Eram duas amigas, inseparáveis durante toda a adolescência. Onde uma ia, podia contar que a outra estaria junto: na escola, no cinema, nos barzinhos, nos acampamentos de verão, nas danceterias. Até os planos para o futuro eram os mesmos: depois da formatura na universidade, iriam morar um tempo no exterior para aperfeiçoamento. Só então namorariam sério, casariam, teriam filhos e continuariam morando pertinho uma da outra, para o resto da vida.

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Cresceram assim, sempre grudadas. Namoravam somente meninos que também fossem amigos, para que pudessem continuar fazendo os mesmos programas. No tempo da faculdade, a rotina mudou um pouco, já que cada uma escolheu uma profissão diferente para o futuro. Nas horas de lazer, entretanto, permaneciam sempre juntas.

Até que, um belo dia, uma delas – justamente a que disse que nunca se casaria – decidiu ficar noiva do colega de faculdade, com quem já namorava havia mais de um ano.

– Você aceita ser minha madrinha? – perguntou radiante à amiga.

– É claro que sim – respondeu, afinal, não é todo o dia que tem casamento de melhor amiga.

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Os meses seguintes foram de muitas novidades: escolheram juntas os vestidos (de noiva e de madrinha), a compra dos móveis, o enxoval, a decoração da nova casa. Até no dia da cerimônia as duas foram juntas para o salão de beleza. Antes de entrar na igreja, renovaram o pacto de amizade eterna.

Somente dias depois do casamento é que caiu a ficha: a dupla havia se desfeito, sem que elas tivessem se dado conta. Os programas já não eram mais os mesmos. A amiga casada tinha agora novas responsabilidades, e o marido não gostava muito que ela continuasse a sair tanto com a amiga da adolescência, a menos que ele fosse junto. Para não brigar, ela abria mão do encontro.

A amiga que sobrou sentia-se livre, leve, solta e…sozinha.

Independência

Nesse caso, tão comum de acontecer, há dois tipos de reação: ficar deprimida por não ter mais a companhia constante das amigas ou simplesmente tocar a vida, criando uma nova rotina e dando um belo grito de independência.

Foi o que ela fez. Terminou a faculdade, inscreveu-se em um programa de intercâmbio na Espanha e mudou-se para Madri, onde pretendia ficar um ano. Fez novos amigos – tantos que decidiu nem voltar para passar o Ano Novo com os pais, já que lá teria uma festa de arromba – aprendeu uma língua nova, viajou muito pela Europa. Não casou, mas tem uma vida movimentadíssima, conhece praticamente o mundo inteiro e aparece cada vez com um namorado novo.

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Voltou dia desses à cidade natal e encontrou a amiga de infância rodeada pelos filhos, marido, problemas financeiros a resolver, casa para arrumar, empregada que faltou, matrícula na escola, trabalho a fazer… Ficou com uma pontinha de inveja, afinal, que mulher não quer ter sua própria família? Um vazio estranho doía por dentro.

No quarto ao lado, a amiga não conseguia dormir com o ronco do marido. Enquanto se revirava na cama, insone, pensava na vida boa da amiga, morando no exterior, sem compromissos mais sérios, nem satisfações a dar a ninguém…

E, quase ao mesmo tempo, as duas amigas pensaram: ah se eu pudesse estar no lugar dela nem que fosse por uma semana….