*Por Ben Dooley and Hisako Ueno

Tóquio – Rieko Kawanishi é a primeira a admitir que a máscara carregada de pérolas que criou não é a defesa mais eficaz contra o novo coronavírus: “É cheia de furos”, disse ela, rindo.

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Mas a máscara feita à mão, que ela recomenda usar sobre uma máscara normal, reflete uma súbita explosão de atenção criativa dos mundos da moda e da tecnologia para um produto humilde que se manteve praticamente inalterado por décadas. “Depois da pandemia, havia tantos lugares onde, pela primeira vez, era absolutamente necessário usar máscara. Só pensei: ‘Quero fazer algo elegante'”, comentou Kawanishi.

À medida que o vírus continua sua propagação implacável, com regras sobre o uso da máscara sendo reforçadas em muitos lugares no mundo todo, os consumidores estão começando a exigir mais das coberturas faciais que vão resguardar sua respiração em público durante o futuro próximo. Em resposta, as companhias e os estilistas inundaram o mercado com alternativas às máscaras cirúrgicas comuns descartáveis, que estimularam Kawanishi a fazer algo.

Os inventores criaram máscaras com purificadores de ar motorizados, alto-falantes Bluetooth e até mesmo higienizadores que matam os germes ao aquecer a máscara (que, com alguma sorte, não queimará o rosto do usuário) a mais de 93 graus Celsius. Na Coreia do Sul, a gigante de eletrônicos LG desenvolveu uma máscara alimentada com bateria e com ventiladores embutidos que tornam a respiração mais fácil.

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(Foto: Noriko Hayashi / The New York Times)

Nas butiques, máscaras estampadas estão aparecendo em manequins, elegantemente combinadas com vestidos de grife. Um empresário indiano pagou US$ 4.000 por uma máscara customizada feita de ouro. E uma figurinista francesa encheu seu Instagram com designs fantasmagóricos, apresentando de tudo, desde pterodátilos até pernas de bonecas. “O coronavírus tem estimulado uma rápida evolução na tecnologia da máscara”, analisou Yukiko Iida, especialista em máscara do Centro de Controle Ambiental, uma empresa de consultoria na capital japonesa.

“Quando existe demanda, o mercado reage rapidamente. As pessoas estão usando máscara o dia todo, dia após dia. Por isso, estamos vendo melhorias, como a facilidade de uso e de comunicação”, acrescentou ela, citando uma máscara com a parte frontal transparente, o que permite ver as expressões faciais de quem a usa.

A necessidade de inovar tem sido formidável no Japão, onde a máscara já era amplamente difundida mesmo antes da pandemia, usada para aquecer o rosto ou protegê-lo do pólen, do vírus da influenza ou do olhar indesejado de estranhos.

Enquanto a maioria das pessoas no país ainda usa máscaras cirúrgicas brancas e baratas, algumas estão começando a abandonar a ideia de que a máscara é um produto de uma cara só, algo que você compra em uma loja de conveniência, usa algumas vezes e depois joga fora.

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(Foto: Noriko Hayashi / The New York Times)

Taisuke Ono, diretor executivo de uma startup de tecnologia, a Donut Robotics, prevê um mundo em que as pessoas podem ter de usar máscara em viagens ao exterior pelos próximos dez anos ou mais. Se isso se confirmar, elas exigirão que sua máscara faça mais do que protegê-las dos vírus.

Sua empresa está criando uma máscara que combina as funções de walkie-talkie, secretária particular e tradutor. Ela pode gravar a voz do usuário, projetando-a para o smartphone de outra pessoa – algo ainda melhor para o distanciamento social – ou fazendo a tradução do japonês para uma variedade de outros idiomas.

“A pandemia tornou isso possível. Mesmo que você fizesse algo assim antes, ninguém investiria, e você não teria como vender. Agora, o mercado global cresceu várias vezes”, observou ele, salientando que seu protótipo tem gerado atenção da mídia e enorme interesse de investidores no Makuake, uma versão japonesa do Kickstarter. “Mesmo depois que a pandemia terminar, as pessoas continuarão usando máscara porque têm medo”, acrescentou.

Embora não esteja claro se essas máscaras audaciosas vão cair no gosto dos consumidores, uma inovação tem sido um sucesso: revestimentos faciais com tecidos de alta tecnologia que aparentemente proporcionam conforto ou proteção superior.

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À medida que as temperaturas do verão boreal se elevam, máscaras feitas com materiais para manter os usuários refrescados estão em alta demanda. As pessoas que têm usado máscaras de tecido reutilizável – incluindo aquelas enviadas pelo governo japonês a todas as residências do país – estão descobrindo que elas não são adequadas para o calor e a umidade do verão na região central do país, e menos ainda para Singapura ou Hong Kong.

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(Foto: Noriko Hayashi / The New York Times)

A Toyoshima, uma empresa comercial com sede em Nagoya, começou a coletar fundos para fabricar uma máscara de náilon de padrão militar em meados de abril. Ela arrecadou mais de US$ 1,2 milhão – 13 mil por cento acima de seu objetivo.

“Os clientes revelaram que queriam uma máscara altamente eficiente, e com mais opções de cores, mas que também fosse elegante. As máscaras não deram muito lucro, mas a empresa começou a produzi-las, em parte, por sentir que era uma responsabilidade social”, comentou Koki Yamagata, que lidera as iniciativas de financiamento coletivo da companhia, enquanto usava uma versão branca, que está à venda por cerca de US$ 50, em uma chamada via Zoom.

Para alguns fabricantes de roupas, confeccionar máscaras tem sido uma necessidade, já que as vendas no varejo desaceleraram consideravelmente, uma vez que os consumidores estão ficando em casa. “Muitas fábricas não tiveram muito que fazer por dois ou três meses, por isso estão se perguntando: ‘Por que não fazemos máscaras de tecido?'”, disse Kensuke Kojima, consultor de produtos para a indústria da moda. Esses produtores japoneses entraram em um mercado que conheceu apenas mudanças graduais ao longo das décadas, como máscaras com cores diferentes ou com revestimento para proteger a maquiagem.

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Embora os profissionais da área médica usem máscara de um tipo ou de outro há séculos, se não há milênios, as máscaras conhecidas hoje em dia foram desenvolvidas, pela primeira vez, no fim do século XIX, para uso em cirurgias.

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(Foto: Noriko Hayashi / The New York Times)

Elas foram empregadas pela primeira vez para combater as epidemias do início do século XX, quando Wu Lien-the, um médico descendente de chineses, promoveu a máscara feita de gaze simples como um método eficaz na luta contra o surto da peste pneumônica em uma parte da região nordeste da China, conhecida como Manchúria.

Quando a gripe espanhola surgiu em 1918, a prática de usar máscara ganhou o mundo pela primeira vez. Embora a máscara não tenha demorado a cair em desuso na maioria dos países, o governo japonês continuou incentivando seu uso no combate a doenças comuns como a gripe, observou Christos Lynteris, médico antropólogo da Universidade de St. Andrews, na Escócia.

A onipresença da máscara cirúrgica no Japão, que habitualmente é confeccionada de material sintético não tecido, ou TNT, subiu e caiu ao longo dos anos, à medida que o país enfrentava diferentes problemas de saúde e crises sanitárias.

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Nos anos 90, a máscara se tornou uma defesa popular contra nuvens de pólen sazonais criadas por árvores de crescimento rápido, como o cipreste, plantadas em todo o país para constituir uma fonte de madeira barata. Em 2011, depois do desastre nuclear de Fukushima, os estoques de máscara caíram porque os consumidores temiam uma precipitação radioativa. E, nos anos seguintes, o aumento drástico da poluição na China levou a uma procura maior, principalmente no inverno.

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(Foto: Noriko Hayashi / The New York Times)

Mas, mesmo no Japão, foi preciso uma pandemia para levar a venda de máscaras à estratosfera. O abastecimento era tão escasso, no início, que as pessoas faziam fila de madrugada para comprar uma caixa.

Meses depois, há máscaras em abundância, e as lojas em Harajuku, meca da moda jovem, vêm aumentando a exposição delas de maneira proeminente. Na Rua Takeshita, as vitrines estão decoradas com máscaras que vão de divertidas (caras de animais de pelúcia) a inspiradas no punk (tiras de couro cravejadas de pontas e alfinetes).

“Embora esse tipo de máscara esteja na moda, o comprador deve ficar atento e escolher uma que atenda aos padrões nacionais. Outras máscaras não se destinam ao uso contra infecções; se sua prioridade é prevenir infecções de forma confiável, elas não vão proteger sua vida. Além de usar uma, você também deve manter um distanciamento social seguro”, explicou Kazunari Onishi, especialista em doenças infecciosas da Escola de Graduação em Saúde Pública da Universidade Internacional de St. Luke, em Tóquio.

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