Bruno Watté

Diretor de Gestão e Marketing da UniSociesc

O Brasil todo acompanhou, no último domingo, a votação do processo de impeachment da presidente Dilma. Segundo o Ibope, a audiência das tevês abertas foi 25% superior à média de domingos anteriores. Apesar de ter clareza a respeito da importância deste debate para o futuro do País, gostaria de convidá-los a colocar uma luz no personagem Eduardo Cunha, condutor do processo.

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Tendo acompanhado de perto toda a votação -recheada das mais pitorescas manifestações -, saí com a sensação de que Eduardo Cunha ganhou, nos discursos dos votantes, pelo menos tantas menções quanto as dadas à presidente Dilma. Uma clara demonstração do protagonismo deste personagem para o processo em curso.

Dias antes, em entrevistas concedidas ao jornal Estado de S. Paulo e ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ex-deputado Roberto Jefferson afirmava que Eduardo Cunha era o seu “bandido predileto”. Uma expressão no mínimo curiosa, mas que se alinha ao protagonismo a que me referi antes e que nos leva à reflexão. Que características são essas que fazem dele tão odiado por seus adversários e, ao mesmo tempo, tão admirado por seus aliados?

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Vou deixar fora dessa reflexão a extensa lista de acusações criminais que pesam contra ele, pois me parece não haver nisso muito o que refletir. Há certo consenso de que ele cometeu atos ilícitos e merece ser responsabilizado por isso. Mas há, em sua atuação profissional, uma série de qualidades e de virtudes que chamam a atenção.

Se esse artigo fosse um relatório de entrevista, e eu um recrutador para uma vaga executiva, alguns pontos de seu perfil não me escapariam: em primeiro lugar, a competência técnica. Eduardo Cunha é exímio conhecedor do regimento interno da Câmara e, mesmo não tendo formação em direito, estudou como poucos e é capaz de debater o tema com os mais experientes funcionários de carreira da casa.

Soma-se a isso uma enorme competência de liderança, ancorada numa visão clara de futuro e numa capacidade de articulação e relacionamento interpessoal que impressiona. Cunha é capaz de transitar nos mais diferentes grupos, articular-se e construir fortes alianças ao redor de suas ideias.

E, por fim, um nível de autoconfiança e racionalidade na dose certa, sem os excessos que poderiam transformá-los em armadilhas. Essa autoconfiança, somada a um foco em resultados, o faz perseguir seus objetivos com vigor e levá-los à conclusão. Não estariam nos faltando mais políticos e profissionais empreendedores e competentes como ele?

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Não estaríamos em outro nível de debate a respeito do futuro de nosso País se pudéssemos ficar apenas com esse lado “sol” do Eduardo Cunha e fôssemos capazes de apagar seu lado “sombra”? É uma pena que seja impossível.