Quem a conheceu sabe que realmente era linda! Seu nome foi escolhido pelo pai, uma homenagem à cidade em que ele acabara de aportar, no dia do nascimento da menina, 6 de maio de 1901. Faltaram-lhe palavras que explicassem a beleza da cidade. Tratou de enviar um cabograma – meio de comunicação na época – onde relatou o desejo de que sua filha se chamasse Olinda.

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Assim aconteceu. Cresceu à beira-mar, em sua cidade natal, brincando e mergulhando em areias brancas e macias. Cercada de muitos irmãos e muitas histórias contadas em prosa e verso, tons e semitons, impostando a voz para dar realidade aos fatos. Nós, crianças, ouvíamos embevecidas, muitas vezes com lágrimas e um nozinho na garganta. Lembro-me de duas: Boneca de Pano e O Menino e o Mar. Só voltou a ver o mar de sua infância e juventude depois de ter tido seus nove filhos, ou seja, 20 anos depois. Matava a saudade olhando as nuvens no céu, que dizia serem a espuma do mar. À noite, as estrelas eram as luzes dos barquinhos dos pescadores. Era na janela da escada, sentados nos degraus, que ficávamos com a minha amada e querida vó Linda! Lá, olhando para o infinito, aprendi, ouvindo-a rezar, que as orações mais belas eram as que vinham do coração. Nunca a vi derrotada, cuidava de tudo sozinha, cantando dia e noite, arrastando o chinelo no verão e o tamanco no inverno. Quando eu lhe perguntava o porquê do tamanco, ela prontamente me explicava que aquelas pancadinhas aqueciam-lhe os pés.

Com ela conheci o leite da “barboleta”, isso mesmo, com “a”. Era essa justificativa quando o leite acabava, pois nós, crianças, não podíamos tomar café sem leite. Outro episódio inusitado era quando cortava a fatia do queijo de forma que fosse suficiente para todos, colocando-a contra a luz para ver se estava fina o bastante para ver Laguna. Todos queriam pegar suas fatias, desmontando os lanches, para também avistar a cidade. Como isso não acontecia, ela dizia que só ela podia ver. Na casa dela tudo era mágico, não havia sofás em que não pudéssemos sentar, nem cortina rendada e almofadas que nossas mãos empoeiradas não pudessem tocar. Tínhamos uma janela cinematográfica, onde muitas vezes éramos os protagonistas. Quanta saudade da minha querida e inesquecível Vó Olinda!