Maria e João cederam aos insistentes apelos das crianças e foram, finalmente, conhecer um parque aquático. Há anos prometiam este passeio aos filhos, mas sempre achavam uma boa desculpa para postergar até o verão seguinte. Agora não tinha mais como. Entrando na adolescência, os filhos com certeza muito em breve já não vão querer mais fazer programas em família, pois a companhia dos amigos da mesma idade será muito mais interessante.

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Aproveitaram uma manhã de tempo nublado e acordaram os filhos bem cedinho. Colocaram numa sacola grande tudo o que achavam que iriam precisar: protetor solar, bonés, garrafinhas de água, boias de braço para a menorzinha, alguns lanches mais saudáveis e perto das 9h já estavam na estrada. As crianças não cabiam em si de contentamento e expectativa. Elas só conheciam parque aquático pela tevê e na tela do Ipad. Foram dos primeiros a chegar ao parque e a fila ainda estava pequena.

Pagaram e foram direto ao vestiário. Depois de muito protetor solar e de várias recomendações para terem cuidado, os dois maiores correram para os tobogãs mais altos, junto com o pai. A mãe, claro, ficou com o coração aos pulos, cuidando da bebê, sentada à sombra. Seus filhos pareciam pontinhos pretos lá no alto do escorregador. Ela nem quis olhar. Tinha certeza de que iriam se machucar. Mas que nada, foram uma, duas, dez vezes. Subiam e desciam.

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João e as crianças começaram a insistir para que a mãe também escorregasse lá de cima. O filho mais velho disse que tomaria conta da irmãzinha. Maria relutou o quanto pôde, mas no fundo tinha muita vontade de tentar também. Até que a curiosidade venceu o medo e ela foi. Desceu o tobogã mais radical, sem nem pensar muito para não desistir. A sensação foi incrível. Ou melhor, as sensações: da descida rápida e de ter vencido o medo e encarado o desafio. Depois de um dia de muitas brincadeiras, voltaram exaustos para casa. As crianças dormiam emboladas no banco de trás do carro. João dirigia escutando música, enquanto Maria sorria, intimamente, pela sua conquista. Há muito tempo ela não se sentia tão poderosa.

* O colunista Clóvis Reis volta a escrever no dia 28 de janeiro