Abandonado pelo pai há cerca de 10 dias, um homem de 26 anos com deficiência mental que foi trancado em uma quitinete no Bairro Monte Cristo, em Florianópolis, sobrevive com o apoio de vizinhos. Eles se revezam para levar café da manhã, almoço e jantar. Os alimentos são repassados por uma janela.
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O rapaz passa o tempo assistindo televisão, ouvindo rádio e brincando de ser policial. Sensibilizados com a situação, dois vizinhos foram até a Delegacia de Capoeiras registrar boletim de ocorrência às 11h59min da última sexta-feira. Ouviram do plantonista que nenhuma providência poderia ser tomada por falta de viatura. A solução ficaria só para segunda-feira, quando os turnos de trabalho voltariam às escalas normais e haveria pessoal para o serviço.
O diretor regional de Polícia Civil da Grande Florianópolis, delegado Ilson Silva, disse que esse tipo de situação não pode ocorrer. Há carros, plantonistas, equipe de investigação e delegados para serem acionados. Ele afirmou que o caso será analisado nesta segunda-feira, e se for confirmado, a corregedoria será acionada.
Enquanto a Polícia Civil não age, o rapaz permanece sozinho e reclama de saudades do pai. Neste domingo ele foi encontrado com uma camisa nas mãos e explicou que queria sentir o cheiro do homem que o abandonou. O rapaz também confeccionou um boneco do pai. Confessou ainda, que não é a primeira vez que isto acontece.
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O rapaz contou que tem uma irmã que mora perto do estádio Orlando Scarpelli, no Bairro Estreito. Ele gostaria de mudar para casa e assim ser melhor tratado.
:: Rapaz passa os dias sozinho, mas pai nega abandono
Sem companhia, o rapaz com deficiência mental passa o dia vendo TV, ouvindo rádio e brincando de policial. E a brincadeira inclui uma fantasia de policial militar. Ele costurou pedaços de papelão para fazer um colete e não esqueceu dos detalhes. Uma caneta simula a antena do rádio que vai no ombro e tem até pistola de papel.
Um boné velho tem o verde, vermelho e branco do original e a manga de uma camisa um quadrado que simula a bandeira de Santa Catarina. O homem diz que é cabo, mas que logo vai ser integrante do Bope.
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A habilidade manual também aparece num pequeno boneco de plástico. O rapaz colocou chapéu e pochete, acessórios sempre usados pelo pai. Mas a habilidade com as mãos pode ser um problema. Certo dia, o deficiente foi flagrado esquentando água para cozinhar arroz. Foi orientado pelos vizinhos a não cozinhar mais porque estava recebendo comida.
Os vizinhos até pensaram em retirá-lo da quitinete. Teria de ser pela janela que serve para entregar comida porque o pai levou a chave. Desistiram porque ele está adaptado ao local. Sabe onde estão as roupas e tem uma rotina. O homem toma banho, veste o pijama à noite e mantém a casa em ordem.
Mas não significa que a vida é diversão e o boneco é prova disso porque representa um sentimento bem diferente. Vizinhos relatam que ao levar comida no domingo encontraram o rapaz com uma camisa nas mãos. Ele contou que pertence ao pai e estava ali para sentir o cheiro dele porque estava com saudade. O homem conta que gostaria de viver com a irmã que mora perto do Estádio Orlando Scarpelli.
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O pai negou que tenha abandonado o filho. Disse que o convidou para ir junto a São José, mas o convite foi recusado. Sétimo argumentou que leva comida com frequência, embora admita que não aparece na quitinete desde quinta-feira. Ele declarou que o abandono foi uma invenção do rapaz e classificou os vizinhos como fofoqueiros.