No dia 14 de janeiro deste ano, o jornal “A Notícia” recebeu uma mensagem de uma mulher indignada por ter levado advertência no trabalho. A empresa não gostou da forma como ela conduziu o relacionamento com o namorado dentro das dependências da companhia. Ela colocou:
Continua depois da publicidade
– Se a empresa vem até o funcionário e proíbe você de conversar, de dar as mãos e de abraçar, a partir do momento em que ambos estão dentro do local de trabalho, isto deveria valer para todos os funcionários e não somente para um casal (…). No meu caso, meu namorado e eu não trabalhamos juntos. Ele apenas passava pela minha área na hora do café e, no máximo, duas vezes para conversa rápida, e nunca isso interferiu no nosso trabalho (…) Levei advertência e quase fomos mandados embora – afirma a funcionária.
Para analisar a delicada situação de relacionamento no trabalho, Negócios & Cia. entrevistou o escritor e coach Gustavo G. Boog, que atua na área de desenvolvimento pessoal e organizaconal e conduz projetos de temas comportamentais. Para ele, o critério básico das organizações é o desempenho, ao passo que o critério básico dos relacionamentos (família, amizade e namoro) é o amor.
– Esses dois critérios, se misturados, costumam trazer sérios problemas – afirma.
Confira entrevista com o especialista Gustavo G Boog
Continua depois da publicidade
Negócios & Cia. – O que aparece com mais frequência nos códigos de conduta das empresas no que se refere a contratar ou não alguém que já tenha relacionamento com um funcionário?
Gustavo G. Boog – Relacionamentos amorosos no trabalho, quer seja um namoro, um casamento, uma relação pai-filho ou irmão-irmão, costumam ser permitidos, desde que não haja relação de subordinação (chefe-subordinado) e não haja relação de interdependência direta (por exemplo, uma pessoa na tesouraria e outra em compras). As organizações variam muito suas políticas a esse respeito, havendo situações em que parentes e amigos podem ser indicados para vagas existentes, não podendo haver pressões para influenciar a admissão, promoção, transferência, prêmios ou demissão desses profissionais. Ou é possível a contratação de parentes de empregados, desde que não haja relação de subordinação entre parentes de primeiro grau.
N&C – Quais as vantagens e desvantagens de permitir ou proibir o relacionamento entre funcionários?
Boog – A principal vantagem de permitir é o fato de que as relações de amizade podem facilitar o desempenho, numa relação de ajuda, além de criarem uma grande relação de dependência dos envolvidos para com a empresa: os dois dependem 100% da organização. A desvantagem é a eventual mistura de desempenho com amor. Creio que problemas sérios podem surgir em relacionamentos extraconjugais, que também podem acontecer, criando situações constrangedoras no ambiente de trabalho. Por exemplo, um chefe, casado, tem relações amorosas com uma funcionária de sua área. Em geral, quando isso se torna conhecido, os dois costumam ser demitidos. A situação fica mais séria quando esse chefe é o dono da empresa.
Continua depois da publicidade
N&C – E quando os dois já são funcionários e resolvem iniciar o relacionamento?
Boog – Isso deve ser informado à empresa com a maior brevidade possível. Se houver hierarquia envolvida ou áreas interdependentes, deve haver uma transferência de área de um dos dois ou, então, o afastamento de um dos dois. Outra dificuldade é quando ocorre um rompimento de um namoro ou uma separação num casamento, e os antigos parceiros não se suportam mais, afetando o ambiente de trabalho e o desempenho. O afastamento em alguns casos pode ser mandatório.
N&C – Que orientações podem ser dadas às empresas que não têm uma política oficial a respeito?
Boog – A recomendação é a diretoria definir uma política que seja consistente com as estratégias e valores da empresa e, principalmente, assegurar que ela seja aplicada de forma contínua e sem exceções.
N&C – Que cuidados os funcionários devem ter em relação ao nível de exposição do relacionamento? Demonstrações de carinho, por exemplo, podem gerar problemas?
Continua depois da publicidade
Boog – O ambiente de trabalho é dirigido por desempenho e, nesse ambiente, demonstrações de carinho não são recomendadas. O que acontece fora do ambiente diz respeito apenas aos envolvidos. Deve haver um cuidado especial em momentos festivos da organização, em comemorações ou happy hours.
N&C – Como o funcionário pode se assegurar de que o relacionamento com alguém do trabalho não vai ameaçar seu emprego?
Boog – Lembrar-se sempre de que trabalho é trabalho, e que relações amorosas devem ocorrer fora dele.
Regras comportamentais devem ficar claras na contratação
A forma de se vestir ou de se comportar é parte importante da identidade de alguém. Mas será que é possível levar todo o estilo pessoal para dentro do ambiente de trabalho? Não há uma resposta única para a questão. Cada companhia tem um nível diferente de rigidez em relação à imagem, ao comportamento e aos relacionamentos dos funcionários. Saber o que a sua empresa aceita ou não evitará conflitos, problemas na ascensão da carreira e o ajudará a encontrar um lugar que combine com seus valores e estilo.
Continua depois da publicidade
O chefe de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego de Santa Catarina, Roberto Lodetti, explica que as normas comportamentais variam muito de empresa para empresa e, infelizmente, nem sempre ficam claras durante o processo de recrutamento – acabam esquecidas diante de outros assuntos de maior interesse das partes, como salário, benefícios e as qualificações do candidato.
Tatuagem, cabelos coloridos, homens de brinco e esmalte de cores fortes são algumas das preferências individuais corriqueiras que homens ou mulheres levarão naturalmente para dentro da empresa caso não sejam alertados pelo empregador.
– Independentemente do nível de rigidez da organização, o que importa é que o profissional tenha conhecimento das regras na hora da contratação. O empregador deve informar e cabe ao candidato perguntar – afirma o fiscal.
A boa notícia é que são raros os casos de restrição total – a maioria das empresas não tem regra. No entanto, Lodetti alerta para algumas situações que podem exigir normas especiais. Ele cita o caso de indústrias de tecnologia avançada. Preocupadas com o segredo industrial, elas tendem a ter normas que restringem as situações de parentesco ou relacionamento entre funcionários para evitar o vazamento de informações.
Continua depois da publicidade
No ambiente fabril, as normas de segurança falam mais alto. Certamente, o trabalhador vai se deparar com regras rígidas quando opera máquinas, como não usar cabelo comprido, acessórios e até mesmo aliança.
– Já atendi a um caso em que o trabalhador se esqueceu de recolocar a aliança no fim do expediente e levou uma bronca da mulher em casa. Depois disso, ele não queria mais tirar a aliança durante o trabalho – recorda Lodetti.
Preocupação com a imagem
Quando a função exige que o profissional tenha contato com o público externo, há uma preocupação maior em relação à imagem que o profissional vai transmitir, já que ele estará representando a empresa naquele momento. Roberto Lodetti, do Ministério do Trabalho, aconselha ao candidato a vagas desta natureza a perguntar o que a empresa considera conveniente ou não. Estabelecimentos do varejo tendem a ter alguns padrões, mas isto não vale para todos. Ele já encontrou ambientes ecléticos, como uma loja de departamento na qual a única exigência padrão era o uso do uniforme.
A mesma pessoa também pode mudar de estilo com o decorrer da vida. Para quem trabalha há muito tempo na mesma empresa, fica uma dica do fiscal: antes de surpreender os colegas do escritório com uma mudança radical, troque uma ideia com o chefe. Aqui, não se trata do que é certo ou errado, mas se a empresa concorda em associar sua imagem àquele novo visual perante o mercado.
Continua depois da publicidade
Seja qual for o ramo de atuação, vale o velho conselho dos especialistas: os candidatos devem procurar informações sobre a futura empresa e, uma vez lá dentro, observar as pessoas e conhecer as políticas internas.