Vadinho não é muito de ficar parado. Enquanto conversa, pega papel, caneta, e fica desenhando formas geométricas em um rascunho de folha A4 onde antes estava uma nota fiscal qualquer. Tira e coloca os óculos na mesma intensidade com que respira, enquanto regula por diversas vezes a altura da cadeira de seu escritório, no 14º andar de um edifício cujo tempo perdido no elevador nunca será trazido de volta. Para os desavisados, Vadinho é Erivaldo Nunes Caetano Júnior, ou Doutor Erivaldo, como diz sua secretária, enquanto confere as contas a pagar. O advogado voltou a comandar a Fundação Catarinense do Esporte (Fesporte) e pretende terminar a gestão junto com o mandato do atual governador Raimundo Colombo (PSD). O objetivo só não será cumprido caso o PSDB, partido de Vadinho, se alie em outra conjuntura política para as eleições do ano que vem. Mas isso é assunto para outra hora. O nem-tão-novo-assim presidente da entidade falou sobre os desafios que terá pela frente, os erros cometidos na primeira passagem e as lições que ficam para o trabalho que será executado a partir de agora.
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Por que aceitou o convite e o que é possível agregar em uma segunda gestão?
Aceitei o convite porque sou homem de desafios, não gosto de deixar a caminhada pela metade. Como a minha saída na primeira passagem foi por uma questão política, achei por bem retornar. Tenho certeza que posso contribuir com toda a equipe da Fesporte, sei dos desafios da falta de recurso, das dificuldades que o esporte vive atualmente. É só ver o que ocorre com o Rio de Janeiro com obras que não são um legado e sim um “largado”. Temos convicção que o esporte tira muita gente da rua, faz bem para crianças, e por isso estamos montando uma equipe que ainda vai trazer muitas alegrias para Santa Catarina.
O trabalho ficou pela metade em sua primeira passagem?
O trabalho foi bem feito. Não diria que ficou pela metade, mas faltou dar continuidade. Infelizmente, por “n” questões não teve a continuidade que nós imaginávamos e isso me fortaleceu a voltar. Sei da capacidade e do potencial da Fesporte, e sei que ela pode oferecer muito. Temos a ideia novamente de reforçar os Jogos Abertos, que é a nossa menina dos olhos. O que antes era uma preocupação, como a sede de eventos, não existe mais. Já temos três candidatos para 2018: Criciúma, Tubarão e Palhoça. Isso é gratificante.
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Em 2013, a Fesporte liberou verba para basquete, handebol e até para o Metropolitano. É possível fazer isso de novo?
Possível é, mas nós temos que encontrar mecanismos para isso. Houve uma série de problemas em nível nacional que motivou o governo a criar a lei 13.019, que veda uma série de situações. Para se ter ideia, se hoje eu tivesse dinheiro na Fesporte e quisesse fazer uma parceria com o handebol, basquete ou com o Metropolitano, não conseguiria. Não tenho dispositivo legal para isso. Nosso maior desafio é encontrar o caminho para que essas situações sejam feitas. Não vejo como ainda, mas tem que haver uma possibilidade, caso contrário o esporte vai falir. Repito: não sei como, mas vamos em busca de uma solução para isso.
O atleta é desconfiado, e muitos questionam o fato de Vadinho não ser um esportista. O que o senhor pode dizer a respeito desse assunto?
Necessariamente você não precisa de um atleta hoje para ser um gestor. O gestor nada mais é do que um administrador. E eu me julgo um administrador, até pelo meu currículo. Já fui coordenador do Procon em Blumenau, já fui presidente do Metropolitano, já fui secretário da Casa Civil. “Ah, ele não conhece do esporte”. Não sou esportista, não sou um atleta, mas não vejo qualquer problema nessas questões, tanto é que se assim fosse no futebol só teríamos jogadores como treinadores. Mas sabemos que não é assim. Não vejo esse problema. Vejo a necessidade de que um profissional que assuma um cargo estude e se inteire a respeito dele.
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Onde o senhor acha que errou na primeira passagem pela Fesporte?
Sou muito afoito. Talvez tenha errado em algumas situações por querer resolver muito rápido. No poder público não é assim. No Metropolitano é mais fácil, porque você manda, determina, paga o que quer, resolve. Já no poder público é mais difícil. A começar pela montagem do grupo. Você tem que aceitar muito as questões políticas, indicações, então existe a dificuldade. Você quer fazer uma coisa bonita e não tem tempo por conta das licitações. Você quer ajudar projetos lindos como o da Apama, mas não consegue. Isso causa uma certa frustração. Esse talvez tenha sido meu erro. Agora essa segunda passagem vai me permitir pinçar, com a consciência que não é possível apoiar todo mundo.
No Metrô o senhor saiu no meio do mandato. Quer voltar para lá também?
O Metrô é minha paixão. É claro que vou voltar, mesmo que tenha restrição em casa (risos). Digo isso para todas as pessoas que me perguntam. Não sei se vai ser daqui a dois, quatro ou 10 anos, mas tenho esse sonho. Nesse momento como sócio e membro do conselho deliberativo, me cabe fazer uma coisa: desejar sucesso à atual diretoria, dar apoio em tudo que estiver ao meu alcance e torcer para o meu time. Essa é a função de um ex-dirigente.