquilo, calmo. Sempre com o olhar baixo, ele sempre tinha um pouco de vergonha de olhar pra gente enquanto conversava. É quase a mesma pessoa. Você não vê que agora ele está diferente.

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DC – Como era a sua relação com ele?

Sartori – Eu fui professor deles por quase dois anos, fora o dia a dia na instituição. Então causa muita estranheza um menino que não tinha nenhum comportamento agressivo fazer o que fez. Isso foi mais traumático pra gente. Se fosse um menino mais agressivo, que usasse drogas, ou algo do gênero, pelo menos teria uma série de indícios que poderiam gerar isso. Como nunca teve problemas comportamentais com a gente, não teve nada disso, foi bastante impactante.