Se muitos já não acreditavam que o Vlad V teria interesse em liberar um novo disco em tempos onde a música autoral encontra tantas dificuldades para atrair um público que já não sabe mais o que quer, a banda de Blumenau lança Stratovladis, sexto disco de inéditas cuja abordagem se esquiva do padrão que muitos dos velhos fãs estão acostumados.

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O embrião do Vlad V remete ao final dos anos 1980, para na década seguinte cravar definitivamente o nome na história do rock’n’roll de Santa Catarina. Capitaneado pelo multi-instrumentista e vocalista Jean Carlo – devidamente amparado pelo veterano Flavinho Theilacker (bateria) –, seus discos mantiveram um elevado padrão na palatável fusão do hard rock, progressivo, blues e MPB. A coisa estava tão promissora que alguns de seus álbuns foram lançados no exterior e a banda se aventurou temporariamente por São Paulo e Rio de Janeiro. Mas é em território catarinense que permaneceu relevante.

Passaram-se 10 anos desde o lançamento de Siga o Som – na esteira vieram uma coletânea, um disco de covers e o baixista Pablo Demarchi. Desde 2009 Jean já vinha alardeando a vontade em gravar um disco orientado pelas guitarras, mantendo alguma distância da faceta progressiva que caracteriza suas obras. Pois bem, o tempo passou e a vontade ficou, inclusive estampada no título pra lá de bem sacado: Stratovladis, em alusão à clássica guitarra Stratocaster.

Então, que venham riffs e solos! Jean pode não investir tanto nos costumeiros agudos, mas este é um álbum focado no hard rock setentista, honesto e significativo, equilibrado entre a crueza que caracteriza o estilo e o refinamento emocional que o Vlad sempre impôs em seus arranjos.

Se Dia Vagabundo é um single cujo acento pop destoa, o resto do repertório se mantém espesso e carnudo, tanto que a matadora Cidade Nua, Estrada Vazia e a instrumental Stratovladis certamente constarão nas apresentações ao vivo. O repertório também revisita Montanhas do Sul (do álbum Viagens Acústicas) – aqui aparece a infalível flauta – e também Asas de um Louco (do debut de 1993), com um excelente solo de guitarra. E vale citar a versão para House Of The Rising Sun, clássico do The Animals.

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Fiel a si mesmo, o Vlad V adentra a terceira década provando que o peso da idade não interferiu negativamente na hora de compor. Popularidade pode ser um fator decisivo na sociedade de massa, mas o talento, meus caros, sempre será o elemento que definirá o poder de permanência de uma obra. Muito bom, nem pense em deixar passar! lml

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(Foto: Vlad V / Divulgação)

Vlad V: Stratovladis

2017 / Independente

01. Cidade Nua

02. Estrada Vazia

03. Chuva de Outono

04. Devaneio Blues

05. Ponta da Vigia

06. Montanhas do Sul

07. Asas de Um Louco

08. House of the Rising Sun

09. Dia Vagabundo

10. Stratovladis

*Ben Ami Scopinho está há mais tempo em Floripa do que passou em sua terra natal, São Paulo. Ilustrador e designer no DC, tem como hobby colecionar vinis e CDs de hard rock e heavy metal. E vez ou outra também escreve sobre o assunto.